A endometriose é uma doença extremamente prevalente, afetando uma em cada dez mulheres brasileiras, segundo dados do Ministério da Saúde. Mas a estimativa é que esse número seja ainda maior, pois existe um quadro de subdiagnóstico da condição.
“A endometriose tem como principal sintoma dor pélvica intensa, que geralmente não recebe atenção por ser confundida com cólicas menstruais. Além disso, as pílulas anticoncepcionais também podem mascarar os sintomas da condição. Isso pode prejudicar o diagnóstico, o que é altamente maléfico, visto que a doença é a principal causa de infertilidade na mulher”, explica o especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, Fernando Prado.
Mas uma solução para o problema parece estar à vista. Uma empresa australiana está perto de lançar um exame de sangue capaz de diagnosticar a endometriose. Testes clínicos publicados em dezembro no periódico Human Reproduction mostraram excelentes resultados na identificação da condição.
Segundo Fernando Prado, a endometriose é uma doença inflamatória que ocorre quando as células do endométrio, tecido que reveste o útero, em vez de serem eliminadas na menstruação, movimentam-se no sentido oposto e caem no interior do abdômen, implantando-se nos órgãos e tecidos internos.
“Atualmente, o diagnóstico da endometriose é majoritariamente clínico e baseado nos sintomas e histórico da paciente, o que o leva a ser realizado tardiamente. Além disso, para confirmar o diagnóstico da doença, podemos realizar também uma laparoscopia, que consiste na inserção de uma pequena câmera por meio de incisões no abdômen para visualizar os focos da doença e, dependendo do caso, removê-los. Mas, trata-se de um procedimento cirúrgico, invasivo e que exige anestesia”, detalha o médico. O exame de sangue, então, surge como uma alternativa capaz de confirmar o diagnóstico da endometriose de maneira mais assertiva, menos invasiva e com menor custo.
O exame, chamado PromarkerEndro, é baseado na identificação de biomarcadores deixados pela endometriose no sangue. Para desenvolvê-lo, os pesquisadores analisaram o sangue de 749 mulheres, sendo que apenas parte desse grupo sofria com endometriose, o que foi confirmado pela realização posterior de uma laparoscopia. Com base na análise do sangue dessas pacientes a partir de algoritmos e estudos anteriores, foi possível identificar dez proteínas que apresentavam relação com a endometriose e possuíam capacidade de predizer a presença da doença em vários estágios.
Ao testá-lo, o exame foi capaz de separar, com 99,7% de precisão, as pacientes com endometriose grave daquelas que apresentavam sintomas similares, mas não possuíam a doença. Até mesmo em estágios precoces, quando os biomarcadores ainda não são tão claros, o exame apresentou uma precisão acima de 85%.
Agora, os pesquisadores estão refinando os algoritmos utilizados para o exame e adaptando o método para uso em ambientes clínicos, mas a expectativa é que seja lançado na Austrália já no segundo trimestre de 2025. “Um exame de sangue como esse trará grandes benefícios para as pacientes que sofrem com endometriose, pois permitirá que o diagnóstico da doença seja realizado de maneira precoce e com maior assertividade, o que contribui significativamente para o tratamento”, destaca Fernando Prado.
Conforme o médico, o tratamento da endometriose é indicado de acordo com a gravidade da condição e as características individuais da paciente e geralmente inclui o uso de pílula anticoncepcional, analgésicos, anti-inflamatórios e intervenção cirúrgica com laparoscopia, visando eliminar os cistos causados pela doença.
“Mas a endometriose é uma doença crônica, então o tratamento não é definitivo, atuando apenas no alívio dos sintomas e controle da doença. Logo, os sintomas e a dificuldade de engravidar podem retornar após algum tempo”, alerta Fernando, que acrescenta que, caso a mulher deseje engravidar, a melhor alternativa é apostar em tratamentos de reprodução humana, como a fertilização in vitro.
“O processo de fertilização in vitro em pacientes com endometriose é igual a qualquer outro, com a coleta dos óvulos para que sejam fecundados em laboratório e, em seguida, implantados de volta no útero. E as taxas de sucesso não mudam por conta da endometriose”, reforça.