A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai assinar hoje um contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que permitirá à empresa vender ou alienar nove de suas estruturas de armazenagem. A estatal já não utiliza esses imóveis para armazenar grãos, mas eles têm custo de manutenção de R$ 8 milhões por ano.
A expectativa da empresa é arrecadar R$ 175 milhões com os acordos de “desimobilização”. A lista de imóveis tem armazéns graneleiros e convencionais, silos desativados e até um andar em prédio comercial em Brasília.
A Conab afirma que destinará os recursos automaticamente à reforma e ampliação de oito unidades de armazenagem que considera estratégicas, localizadas em Goiás (três), Mato Grosso (duas), Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Distrito Federal (uma em cada). Com os investimentos, a capacidade estática da estatal crescerá 33%, passando de 900 mil toneladas para 1,2 milhão de toneladas.
Na operação, a estatal não vai receber dinheiro em caixa. “É uma troca de ativos da Conab por recursos para reformas e ampliação”, disse ao Valor o presidente da estatal, Edegar Pretto. O comprador fará o pagamento pela alienação do imóvel investindo em reformas de outras unidades da companhia.
Caberá ao BNDES definir a modelagem. O banco fará rodadas de apresentação a empresas públicas e privadas para oferecer os imóveis. No fim do processo, haverá uma licitação para selecionar as melhores propostas. A Conab só entregará o título de propriedade, por venda ou concessão, após o fim dessas reformas.
O BNDES já adotou esse modelo em projetos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Aeronáutica e do município do Recife. Na avaliação do banco, esse sistema é mais ágil, reduz muito os trâmites burocráticos e evita a exposição da Conab a riscos financeiros. Outro ponto positivo é que, com esse modelo, o recurso da transação não entra no caixa geral da União — quando isso ocorre, não há garantia de repasse do dinheiro da venda para os novos investimentos.
A Conab tem a expectativa de negociar os imóveis e dar início às reformas iniciadas ainda neste ano e de concluir as obras 2026. Com isso, a estatal prevê reduzir seus gastos tanto com a manutenção das unidades que estão inativas quanto com o aluguel de armazéns terceirizados, o que ocorre em momentos de falta de capacidade estática.
Segundo Pretto, o aumento da capacidade de armazenagem vai ajudar a empresa a cumprir a determinação do governo de investir na formação de estoques públicos. “Temos a decisão e a necessidade de fazer estoques públicos. Queremos, no ano da safra histórica, ter condições de fazer estoques públicos mais arrojados”, disse o presidente.
A escolha dos imóveis que passarão por reforma foi estratégica. A maioria está no Centro-Oeste, região produtora dos grãos que o governo pretende comprar e estocar, como arroz, feijão, trigo e milho. A maioria dos imóveis dos quais a Conab vai se desfazer fica em centros urbanos, em áreas que não permitem a atividade de armazenamento porque não têm espaço suficiente para manobra das carretas, por exemplo.
A Conab tem hoje 62 armazéns ainda operacionais. Atualmente, a empresa não usa toda a sua capacidade estática para formação de estoques, mas ela utiliza a estrutura para fazer caixa, com aluguel e serviços de armazenagem para terceiros, além de abrigar cestas básicas — foram cerca de 600 mil unidades em 2024. “Os armazéns podem e são usados para fazer receita própria. Parte do custo da Conab é bancada com o aluguel”, disse Arnoldo Campos, diretor de Operações e Abastecimento da estatal.