Uma combinação de dieta mediterrânea com menos calorias, exercícios e suporte nutricional impediu que pessoas com sobrepeso à obesidade severa, entre 55 e 75 anos, progredissem para diabetes tipo 2, segundo um novo estudo.
“Nosso estudo mostra que mudanças modestas e sustentadas na dieta e no estilo de vida poderiam prevenir milhões de casos de diabetes tipo 2 em todo o mundo”, disse o coautor Dr. Frank Hu, Professor Fredrick J. Stare de Nutrição e Epidemiologia e chefe do departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública Harvard T.H. Chan em Boston.
O que revelam os resultados do estudo?
Pessoas que reduziram suas calorias diárias na dieta mediterrânea e se engajaram em exercícios diários moderados — enquanto também recebiam suporte profissional para perda de peso — tiveram um risco 31% menor de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação com aqueles que apenas seguiram a dieta mediterrânea, de acordo com o estudo publicado segunda-feira na revista Annals of Internal Medicine.
“Acredito que essa redução de 31% é provavelmente resultado da combinação de múltiplos componentes — melhor qualidade da dieta, aumento da atividade física e modesta perda de peso”, disse Hu à CNN.
“O grupo de intervenção também teve redução significativa no percentual de gordura corporal e, mais importante, uma redução na adiposidade visceral (gordura abdominal), e uma melhora significativa no índice de massa corporal”, acrescentou. “O estudo mostrou que não é apenas a perda de peso, mas também a melhora na composição corporal que pode ter contribuído para a redução no risco de diabetes.”
À primeira vista, os resultados do estudo eram “entediantes”, disse Christopher Gardner, professor Rehnborg Farquhar de Medicina da Universidade Stanford na Califórnia, que dirige o Grupo de Pesquisa em Estudos Nutricionais do Centro de Pesquisa em Prevenção de Stanford. Ele não esteve envolvido no estudo.
Isso porque é bem conhecido que se as pessoas cortarem calorias, comerem uma dieta baseada em vegetais com gorduras boas e se exercitarem, elas podem prevenir o diabetes tipo 2, disse Gardner em um e-mail.
Mas na realidade, os resultados do estudo são “impressionantemente surpreendentes”, ele disse. “Estou acostumado em outros estudos similares a ver mudanças no primeiro ano que diminuem lentamente — a maioria das pessoas não tem sucesso em fazer essas mudanças, e se por acaso as fazem, não conseguem mantê-las.”
No entanto, a adesão constante ao longo do tempo à dieta mediterrânea com menos calorias e atividade física diária permitiu que os participantes do novo estudo mantivessem sua redução no peso corporal e na circunferência da cintura, disse Gardner.
“O que é impressionante é a adesão de 6 anos a essas mudanças, com muito pouca recaída”, disse ele. “Esses participantes fizeram mudanças duradouras no estilo de vida. É possível.”
A pesquisa é parte de um ensaio clínico randomizado em andamento de oito anos na Espanha chamado Predimed-Plus, no qual 23 centros de pesquisa testaram como dieta e exercício podem reduzir o risco cardiovascular e outras condições de saúde.
Todos os 6.874 participantes do estudo tinham índices de massa corporal entre 27 (considerado medicamente com sobrepeso) e 40 (considerado seriamente obeso). Embora ninguém tenha sido diagnosticado com diabetes tipo 2 no início do estudo, todos os participantes tinham síndrome metabólica, definida como pressão alta, açúcar alto no sangue, colesterol alterado e excesso de gordura ao redor da cintura.
A síndrome metabólica é um fator de risco bem conhecido para resistência à insulina e posterior diabetes tipo 2, além do acúmulo de placas nas artérias, que pode levar a doenças cardíacas e derrame.
Como foi feito o estudo?
