O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou dos Estados Unidos com uma “vitória” importante depois de ter aberto diálogo com o governo de Donald Trump. De volta ao Brasil, no entanto, tem dois desafios importantes para os próximos meses: conseguir algum êxito em sua conversa com Trump e trabalhar para evitar que a Conferência do Clima em Belém, a COP 30, não seja um vexame.
Durante sua passagem por Nova York, o governo brasileiro trabalhou para abrir portas na Casa Branca. Agora, começa a etapa de negociações, na qual diplomatas de ambos os países devem articular diálogos e buscar avanços concretos. Na prática, existe um longo caminho pela frente.
Já em relação à COP30, o governo Lula também usou o período da Assembleia Geral da ONU para fazer reuniões a respeito do evento, que será realizado na capital do Pará, em novembro.
O problema principal do evento em Belém é a crise em relação a hospedagens. Existe um temor de esvaziamento da COP30 por causa da falta de opções.Play Video
Leia abaixo um resumo de como foram os dias em que Lula ficou em Nova York:
A vitória: aceno de Trump
Inegavelmente, o encontro inesperado entre Trump e Lula – anunciado pelo presidente norte-americano durante o seu discurso no debate geral da ONU – marcou a estada do petista em Nova York.
Trump, que assistiu ao discurso inaugural de Lula carregado de críticas às sanções do governo dos EUA, disse que os dois mandatários se abraçaram em uma demonstração de “química” entre eles. O republicano sugeriu que ambos se sentem à mesa na próxima semana, pois teriam “muito o que conversar”.
“Eu estava aqui e, ao entrar, encontrei o líder do Brasil. Eu falei com ele, nós nos abraçamos, e as pessoas dizendo: ‘Dá para acreditar nisso?’. Nós concordamos que vamos nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para falar aqui, foram cerca de 20 segundos, mas nós conversamos”, declarou Trump.
Em seguida, já no fim de seu discurso, o chefe de Estado dos EUA disse: “Ele parece um homem muito agradável, eu gosto dele e ele gosta de mim. E eu gosto de fazer negócios com pessoas que eu gosto. Quando eu não gosto de uma pessoa, eu não gosto, mas tivemos ali esses 30 segundos ali, foi uma coisa muito rápida, mas foi uma química excelente. Isso foi um bom sinal”.
Além dos afagos, Trump fez críticas ao Brasil e repetiu que a relação entre ambos os países tem sido negativa para os Estados Unidos. Apesar disso, os acenos inviabilizaram qualquer comentário negativo do republicano.
O encontro, inesperado aos olhos do público, não pegou totalmente de surpresa alguns integrantes da alta cúpula da diplomacia brasileira em Washington D.C, uma vez que os norte-americanos teriam dado sinais de aproximação horas antes da interação entre Trump e Lula.
Apesar disso, o Itamaraty trata a questão com muita cautela. O ministro do MRE, Mauro Vieira, disse logo após o discurso de Trump que a reunião provavelmente será remota, tendo em vista a agenda de Lula no Brasil. Por outro lado, no dia seguinte, o petista não descartou encontro presencial.
O aceno representa vitória para o governo brasileiro em solo norte-americano. Um dia antes dos elogios a Lula, o Tesouro dos EUA incluiu Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, na Lei Magnitsky, ao mesmo tempo que suspendeu o visto de autoridades brasileiras, como o advogado-geral da União, Jorge Messias.
A investida não pareceu intimidar ou constranger a comitiva brasileira, que era a aposta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apontado como um dos principais articuladores das sanções ao Brasil pelo país de Trump. No dia das sanções, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que a decisão dos Estados Unidos deveria servir como “alerta” para aqueles que “ameacem os interesses dos EUA, ao proteger e habilitar agentes como Moraes”.
Rubio e a sua equipe têm sido fortes aliados do bolsonarismo para criticar o Brasil pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado. Em maio, Rubio mandou Ricardo Pita, assessor do Departamento para Assuntos do Hemisfério Oeste, integrar a missão oficial dos EUA no Brasil e visitar Bolsonaro.
É justamente Rubio que é visto com desconfiança por diplomatas brasileiros, que indicam a chancelaria como porta de entrada de Eduardo na Casa Branca. Ao Metrópoles um ministro do Itamaraty disse que “Rubio não é um amigo do Brasil”.