Nessa sexta-feira, 18, teve início, em Mateiros, a 2ª edição do Festival da Cultura Popular Jalapoeira. O evento, que é aberto ao público e gratuito, é organizado pelo Varandas do Jalapão e conta com patrocínio do Banco da Amazônia e o apoio do Governo do Tocantins por meio do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), responsável pela gestão das Unidades de Conservação (UCs) na região do Jalapão. O festival segue até este domingo com programação pela manhã e à noite.
Andrea Lambertucci, ativista cultural do Varandas do Jalapão, destaca que o festival celebra os saberes e tradições regionais com uma programação cultural diversa e gratuita. Moradores, artistas e turistas se reúnem para prestigiar apresentações culturais, gastronomia típica, exposições, rodas de conversa e homenagens. “Esta iniciativa fortalece o sentimento de pertencimento das comunidades locais e promove o intercâmbio cultural entre gerações, reafirmando a riqueza e a diversidade deste lugar”, declarou a organizadora.
Na Comunidade Galhão, onde ocorre o tradicional festejo com a reza da sexta-feira da paixão, Dona Amélia Pereira é a anfitriã. A reza acontece durante a noite quando recebe as rezadeiras e a comunidade em geral, tradição herdada das matriarcas da sua família que ela mantém viva aos 76 anos de idade e repassa para as novas gerações.
Neste ano, a sexta, que já é repleta de significados nas religiões cristãs, foi ainda mais especial, já que ela passou por um recente episódio de Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Estava pensando que este ano não estaria mais com os meus familiares e amigos, por isso estou alegre e satisfeita, graças a Deus. Minha mãe e avó rezavam e, enquanto eu for viva, eu vou rezar”, declarou Dona Amélia que de joelhos agradeceu a Deus pelo milagre de estar viva diante de um altar feito na sala de sua casa.
Caretas do Galhão
Ao longo da noite de sexta, nos intervalos da reza, o público se divertiu com a apresentação do artista local Domingos Dedo d’Ouro e banda num repertório com forró pé de serra. O ponto alto da festividade foi a apresentação dos Caretas do Galhão.
Os caretas da sexta-feira santa são uma manifestação cultural e religiosa típica de comunidades do Jalapão e do sudeste do Tocantins, especialmente em Mateiros, Lizarda, Dianópolis, Taguatinga e arredores. Esta tradição mistura elementos do catolicismo popular, folclore e expressões culturais locais, sendo praticada principalmente durante a Semana Santa.
Os “caretas” são geralmente homens da comunidade que se fantasiam com roupas coloridas, palhas de coco e folhas de bananeira, máscaras assustadoras ou engraçadas, chocalhos, chapéus e outros adereços fazendo barulho, correndo, gritando e às vezes dando sustos nas pessoas, principalmente nas crianças.
No Galhão, a apresentação acontece no campo de futebol. Uma corda divide o público dos caretas. Quem, do público geral, se arrisca a pular do lado dominado pelos caretas precisa se garantir na corrida.
A manifestação tem vários sentidos simbólicos como a representação do mal, o pecado e os demônios, que estão “à solta” enquanto Jesus está morto, entre a crucificação e a ressurreição. Os caretas provocam um “caos” que será vencido com a ressurreição de Cristo, no domingo.
A tradição, que mistura influências afro-brasileiras, indígenas e portuguesas, mantém viva a identidade das comunidades do cerrado e se configura como uma das expressões culturais mais autênticas e ricas do Tocantins, e, embora, não seja amplamente conhecida fora da região, tem grande valor histórico e espiritual para quem participa.
Museu comunitário
Na manhã de sábado, 19, a comunidade de Mateiros se reuniu para iniciar as atividades do Museu da Cultura Popular Jalapoeira.
O espaço do museu está estruturado numa das primeiras residências de Mateiros, construída em adobe. No local, há quadros com fotografias de manifestações culturais e religiosas do povo jalapoeiro, máquina de tear, candeeiros, pilões, cabaças, entre outros itens.
Para a diretora de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto, Perla Ribeiro, o festival é uma oportunidade de fortalecimento da identidade cultural e valorização das manifestações culturais locais. “Entendemos que fortalecer ações como esta geram o sentimento de pertencimento para a população, trazendo mais sensibilidade e a importância de residirem dentro e no entorno de uma Unidade de Conservação. Todas essas ações impactam positivamente e fortalecem a memória cultural, que contribuem para conservar o patrimônio imaterial e material da região do Jalapão”, pontuou a gestora.
Programação de domingo
A programação do último dia de festival iniciou pela manhã com o instrutor Rodrigo Cruz, que conduziu dinâmicas corporais na praça do Centro de Atendimento ao Turista (CAT). As atividades finais acontecem a partir das 17h no Complexo Esportivo, com mais uma edição da Feira Gastronômica do Cerrado, seguida por um sarau de poesias. A noite será embalada pelos acordes de Virgínia do Jalapão, com seu modão tradicional, e pelo quarteto Pé de Serra, que reúne músicos do Quilombo do Prata e Josefina do Acordeon.