Metade do grupo foi solicitada a seguir uma dieta mediterrânea com redução de 30% nas calorias — cerca de 600 calorias por dia — e limitar a ingestão de açúcar adicionado, pães e cereais refinados, manteiga, creme, carnes processadas e bebidas adoçadas. Cerca de 35% a 40% das calorias diárias deveriam vir de gorduras saudáveis, 40% a 45% de carboidratos saudáveis e 20% de proteínas.
“Eles receberam um litro de azeite de oliva extra virgem gratuitamente por mês para apoiar sua adesão à dieta mediterrânea, que enfatiza gorduras saudáveis”, disse Hu.
“No geral, durante os seis anos de acompanhamento, a quantidade de perda de peso não é muito grande — apenas cerca de 3% a 4% no grupo de intervenção”, disse ele. “No entanto, isso mostra que mesmo uma modesta perda de peso junto com uma dieta saudável pode ter benefício significativo a longo prazo na prevenção do diabetes.“
O grupo de intervenção também foi solicitado a aumentar seu exercício aeróbico para 45 minutos diários, pelo menos seis dias por semana, junto com exercícios para melhorar força, flexibilidade e equilíbrio, todos críticos para um envelhecimento saudável.
“Você perde tanto massa muscular magra quanto massa de gordura quando reduz calorias”, disse Dr. David Katz em um e-mail.
Katz é especialista em medicina preventiva e do estilo de vida, além de fundador da organização sem fins lucrativos True Health Initiative, uma coalizão global de especialistas dedicada à medicina do estilo de vida baseada em evidências.
“Você protege a massa muscular magra com exercícios, especialmente se adicionar o treino de resistência para construir músculos”, disse Katz, que não participou do estudo. “Geralmente, o ideal é perder gordura e manter os músculos.”
Além disso, o grupo de intervenção recebeu auxílio de nutricionistas treinados três vezes por mês durante o primeiro ano, e sessões mensais em grupo, sessões individuais a cada três meses e duas ligações telefônicas a cada três meses durante os cinco anos restantes. O treinamento incluiu como fazer automonitoramento e estabelecer metas.
“Isso foi feito intencionalmente”, disse Hu. “Você quer que o grupo de intervenção melhore sua adesão à dieta, aumente sua atividade física e alcance mais perda de peso do que o grupo controle, e a única maneira de fazer isso é através do aumento das sessões de intervenção comportamental.”
Os demais participantes — que serviram como grupo controle — também receberam fornecimento mensal de azeite de oliva, mas receberam apenas orientações nutricionais e de exercícios gerais duas vezes por ano através de sessões em grupo. Eles não tinham restrição calórica, nem programa de atividade física, nem metas de perda de peso.
Benefícios da dieta mediterrânea
Estudos descobriram que a dieta mediterrânea pode reduzir o risco de diabetes, colesterol alto, demência, perda de memória, depressão e câncer de mama. A dieta, que é mais um estilo de alimentação do que uma dieta restritiva, também foi associada a ossos mais fortes e um coração mais saudável.
A dieta apresenta uma culinária simples e baseada em vegetais, com a maior parte de cada refeição focada em frutas e vegetais, grãos integrais, feijões e sementes, com algumas nozes e uma forte ênfase no azeite de oliva extra virgem.
Gorduras diferentes do azeite de oliva, como manteiga, são consumidas raramente, se é que são consumidas, e açúcar e alimentos refinados são reservados para ocasiões especiais.
A carne vermelha é usada com moderação, geralmente apenas para dar sabor a um prato. O consumo de peixes gordurosos saudáveis, ricos em ácidos graxos ômega-3, é incentivado, enquanto ovos, laticínios e aves são consumidos em porções muito menores do que na dieta ocidental tradicional.
As interações sociais durante as refeições e exercícios são pilares básicos do estilo mediterrâneo de alimentação. As mudanças no estilo de vida que fazem parte da dieta incluem comer com amigos e família, socializar durante as refeições, comer conscientemente os alimentos favoritos, assim como movimento e exercício conscientes.
