Altas temperaturas e a falta de chuvas no período da florada do café, entre agosto e setembro de 2024, afetaram a produtividade na região do Cerrado Mineiro. O Guima Café, produtor de cafés especiais do grupo BMG, começou a colheita no fim de maio e espera produzir 19,5 mil sacas de café arábica nesta safra, um volume 44% menor do que o da temporada anterior.
As condições climáticas adversas também afetaram o desempenho das lavouras de produtores da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), que reúne 740 associados. A cooperativa, que estimava comercializar entre 1,5 milhão e 1,6 milhão de sacas nesta safra, agora espera um desempenho igual ou um pouco inferior ao do ciclo passado, quando negociou 1,4 milhão de sacas.
Recentemente, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), a maior cooperativa de café do mundo, com mais de 20 mil cooperados, também informou que, nas regiões onde atua — sul de Minas Gerais, Média Mogiana e Cerrado Mineiro — , as lavouras sofreram com um veranico forte no início do ano, o que deve afetar o rendimento dos cafezais. A cooperativa projeta vendas de cerca de 6 milhões de sacas neste ano. Em 2024, foram 6,6 milhões de sacas.
Segundo Bruno Siqueira Sampaio, gestor do Guima Café, de dezembro a fevereiro, os cafezais enfrentaram um veranico de 45 dias. Mas as chuvas em abril favoreceram o desenvolvimento das plantas na fase final da safra.
A produção do Guima Café ocorre na Fazenda São Mateus, nos municípios de Patos de Minas e Varjão de Minas, no Cerrado Mineiro. Somadas, as fazendas têm área de 1,3 mil hectares, dos quais 670 são de café plantado. A produção é irrigada, mas, nas épocas de seca, a captação de água nos mananciais é limitada, relata Sampaio.
Para compensar os efeitos do estresse hídrico e das ondas de calor, que ficaram mais comuns em anos recentes, o Guima Café tem investido em iniciativas como uso de plantas de cobertura entre as ruas de café, que ajudam a diminuir a temperatura do solo. Além disso, a empresa reduziu o uso de adubos químicos e está usando mais adubação orgânica.
Segundo Ricardo Oliveira, supervisor de produção agrícola da empresa, desde 2021, o Guima Café cultiva árvores com grandes copas, como cedro australiano, abacateiro, ingá de metro e fedegoso gigante, e também arbustos como erva baleeira e fedegosinho. A cada 40 linhas de cafezais, uma é de árvores e arbustos que funcionam como corredores ecológicos, atraindo abelhas, vespas e marimbondos. A produção de árvores integradas com os cafezais favorece ainda o sequestro de carbono.
A despeito da queda da produção na atual temporada, as vendas antecipadas da empresa se mantêm dentro da média histórica, de 35%, conta Sampaio.
No caso da Expocacer, em torno de 25% da safra está comprometida com vendas antecipadas, abaixo dos 30% a 40% de anos anteriores, diz Simão Pedro de Lima, diretor presidente da cooperativa. “Esta safra será caracterizada pela venda spot [no mercado físico], cujo ritmo dependerá dos preços e da necessidade de cobertura das despesas do produtor”, afirmou.
Segundo Lima, a colheita do cooperados da Expocacer está entre 12% e 15% da área plantada, ritmo similar ao do ano passado. Além da seca após a primeira florada, ainda em 2024, as lavouras dos associados da cooperativa sofreram com um segundo período de seca, entre fevereiro e março, o que afetou o tamanho e o peso dos grãos.
“Percebe-se neste primeiro momento da colheita um maior percentual de grãos moca [grãos arredondados advindos da maturação de apenas um grão por fruto, em vez de dois]”, disse. Isso deve-se à falta de chuva no período de formação dos grãos. O percentual de moca está em torno de 14%; a média histórica é de 7% a 8%.
Minas Gerais é o maior produtor de café do país. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a colheita no Estado vá diminuir 7,1% na safra atual, para 26,09 milhões de sacas.