Se o mundo, hoje, é capaz de gerar alimentos de qualidade em grande escala, muito se deve à Ciência. Essa foi uma das principais mensagens do painel “Ciência do Solo: as novas fronteiras da produção”, durante o evento Agro Horizonte meia-risca Diálogos que Cultivam Inovação. Realizada em Brasília, promovida por Globo Rural em parceria com Valor Econômico, O Globo, Época Negócios e Rádio CBN, com patrocínio da Corteva Agriscience, a palestra apresentou um panorama da evolução científica no campo ao longo dos anos e mostrou como as próximas pesquisas deverão lidar com os obstáculos do cultivo global.
O pesquisador e ex-presidente da Embrapa Maurício Lopes iniciou sua palestra fazendo um convite à reflexão. Para ele, a complexidade dos assuntos que envolvem pesquisa e desenvolvimento no agro precisa estar conectada com as atuais demandas e futuros desafios da sociedade. “O conceito de nexos ajuda a qualificar complexidades como a ligação entre alimentos, emissões e clima. Muitas vezes, tratamos esses temas de maneira desconectada, e observá-los em sintonia nos ajuda a elencar elementos que possam ser tratados sob o ponto de vista dos perigos e das oportunidades”, destacou.
Sobre a emissão de gases, por exemplo, Lopes apontou que a agricultura pode ser uma aliada na descarbonização de indústrias importantes. Ele acredita que em breve as fazendas possam se tornar biorrefinarias usando tecnologias de biomassa, abrindo novos caminhos.
Ele também fez previsões em duas vertentes que irão influenciar as próximas descobertas e bases científicas tecnológicas: os avanços na inteligência artificial e na computação quântica. “A integração dessas duas frentes vai redefinir nossa capacidade de entender métricas e padrões mais complexos tanto para o bem quanto para o mal. O desafio é saber quem vai controlar esse conhecimento”, ponderou.
O pesquisador citou o exemplo da Google, que desenvolveu um novo chip com capacidade de processar informações complexas em até cinco minutos. Atualmente, os computadores mais potentes levariam até 15 anos para processá-las. “O CEO da Open AI declarou que a AGI (inteligência artificial geral) deverá ser lançada no próximo ano. São dois eventos que apontam como o futuro está se comportando em nossa frente e como devemos compreendê-lo”, finalizou.
Bioinsumos
A pesquisadora da Embrapa Mariângela Hungria fez uma apresentação sobre a importância dos bioinsumos, que tiveram seu boom na mídia em 2020. “Só que esses trabalhos são muito mais antigos. Aqui no Brasil, por exemplo, temos mais de cem anos de uso de bioinsumos nas plantações de soja”, disse.
Ela lembra que a produção de bioinsumos requer um rigoroso controle de qualidade com a utilização de microrganismos seguros e eficientes. “Produzir bioinsumos não é como fazer pão ou cerveja. Os profissionais envolvidos na cadeia de produção precisam ser capacitados e com responsabilidade técnica”, declarou.
A adoção de políticas públicas foi outro ponto observado por Mariângela, pois elas ajudam a criar um marco regulatório para a exploração das várias espécies em potencial na flora brasileira.
Sustentabilidade alimentar
O professor de Genética na Unicamp e CEO da InEditaBio, Paulo Arruda, falou sobre a dificuldade de manter a demanda mundial diante do aumento da população e do impacto das mudanças climáticas.
Ele explicou que 80% das calorias consumidas pela humanidade dependem de quatro culturas: milho, trigo, arroz e soja. “Com o crescimento da população mundial, em 2050 precisaremos ter 25% mais alimentos. Se for mantida a produtividade atual, será necessário plantar mais 70 milhões de hectares somente de milho e soja”, ressaltou.
Entre as dificuldades no meio desse caminho, Paulo destaca que 20% desses grãos são perdidos, no mundo, para doenças e pragas, além das mudanças climáticas. “O desafio é aumentar essa produtividade de maneira sustentável. E a edição genômica será uma grande aliada nesse sentido”, informou.
Por meio da metodologia, é possível realizar pequenas modificações no genoma de qualquer organismo. “A simplificação desse processo já permite desenvolver plantas mais intuitivas e concentradas nutricionalmente; mais resistentes a fungos; sementes modificadas; e assim por diante”, exemplificou Arruda.
A edição gênica se difere dos transgênicos, pois utiliza técnicas para alterar o DNA do próprio organismo para aprimorar suas qualidades. Já na transgenia, um organismo é geneticamente modificado a partir de outra espécie, conferindo-lhe uma nova característica.