Mesmo diante de condições climáticas favoráveis, usineiros da região Nordeste são cautelosos ao fazer prognósticos para a safra de cana-de-açúcar 2025/26. A região tem um regime de chuvas limitado e também solos com baixa disponibilidade de nutrientes, por isso variedades mais resistentes ao clima seco e um maquinário mais moderno e eficiente são as apostas para o plantio da nova safra.
Enquanto o Centro-Sul deu início à colheita da safra 2025/26 em abril, o Nordeste tem um calendário diferente. No momento, produtores nordestinos iniciam o plantio, e as colheitadeiras devem entrar no campo em agosto.
O Valor acompanhou os preparativos nos canaviais e visitou uma pequena parte dos 22 mil hectares mantidos pela Usina Petribu, a mais antiga em operação no Brasil, em abril. Com sede em Lagoa de Itaenga, na Zona da Mata de Pernambuco, a indústria espera ao menos repetir a moagem do ciclo 2024/25, quando processou 1,57 milhão de toneladas de cana.
“Estamos com a expectativa de que essa próxima safra seja um pouco melhor que a última em termos de volume, mas no quesito ATR [Açúcares Totais Recuperáveis] ainda não sabemos, pois depende muito do clima”, afirma Daniela Petribu Oriá, presidente da Petribu.
O clima no início deste ano beneficiou os canaviais da usina, mas a produtora faz ressalvas. “O problema não é só quantidade, mas também a distribuição de chuvas. Não adianta cair a chuva esperada para o ano todo em dois meses e depois ficar seco. A cana não acumula água, então ela precisa de uma quantidade regular para se desenvolver”, afirma.
Para lidar com a limitação da chuva na Zona da Mata, a Petribu adota sistemas de irrigação por gotejamento. A reportagem conheceu um dos seis sistemas em operação atualmente na usina, que atendem uma área de 900 hectares.
Outro aliado da Petribu para maximizar a produtividade são as variedades de cana geneticamente modificadas. São mais de 500 “indivíduos” que fazem parte de programas de melhoramento genético de instituições como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), além de empresas como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
Variedades de cana mais resistentes à seca e também mais produtivas são também objeto de estudos na Miriri Alimentos e Bioenergia. A usina de Santa Rita, localizada próxima ao litoral paraibano, dedica 70 hectares dos 10 mil disponíveis para o teste de novas variedades com o objetivo de descobrir quais delas podem se destacar, para então fazerem parte do portfólio comercial da empresa.
“Por causa das condições de clima e solo da região, sempre prefiro apostar nas variedades que vão me entregar mais açúcar por hectare. Treze toneladas é considerado um bom número, visto que a nossa média é nove, e vamos buscar subir esse rendimento”, disse Gilvan Celso Cavalcanti de Morais Sobrinho, diretor-presidente da Miriri.
Em visita à usina, a reportagem pôde verificar durante a operação de plantio um dos principais gargalos para o rendimento da Miriri. O solo arenoso, muito parecido com o da areia da praia, torna ainda mais necessário o investimento em tecnologias para maximizar o rendimento dos canaviais. E dentre as inovações da Miriri, destaque para o plantio mecanizado, adotado há cinco anos.
“No meu negócio, eu sempre vou buscar incorporar tecnologias que permitam a gente diminuir o custo de produção e gerar competitividade. Já que, no nosso preço, as externalidades comandam o mercado, e a gente não tem nenhum controle sobre isso”, afirma.
Em um momento de depreciação do etanol no Brasil, o executivo avalia que o momento de preços não é animador. No que diz respeito ao açúcar, Gilvan Morais Sobrinho afirma que é preciso acompanhar o movimento das cotações na bolsa de Nova York, mas também pontua que não dá para ser otimista com a recuperação dos preços.
Por outro lado, monitoramento climático realizado mensalmente pela Miriri mostra uma condição adequada para o desenvolvimento da nova safra. Ainda assim, o diretor-presidente da usina evita fazer projeções para a colheita. Na temporada 2024/25, foram processadas 1,26 milhão de toneladas de cana, um recorde.