O cenário econômico para 2025 apresenta diversos desafios tanto no âmbito global quanto no Brasil, pontuou o colunista do CNN Money Gilvan Bueno. Entre os principais pontos de atenção estão as taxas de juros, a dívida pública e o mercado de trabalho.
Perspectivas para o Brasil
Para o Brasil, as projeções de crescimento econômico variam. Enquanto o Boletim Focus estima um crescimento de 2% para 2025, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou sua projeção para 2,5%.
Bueno ressalta que fatores como a transferência de renda têm impactado significativamente a capacidade de prever o PIB com precisão.
Contudo, o especialista alerta para sinais de desaceleração. Muitos empresários estão revisando seus planos de crescimento e hesitando em acelerar investimentos devido ao aumento do custo do dinheiro. Há preocupações com uma possível alta na inadimplência, especialmente entre pessoas jurídicas.
Câmbio
O mercado de câmbio brasileiro enfrentou uma desvalorização significativa em 2024, com o dólar encerrando o ano em R$ 6,18, uma alta de cerca de 27% em relação ao início do período.Play Video
Segundo Márcio Estrela, consultor da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), o final de 2024 foi marcado por um “overshooting” do dólar, impulsionado por pressões sazonais típicas do fim de ano, como remessas de lucros e fechamentos contábeis.
Além disso, uma inflação maior que a esperada e um certo desapontamento do mercado financeiro em relação ao pacote fiscal contribuíram para a alta da moeda americana.
Para o novo ano, o especialista prevê uma suavização desse movimento. “É de se esperar uma suavização do câmbio, e que no final do primeiro trimestre ele esteja em um nível, não vou chamar nível de equilíbrio, mas é de se esperar um retorno do câmbio para algo em torno de 6,05, 6,10”, afirmou Estrela.
O consultor ressaltou que essa projeção depende de fatores como a ausência de recrudescimento fiscal por parte do governo.
Outro fator que pode ser um obstáculo para o câmbio neste ano é a política econômica de Donald Trump. De volta à Casa Branca, o republicano planeja elevar tarifas de importação com a intenção de favorecer produtos norte-americanos. O efeito do movimento pode ser uma alta na inflação dos Estados Unidos e fortalecimento do dólar no mundo.
Estrela também comentou sobre o papel do Banco Central (BC) na regulação do câmbio. “O Banco Central não tem meta de câmbio, nem pode ter. A atuação do Banco Central no câmbio se justifica para momentos de controle de volatilidade”, explicou.
O especialista destacou que, passado o período de maior volatilidade, as intervenções do BC tendem a diminuir, permitindo que o câmbio encontre seu equilíbrio naturalmente.
“O Banco Central não vai atuar para atingir um câmbio específico, mas para controlar volatilidades decorrentes de problemas no mercado”, concluiu Estrela.
Juros e inflação
Para Gilvan Bueno, a expectativa de aumento na taxa básica de juros, com projeções chegando a 15,25% em 2025, é um fator crucial. Este cenário é impulsionado por uma inflação persistente e tensões fiscais.
O dólar alto também contribui para pressões inflacionárias, afetando principalmente alimentos e serviços.
Bueno ressalta que com 77% da população brasileira endividada em cheque especial e cartão de crédito, o aumento dos juros pode ter um impacto significativo na capacidade de consumo e investimento.
Mercado de trabalho
Apesar da baixa taxa de desemprego atual, Bueno alerta para a “armadilha da renda média”. Muitos brasileiros empregados recebem salários baixos, o que limita a capacidade de consumo e o crescimento econômico.
Com o aumento do custo do dinheiro e a revisão de investimentos por parte das empresas, existe o risco de aumento nas demissões, o que poderia alterar o cenário de pleno emprego.
O especialista conclui destacando a importância das reformas econômicas, citando o exemplo da Argentina, que, apesar dos desafios, teve um desempenho positivo em sua bolsa de valores em 2024, atribuído às reformas implementadas.