A obesidade na adolescência tem se tornado cada vez mais uma questão de saúde pública: segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2024, o Brasil poderá ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035. No mundo, a projeção é de que cerca de 464 milhões de adolescentes estarão acima do peso até 2030, de acordo com a Comissão Lancet.
A condição, se não tratada adequadamente nesta faixa etária, pode acompanhar a vida adulta e trazer outras complicações de saúde, como diabetes tipo 2, hipertensão, alterações no colesterol, síndrome metabólica e, até mesmo, aumentar o risco para alguns tipos de câncer. Isso levanta a dúvida: adolescentes podem fazer tratamento com canetas emagrecedoras, como Wegovy, Mounjaro e Olire?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de liraglutida (princípio ativo do Olire, da EMS, e Saxenda, da Novo Nordisk) e da semaglutida (Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk) a partir dos 12 anos de idade. No entanto, a indicação deve ser feita por um médico especializado após avaliação criteriosa, conforme alerta o endocrinologista pediátrico Miguel Liberato.
As diretrizes atuais apontam que o medicamento pode ser prescrito para adolescentes que:
- Tenham Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m²;
- Não tenham conseguido controle de peso apenas com mudanças de dieta e atividade física;
- Estejam em acompanhamento médico contínuo.
“É importante ressaltar que esses medicamentos são adjuvantes — ou seja, funcionam junto com uma dieta balanceada e exercícios, e não substituem hábitos saudáveis”, afirma Liberato.
Cuidados necessários no tratamento de obesidade na adolescência com canetas
Apesar de as canetas serem indicadas para o tratamento da obesidade em adolescentes, elas não devem ser a primeira opção para o manejo da condição, de acordo com o endocrinologista.
“As canetas emagrecedoras chegam em um segundo momento. É fundamental a orientação alimentar individualizada. O profissional tem que entender que quando se cria dietas restritivas e cheias de proibições, o resultado tende a ser bem pior”, afirma Liberato.
“As crianças e adolescentes devem achar o equilíbrio com a alimentação saudável e consequentemente menos calórica, mas sem aquela imposição de proibir comidas que gostem, mesmo que doces e gorduras. O importante é o equilíbrio”, completa.
Além da alimentação balanceada, a prática de atividade física também é fundamental para o tratamento de obesidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os adolescentes pratiquem atividade física moderada ou vigorosa durante uma hora ou mais por dia.
Após a avaliação médica, se houver prescrição para o uso de canetas como Wegovy e Olire, os cuidados são semelhantes aos do tratamento em adultos: ficar atento aos principais efeitos colaterais, como náuseas e vômitos, garantir uma hidratação adequada do paciente, além de orientar a alimentação adequada, para não haver carência de nenhum nutriente, de acordo com Liberato.
“Além disso, é importante avaliar o indivíduo como um todo, monitorar a função tireoidiana, os níveis de cortisol, além do perfil glicêmico, já que a obesidade é um importante fator de risco para o diabetes. Desse modo, os níveis de glicemia e insulina devem ser monitorados de perto”, completa.
Quais são os fatores de risco para obesidade na adolescência?
De acordo com o endocrinolgista, a obesidade na adolescência tem múltiplos fatores: a relação dos próprios pais e familiares com a comida, sedentarismo e genética.
“A obesidade é causada pela interação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Filhos de pais com obesidade e indivíduos de classe socioeconômica mais desfavorecida têm maior risco de desenvolver a condição”, explica. O especialista destaca ainda que o ambiente moderno, marcado pelo consumo excessivo de ultraprocessados, sedentarismo, uso prolongado de telas, poucas horas de sono e influências culturais, favorece o ganho de peso.