O ex-ministro da Agricultura e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, foi escalado para ser o “timoneiro” da proposta de parceria do setor privado com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele ainda analisa possibilidades de mecanismos para viabilizar o repasse dos recursos para “financiar a ciência”, como salientou. A meta é convencer outras entidades e chegar a R$ 1 bilhão por ano.
O financiamento privado da pesquisa pública é uma tese antiga do ex-ministro. Em tentativas anteriores, a legislação impedia tais repasses e não permitiu avançar com a proposta de criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). Agora, a possibilidade é a criação de um fundo com um conselho gestor.
“Não podemos ficar pensando que o governo vai ficar a vida inteira financiando pesquisa, somos beneficiários e temos que colocar dinheiro também. Tem um defeito, pois quem tem dinheiro é o grande produtor, vai acabar financiando só a grande cultura. E como fica o pequeno produtor?”, disse ao Valor. Ele busca amarrar essas pontas para entregar a proposta alinhada e pronta para colocar em prática até o fim de maio deste ano.
Para isso, Rodrigues quer a ajuda do ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana. Os dois foram integrantes do Grupo de Trabalho de Estudos Avançados de Aprimoramento do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que entregou diversas propostas ainda em 2024 para mudar a gestão da Embrapa focadas em descentralização, desburocratização e financiamento. “Não aconteceu nenhum dos três. Esse pode ser o primeiro passo”, concluiu o ex-ministro.
Na quarta-feira, em evento em São Paulo, Rodrigues disse que a meta é chegar a R$ 1 bilhão de recursos privados para financiar a pesquisa agropecuária da Embrapa. Ele também fez um chamado a empresários do agronegócio na plateia, como Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.
No mesmo evento, o diretor-geral do Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara, disse que o movimento não é apenas financeiro, mas estrutural. Segundo ele, a proposta é ter uma “nova formatação” para as ações da Embrapa. “Mais leve, com cara mais privada, mais voltada a resultados, com menos amarras burocráticas e mais orçamento na atividade finalística”, completou.
“Vamos colocar R$ 100 milhões por ano como forma de estimular outras associações e setores a fazerem o mesmo”, disse Carrara. Ele relatou que na reunião de 11 de março em que a proposta foi apresentada ao ministro Fávaro, lideranças dos setores produtivos de algodão e milho estavam presentes e “toparam participar”.
Blairo Maggi e Eraí Maggi, além de integrantes da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), estavam no gabinete do ministro na ocasião.