A chuva da última semana pegou Robson Scherer de surpresa. Segundo ele, começou no último sábado (14/6) e só deu uma trégua nesta sexta-feira (20/6). “Segunda e terça, foram os piores dias. Esperávamos cerca de 200 milímetros e já registramos mais de 500”, diz o produtor de trigo e milho em São Borja e Santo Antônio das Missões, no Rio Grande do Sul.
Em várias regiões do Estado, as fortes chuvas deixaram lavouras debaixo d’água, prejudicando os planos e a atividade dos agricultores. Muitos ainda tentam encontrar meios de pagar dívidas de safras anteriores que perderam.
Em sua propriedade, Scherer tem cerca de mil hectares de trigo, e pelo menos 50 estão submersos. Ele estima que a área atingida é muito maior, mas ainda não conseguiu ver, porque o local está sem acesso. De milho, são 600 hectares.
“Estamos esperando baixar para ver o prejuízo. Sei que estragou a lavoura, abriu buracos, levou semente embora”, relata.
Na fazenda do Marcelo Nadalon, caíram 540 milímetros de chuva. As lavouras estão divididas entre os municípios de Santiago e São Francisco de Assis, e a ponte que ligava os dois lugares foi destruída. “Para eu conseguir chegar na área plantada sem a ponte, preciso andar 80 km”.
Ele conta que plantou 600 hectares de trigo. Perdeu tudo. “Nossa situação não tem mais volta. Se não tiver ajuda do governo, o produtor gaúcho vai parar de plantar. Não tem mais condições”, lamenta.
O produtor relata que, nos seis anos, desde que começou a plantar, foram três secas e uma enchente. “Minha média, nos últimos quatro anos, é de 20 sacas de soja por hectare”. A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o Estado é de 34,7 sacas por hectare.
Em Tupanciretã, Evandro Ceolin cultiva 2,9 mil hectares de soja, 800 de trigo, 600 de aveia, e mantém e 650 hectares de pastagem. Diz que nenhuma dessas áreas sofreu mais que a de canola, ainda em fase de plantio. Ele reservou 850 hectares para a oleaginosa. “O pior problema da canola é fazer nascer. Quanto mais chuva, mais difícil”, explica.
Ceolin também não consegue entrar nas lavouras para saber o quanto perdeu. “Sei que lavou muitas terras, abriu muita erosão. Vamos ver, nos próximos dias, se teremos que plantar tudo de novo”, lamenta. Ele afirma que, se for replantar a área, vai ser com trigo, porque, para a canola, será tarde demais.
Chove forte há vários dias
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio Grande do Sul (Emater/RS) registra chuva intensa pelo menos desde o dia 12 de junho. Os maiores volumes caíram nas regiões da Fronteira Oeste, Missões, Central, Campanha, Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e Metropolitana.
Entre segunda-feira (16/6) e terça-feira (17/6), a instabilidade se agravou, devido à atuação de um cavado meteorológico. Choveu forte em todas as regiões, inclusive com queda de granizo na Fronteira Oeste. Na maior parte das áreas, foram mais do que 100 milímetros. E, em pontos isolados, mais do que 200 milímetros (veja mapa abaixo).
As cidades onde houve mais chuva foram:
- Jaguari (313 mm);
- São Sepé (266,7 mm);
- Sobradinho (247,3 mm);
- São Pedro do Sul (243,8 mm).
Assim como os produtores, a Emater ainda não tem um cálculo das perdas em áreas rurais. Em contato com a reportagem, o diretor técnico, Claudinei Baldissera, disse que a estatal começou o levantamento de dados.
“Pela capilaridade da Emater e as relações próximas com as prefeituras, estamos presentes nos municípios para fazer o levantamento dos danos que as chuvas estão provocando”, afirma.