A ideia de que as barbas podem acumular microrganismos, como bactérias, não é recente. Na década de 1960, pesquisadores já tinham notado em estudo que alguns micróbios permaneciam nos pelos faciais mesmo após lavagem com água e sabão. Porém, recentemente, a internet tem resgatado uma ideia de que as barbas podem conter mais microrganismos do que vasos sanitários. Mas isso é verdade?
A discussão começou após o jornal norte-americano The Washington Post publicar um artigo questionando se as barbas poderiam ser mais sujas do que privadas. Mas, de acordo com Carla Taddei, professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), isso é relativo e pode, até mesmo, ser considerado um mito.
“Nós temos mais bactérias em um celular e em um teclado do que no banheiro, porque nós estamos rodeados de bactérias. Nossa mão tem bactéria, então mexemos em alguma coisa e depois no celular e carregamos essa microbiota ambiental para o aparelho”, explica. “Às vezes, nos preocupamos tanto com o vaso sanitário que o mantemos mais limpo do que esses outros objetos”, completa.
Além disso, a pele das pessoas, naturalmente, carrega alguns microrganismos. “Nós temos bactérias no corpo todo, principalmente nas mucosas e na pele. É o que chamamos de microbiota humana, e ela existe para proteger a pele”, afirma a professora.
Um estudo publicado em 2014 avaliou mais de 400 profissionais do sexo masculino e descobriu que aqueles que tinham barba não carregavam mais bactérias do que seus pares que não tinham pelo facial. Adicionalmente, os pesquisadores observaram que certos tipos de patógenos que podem causar infecções na pele eram, na verdade, mais prevalente entre aqueles que não tinham barba.
Segundo os cientistas, a hipótese é de que microtraumas causados pelo ato de se barbear poderiam tornar os homens “não barbados” mais propensos a carregar esses microrganismos.
Por outro lado, de acordo com Taddei, a pessoa com barba pode estar mais sujeita ao acúmulo de partículas de sujeira que pode favorecer diferentes gêneros de bactérias, principalmente se não houver a higienização adequada dos pelos.
“A nossa pele vai descamando no dia a dia, produzimos uma oleosidade natural da pele. Pelo fato de a pessoa ter barba, essa oleosidade, o resto celular, o pó do dia a dia acumula na barba”, explica. “Nós sabemos que podem existir mais bactérias em pessoas que têm barba, mas isso não é necessariamente ruim. Vai depender das condições que a pessoa trata essa barba”, afirma Taddei.
Como cuidar adequadamente da barba
A limpeza da barba deve acompanhar a rotina diária de limpeza da pele. Isso inclui lavar os pelos no banho com sabonete apropriado e aparar a barba quando necessário. Já para aqueles com barbas compridas, os cuidados com a higienização devem ser redobrados, principalmente após refeições, para evitar o acúmulo de resíduos.
“A lavagem é recomendada justamente para evitar que o acúmulo de sujeira, de oleosidade e de partículas de alimentos permaneça na barba, podendo gerar um processo inflamatório na pele”, afirma Taddei.
Segundo a professora, não é necessário utilizar um produto específico para barbas, mas, sim, um sabonete adequado para o seu tipo de pele, seja ela oleosa ou seca. Se sentir necessidade, pode ser incluído na rotina o uso de condicionador de barba ou hidratantes, de acordo com a Academia Americana de Dermatologia.
Por fim, é fundamental evitar tocar a barba com as mãos, principalmente se não estiverem higienizadas. Consequentemente, lavar as mãos com água e sabão é importante para manter os pelos faciais limpos e livres de bactérias nocivas à saúde.