Os longos períodos sem chuvas em importantes regiões produtoras de soja no Sul do Brasil preocupam produtores e geram incertezas sobre o desempenho da safra 2024/25. A cultura está em fase de desenvolvimento no Paraná. No Rio Grande do Sul, o plantio está sendo finalizado, e os temores só crescem com a perspectiva de as temperaturas superarem os 40°C nos próximos dias.
Em boletim de monitoramento das lavouras, do início da semana, a Conab afirmou que no Rio Grande do Sul os plantios sentem os efeitos da estiagem que já dura 40 dias em algumas regiões. No Paraná, segundo o boletim, o tempo seco afeta lavouras em fase de reprodução. Apesar disso, a Conab mantém, por ora, a previsão para a colheita total de soja no país.
Em Campo Mourão, no noroeste do Paraná, o produtor Wallace Lopes, disse ao Valor que há 20 dias não chove em suas lavouras de soja. “A minha média de produtividade é de 90 sacas por hectare, mas esta safra estou prevendo 60 sacas. Mas se não chover agora acredito que o rendimento vai cair para 30 sacas. Com as altas temperaturas, a planta ficou menor e deve perder produtividade”, afirma.
Em Cascavel, oeste do Paraná, onde o cultivo de soja alcança quase 100 mil hectares, a seca já trouxe impactos, segundo Paulo Cezar Vallini, diretor do Sindicato Rural local. Ele estima uma quebra de 10% na safra. “Em determinadas lavouras do município pode chegar a 15%”, avalia. A estimativa inicial era de uma produtividade média de 63 sacas por hectare.
Em outra área do oeste paranaense, em Palotina, a escassez de chuva também deve afetar a produção, avalia o presidente do sindicato rural da cidade, Edmilson Zabott. “Estamos em um momento preocupante em relação às lavouras de soja. A expectativa dos produtores da nossa região era colher entre 70 sacas e 75 sacas por hectare. Agora, reduzimos para 50 sacas a 55 sacas por hectare”, diz.
Segundo Zabott, pouco antes do Natal as precipitações pararam: “Justamente no período em que a soja precisa de água para o enchimento do grão, faltou chuva regular e o calor foi muito forte, fora dos padrões”.
A despeito dos relatos dos produtores, Carlos Hugo Godinho, agrônomo do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), diz que ainda é cedo para falar em possíveis perdas na produção de soja do Estado devido ao clima.
De acordo com ele, as condições das lavouras, hoje, são consideradas muito boas. “Os efeitos da seca não parecem uma preocupação no momento, uma vez que a maturação está parelha no geral”, diz. No entanto, ele admite que a situação pode mudar, pois há previsão de chuva generalizada para o Estado só a partir de 17 de janeiro.
As regiões norte e oeste do Paraná, com temperaturas mais altas e pouca ocorrência de chuvas, são as que mais preocupam. “A partir desta semana teremos um retrato melhor e é possível que haja piora das condições registradas inicialmente”, reconhece Godinho.
Soja no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, a falta de umidade atrasa a conclusão do plantio de soja. E agora as temperaturas começam a disparar.
Em regiões como a Fronteira Oeste, noroeste e norte do Estado, a ausência de chuvas paralisou o plantio que chegou a 98% da área. A Emater-RS já admite perda no potencial produtivo.
“Percorri algumas áreas do Estado e já há perdas em microrregiões que vão se expandindo a cada dia que passa sem chuva. A combinação de tempo seco e altas temperaturas afeta a umidade do solo. Isso gera dificuldade até mesmo para as áreas irrigadas”, diz Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater-RS.
Ele reforça, no entanto, que essa condição de clima está longe de ser um padrão nas lavouras gaúchas. “Na Fronteira Oeste, há lavouras com bom potencial. Em alguns lugares não chove há 40 dias, mas há aqueles em que a água caiu de forma considerável”, observa.
Em Dom Pedrito, extremo sul gaúcho, a falta de umidade ainda não levou a perdas na soja, segundo José Roberto Pires Weber, presidente do sindicato rural local. “Não chove há mais de 30 dias. Esse quadro favorece perda de produtividade, mas é prematuro afirmar que isso vai acontecer. Ainda há tempo de recuperação, desde que chova logo”, diz.
Segundo Rugeri, da Emater, o clima quente prejudica principalmente as lavouras que estão em fase de enchimento de grãos. Do total de soja semeada, 25% se encontram nesse estágio, quando a produtividade da safra é definida.
Ainda que a previsão do tempo indique a manutenção do calor, Rugeri afirma que é preciso cautela para dizer se o Estado conseguirá ou não colher a safra prevista de 21,65 milhões de toneladas.
“Estamos em um momento complicado para a evolução da safra. Mas é impossível dizer qual é o tamanho dela agora. Temos 75% com definição de produtividade em aberto, então, por mais que o cenário seja ruim, ainda há possibilidade de reação”, diz.