Após o auge do bônus demográfico, o Brasil passou a observar uma diminuição da fatia de jovens em idade para trabalhar, entre 15 a 29 anos.
Tal fator, em conjunto com a não absorção desse contingente etário no mercado de trabalho, acende um sinal de alerta sobre qual será o futuro do país, segundo economistas.
Entre os principais percalços encontrados pelos jovens para se inserir no mercado estão fatores como a alta competitividade, a falta de experiência formal e má qualidade dos postos de “primeiro emprego”.
Segundo Janaína Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), quando saem do ensino médio os jovens brasileiros precisam se adaptar a uma realidade no qual a exigência de qualificação formal está mais elevada do que até 15 anos atrás.
A pesquisadora explica que sem capacitação, essa parcela da população é empurrada para informalidade e acaba caindo em “armadilhas no longo prazo”, que seria quando o jovem para de investir em sua formação e depois não consegue mais alcançar posições melhores no mercado de trabalho.
A socióloga e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Camila Ikuta, também ressalta que as novas gerações estão acessando cada vez mais postos de primeiro emprego informais, precários e mal remunerados.
Em outra ponta, as crises econômicas vividas no país faz com que esse grupo enfrente uma concorrência “desleal” com adultos mais experientes e qualificados que também ficaram desempregados, causando assim um “efeito dominó” no mercado, diz Ikuta.
“Mesmo quando os jovens conseguem se empregar, eles são constantemente jogados à situação de desemprego novamente”, complementa.
Ônus econômico e social
O ônus econômico que a falta de oportunidade para esses jovens traz ao Brasil é uma perda que pode chegar até 10 pontos percentuais (p.p.) no potencial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em um horizonte de 30 anos, segundo aponta indicadores do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).
Ao analisar a performance do grupo etário no mercado de trabalho, os pesquisadores do Ibre/FGV, Janaína Feijó e Paulo Peruchetti, constataram que a atuação dos jovens trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos é altamente concentrada em atividades dos setores de serviços e comércio.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do 1° trimestre de 2024, atualmente a maioria dos jovens está trabalhando como balconistas e vendedores de lojas (7,9%), escriturários gerais (7,1%) e caixas e expedidores de bilhetes (3%).
Uma vez ocupando postos que são considerados de pouca complexidade e baixa exigência de conhecimento especializado, os jovens ficam sujeitos a um alto grau de informalidade e baixos salários, dizem Feijó e Peruchetti.
Além disso, segundo a pesquisadora, o fato desses jovens deixarem de se capacitar gera um ônus tanto individual, como também macroeconômico.
“Sociedades em que a população é mais qualificada tende a ter menores índices de criminalidade e violência. Tende a ter uma maior renda média e bem estar social”, afirma.
Fora isso, “a perda de anos de estudo também é prejudicial para o país no médio e longo prazo, em um cenário que precisamos de trabalhadores cada vez mais qualificados com as mudanças tecnológicas”, complementa Ikuta, do Dieese.
Gênero, raça e região entram na conta
Ao olhar a fotografia completa, é possível perceber que marcadores sociais como gênero, raça e regionalidade entram como fatores cruciais quando o assunto é desemprego.
De acordo com dados da Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho, dos 5,2 milhões de jovens desempregados entre 14 e 24 anos, a maioria é composta por mulheres, pretos e pardos.
Dentre os desocupados, 52% são mulheres e 66% são pretos e pardos.
Além desses recortes, outro ponto observado pelos pesquisadores do Ibre/FGV, é que as regiões brasileiras que mostraram menor participação para esse grupo etário são o Norte e o Nordeste do país, com 55,1% e 54%, respectivamente.
“Nessas regiões, o grau de informalidade é muito elevado por causa do pouco dinamismo e crescimento econômico que não consegue fazer com que essas cidades cresçam e se traduzam em mais emprego e qualidade de vida.
E, caso esses jovens estivessem se qualificando poderiam fazer a diferença nessas regiões, uma vez que capital humano elevado é imprescindível para promover crescimento econômico”, explica Feijó.
No longo prazo, a falta de oportunidades para esses jovens podem ter inúmeras consequências econômicas para o país, pontuam os especialistas: com menos mão de obra jovem no mercado e uma população cada vez mais idosa, a tendência é que país crie novas necessidade que possivelmente não serão atendidas.
“Nada fica solto, tudo está interligado e tudo tende a gerar um retorno individual e um retorno social. Deixar de orientar esses jovens vai trazer perdas profissionais para esse grupo etário e impactará a nossa economia no futuro”, conclui a pesquisadora.
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