Entre meados de setembro e as primeiras semanas de outubro, companhias aportaram cerca de R$ 43,6 bilhões no país, conforme relatório do Bradesco. Para os analistas do banco, o número reflete um ambiente de recuperação nos investimentos no Brasil.
O resultado mantém a trajetória ascendente no volume de investimentos vista desde o início do ano, porém, a recente retomada do ciclo de alta dos juros pelo Banco Central (BC) pode desafiar este cenário, pontua Priscila Pacheco, economista do Bradesco.
Segundo Pacheco, os aportes têm sido observados principalmente em modernização de plantas fabris e aumento de capacidade instalada com projetos greenfields, aqueles que são realizados a partir do zero.
“Os anúncios de investimento têm apontado um ambiente de recuperação dos investimentos no Brasil e reforçam o crescimento observado para a formação bruta de capital fixo no primeiro semestre do ano”, avalia a economista.
A formação bruta de capital fixo (FBCF) mede a ampliação da capacidade de produção das empresas, ou seja, o investimento para aumentar as atividades.
O indicador foi um dos destaques da alta de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, com avanço de 2,1% contra os três meses anteriores, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a FBCF cresceu 5,7%.
Juros altos desafiam cenário
Conforme os dados levantados pelo Bradesco, os investimentos realizados no país despencaram fortemente de um patamar de mais de 100 anúncios no começo de 2020 para pouco mais de 20 no começo do ano seguinte.
Os números apresentaram leve recuperação com o passar dos anos, até voltarem a retrair em 2023. Mas, desde o início de 2024, o que se observa é uma retomada.
O cenário, porém, pode mudar diante da volta do ciclo de alta dos juros pelo BC a partir de setembro, quando a Selic passou para 10,75% ao ano.
Segundo Pacheco, o aperto monetário ainda refletiu negativamente sobre os investimentos, mas pode se tornar uma barreira no longo prazo.
“A economia deve desacelerar nos próximos meses, refletindo o consumo das famílias e investimentos mais contidos, uma vez que novos projetos podem ser postergados diante de juros mais restritivos”, diz.