Empresários diretamente envolvidos nos debates com o governo para formular uma estratégia de negociação do tarifaço imposto por Donald Trump relataram à CNN que a operação da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (18), amplia as dificuldades do Brasil em negociar com os Estados Unidos para que a medida seja revista pela Casa Branca.
A avaliação é de que a soberania brasileira e a autonomia dos Poderes nacionais são inegociáveis e não devem ser colocadas à mesa com os americanos em nenhum momento.
No entanto, consideram que a ação foi desnecessária e poderia ter sido evitada ou adiada, diante das dificuldades enfrentadas pelo Brasil nas tratativas com Trump.
Um desses empresários apontou ser “complicadíssimo” prosseguir com as negociações, que envolvem três frentes de tensão simultâneas. Segundo ele, são elas:
- A pressa — considerada excessiva — para condenar Bolsonaro;
- O presidente Lula provocar Trump constantemente, gerando entre os empresários a sensação de que busca recuperar popularidade com o episódio e incentiva seus aliados a adotarem a mesma postura;
- O interesse dos Estados Unidos em evitar a criação de um precedente, pois, se o Brasil tiver êxito nesse embate, poderia servir de exemplo para outros países.
Outro empresário avaliou que a operação de hoje poderá ter efeito reverso sobre o STF (Supremo Tribunal Federal), ao dar repercussão mundial às alegações da defesa de Bolsonaro sobre o processo jurídico e fomentar dúvidas quanto à imparcialidade da Corte nesse julgamento.
A percepção entre as fontes ouvidas pela CNN é de que, pela forma como os fatos estão se desenrolando, Trump será “implacável” com o Brasil e não cederá em nada.
Um sinal nesse sentido, segundo um dos negociadores, poderá ser o endurecimento da posição dos Estados Unidos quanto à exigência empresarial de suspender ou rever a nova tarifa.
Diante do cenário de maior dificuldade, as críticas à condução das negociações por parte do governo aumentaram após a operação.
Representantes do setor privado também relataram receio de serem usados como instrumento político pelo governo em uma negociação que deveria ser prioritariamente estatal.
Caso a negociação fracasse, temem que o governo transfira a responsabilidade ao setor privado.
O temor é que, ao final, o governo colha ganhos políticos internos enquanto atribui ao setor privado a culpa pelo insucesso da negociação — setor esse que, até o momento, enxerga uma sequência de erros e falta de estratégia por parte da equipe governamental.
Também há a percepção de que o governo caminha para responsabilizar Bolsonaro pelo eventual fracasso nas negociações.