O café é mais do que uma simples bebida para os norte-americanos. Ele impulsiona a economia do país governado por Donald Trump e mostra por que ocupa as primeiras colocações nos rankings mundiais de maiores consumidores e importadores do grão. Mas para se manter líder em consumo de café, os EUA precisam comprar 99% do grão de fora de seu território, já que a produção é inexpressiva. Daí vem a preocupação com a guerra tarifária.
Mesmo sendo o país das tendências de como se toma café e tendo, ao menos, 83 mil cafeterias espalhadas no país em 2024, segundo a Mordor Inteligence, a produção é de apenas 1%. Os poucos cafezais estão concentrados no Havaí.
E por que os EUA plantam tão pouco? De acordo com João Pedro Querino, engenheiro-agrônomo da Fundação Procafé, a complexidade na cadeia do grão para o país da América do Norte é explicada pela combinação de três fatores: clima, geografia e custos.
“Os Estados Unidos figuram entre os maiores consumidores de café do mundo. No entanto, quando se trata da produção, o cenário é bem diferente e, praticamente, não existe o cultivo em escala comercial para atender o mercado interno”, diz.
O Brasil é o maior fornecedor de café aos EUA. Só em 2024, foram embarcadas 8,1 milhões de sacas de 60 kg aos norte-americanos. O valor foi equivalente a uma receita de US$ 2 bilhões e representa, aproximadamente, 18% do total exportado, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
De acordo com a National Coffee Association (NCA, na sigla em inglês), que é a entidade representante das indústrias norte-americanas, os EUA dependem do grão brasileiro para compor os blends já inseridos no varejo e nas cafeterias. Além disso, segundo o presidente da associação, William Bill Murray, o país não tem condições de produzir café em escala comercial e nem direcionar investimentos para suprir o ritmo. Hoje, cada consumidor de café nos EUA bebe, em média, três xícaras por dia, conforme a organização.
“O café ocupa um lugar único no cotidiano dos americanos — nenhuma outra bebida é tão querida e presente. Sua popularidade gera grandes benefícios para os consumidores e para toda a economia dos EUA. Esperamos que esse caso de amor com o café dure por muitas décadas”, descreveu Murray.
O representante, que esteve em Campinas (SP) no início de julho para participar do evento multilateral Coffee Dinner Summit, organizado pelo Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), é enfático na avaliação que a economia americana sofreria um forte impacto se taxas forem impostas sobre o café que entra no país, em especial o proveniente do Brasil. Isso porque, a cadeia de café gera ao menos 2 milhões de empregos nos EUA.
Uma das principais conclusões da pesquisa da NCA, publicada em abril, é que mais americanos bebem café diariamente do que qualquer outra bebida. Até a água engarrafada fica em segundo lugar entre os hábitos da população. Para ele, qualquer ajuste de preço – ou até falta de grão para torrar em uma percepção mais pessimista – conferiria mais que um desconforto no consumo.