A ampliação da área irrigada para produção agropecuária no Brasil tem um desafio a mais: o fornecimento de energia elétrica na quantidade e intensidade necessárias para a instalação dos equipamentos nas lavouras.
Estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), feito pela Universidade Federal de Itajubá (MG) por meio do Núcleo de Pesquisa e Extensão do Instituto de Recursos Naturais (Neiru), revela déficit no atendimento energético de 2,5 gigawatts (GW) nos 16 principais polos irrigados brasileiros e a necessidade de expansão anual de 7% da infraestrutura de rede elétrica para atender a demanda por irrigação até 2040.
A CNA pontua que a produção agropecuária precisa de disponibilidade elétrica com qualidade. O objetivo do estudo foi fornecer subsídios para políticas públicas, planejamento setorial e investimentos em infraestrutura energética rural.
“Os resultados obtidos não apenas oferecem uma visão clara da situação eletroenergética atual da irrigação no Brasil, mas também servirão como ferramentas valiosas para a análise das futuras expansões”, diz o estudo.
De acordo com o Atlas da Irrigação da Agência Nacional de Águas (Ana), o Brasil tem 6,95 milhões de hectares equipados para irrigação atualmente. A projeção é passar de 10 milhões de hectares em 2030.
O estudo avaliou, por meio dos índices técnicos, a capilaridade da rede elétrica, e levou em conta tanto as subestações quanto a rede de distribuição. “Os resultados apontaram que muitas distribuidoras estão defasadas em relação à evolução das práticas de irrigação, especialmente em regiões nas quais as atividades rurais tradicionais ainda predominam”, alerta a CNA.
“A falta de infraestrutura adequada pode limitar a adoção de técnicas modernas de irrigação”, completa.
A entidade ressalta a necessidade de investimentos adicionais em energia elétrica para suportar o crescimento da área irrigada, seja na infraestrutura ou na demanda de potência.
O estudo alertou que há um déficit de 2,5 GW para 16 polos irrigados do país, lacuna que pode crescer no futuro. Em 2022, esses polos eram atendidos com, aproximadamente, 1 GW de energia elétrica. No entanto, se toda a irrigação praticada nos polos utilizasse, exclusivamente, energia elétrica, a demanda seria de 3,5 GW.
“Para 2040, a demanda equivalente eletroenergética total dos polos será de 5 GW, o que evidencia a importância do desenvolvimento de políticas públicas, tanto no setor da irrigação quanto na área de planejamento e expansão elétrica, visto a necessidade de atendimento dos irrigantes”, aponta a CNA.
Portanto, é necessário um crescimento anual da rede elétrica entre 5% e 7% até para suprir a demanda de incremento da irrigação no país. A região Norte apresentou os maiores desafios estruturais, com cobertura limitada e necessidade de expansão da rede elétrica acima de 20% ao ano para alguns Estados.
O estudo identificou uma demanda reprimida em todas as regiões com elevada concentração de agricultura irrigada, outro ponto levantado também foi a baixa qualidade ou até mesmo falta de energia no campo, ofertadas pelas distribuidoras de energia do Brasil.
O levantamento desenvolveu ainda alguns indicadores importantes para estimar os investimentos do setor elétrico em relação às demandas do agro, como o “Índice de Adensamento Rural” (IAR), que avalia a disponibilidade de rede de média tensão das distribuidoras de energia nas áreas rurais. Já o “Energia Não Suprida (ENS)” analisa os aspectos de continuidade do serviço de fornecimento de energia elétrica aos sistemas de irrigação.
De acordo com os dois indicadores, a energia que chega ao campo ainda é deficitária e não atende a contento as áreas irrigadas. “O não suprimento de energia significa falta de água nas lavouras, tempo que os equipamentos de irrigação não puderam funcionar por falta de energia, portanto, afeta diretamente a produção agrícola”, destaca o estudo.