Ondas de calor recordes, enchentes graves e incêndios florestais agudos, agravados pela mudança climática, têm um preço colossal: uma redução de aproximadamente 19% na renda global apenas nos próximos 26 anos, segundo um novo estudo publicado na quarta-feira (17).
Esse golpe financeiro não afetará apenas os grandes governos e corporações. De acordo com a ONU, o mundo está caminhando para um ganho de quase 3ºC de aquecimento global no próximo século, mesmo com as políticas e metas climáticas atuais — pesquisadores também dizem que os indivíduos podem arcar com o ônus econômico.
Os científicos do estudo, publicado na Nature, afirmaram que a dor financeira no curto prazo é inevitável, mesmo que os governos aumentem seus esforços para enfrentar a crise agora.
“Esses impactos são inevitáveis, no sentido de que são indistinguíveis em diferentes cenários de emissões futuras até 2049”, disseram à CNN, por e-mail, dois dos pesquisadores do estudo, Maximilian Kotz e Leonie Wenz, do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático.
No entanto, eles afirmam que ações imediatas para reduzir a mudança climática poderiam conter algumas perdas a longo prazo.
Noah Diffenbaugh, professor e pesquisador ambiental da Universidade de Stanford, disse que os danos econômicos causados pelas mudanças climáticas devem assumir diferentes formas.
Os eventos climáticos extremos podem resultar não apenas em reparos dispendiosos de propriedades danificadas, mas as temperaturas elevadas também podem afetar a agricultura, a produtividade do trabalho e até mesmo a capacidade cognitiva em alguns casos.
Não é tarde demais para evitar perdas futuras
Embora o discurso sobre o custo da mudança climática geralmente se refira a esforços de mitigação potencialmente caros, como a redução do uso de petróleo e gás ou tecnologia para retirar a poluição de carbono do ar, investindo em tecnologia mais verde, o estudo argumentou que os danos financeiros de curto prazo causados pela mudança climática já superam o custo de tentar resolver a crise.
Os pesquisadores estimaram que custaria à economia global US$ 6 trilhões até 2050 para cumprir o Acordo Climático de Paris — o acordo internacional entre quase 200 nações para combater a mudança climática — em comparação com os danos econômicos estimados pelo estudo em US$ 38 trilhões devido à mudança climática.
“A adaptação poderia oferecer maneiras de reduzir esses danos”, disseram os pesquisadores Kotz e Wenz.
Bernardo Bastien, pesquisador do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego, disse que as estratégias de adaptação — abordagens projetadas não para reduzir a mudança climática, mas para responder limitando seus efeitos negativos — poderiam ajudar a economizar dinheiro em um período mais longo.
Bastien deu um exemplo: empresas de serviços públicos no estado da Califórnia que desligaram a rede elétrica para evitar incêndios florestais.
“Quando você desliga as redes elétricas, está desligando o setor e desligando muitas residências que usam a eletricidade para seu bem-estar. É muito caro, mas muito necessário”, disse Bastien.
E, embora o estudo conclua que alguns danos econômicos são garantidos antes de 2049, seus autores argumentam que os benefícios da redução das mudanças climáticas podem surgir algumas décadas depois.
“As estimativas de danos divergem fortemente entre os cenários de emissões após 2049, transmitindo os benefícios claros da mitigação de um ponto de vista puramente econômico”, disse o estudo.
Países mais pobres sofrem maior impacto na renda
No entanto, o impacto financeiro esperado não será distribuído de forma homogênea.
Diffenbaugh, não associado ao estudo, disse que, embora a pesquisa que mostra o impacto agregado da mudança climática seja importante, “embutidas nesses impactos agregados estão disparidades muito acentuadas em quem é mais afetado pela mudança climática”.
“Temos evidências claras de que, em geral, os pobres são mais prejudicados”, disse ele.
Diffenbaugh acrescentou que “isso é o que provavelmente acontecerá com o aquecimento global que já ocorreu e o que provavelmente acontecerá mesmo com pequenos incrementos de aquecimento global”.
O estudo da Nature estimou os danos econômicos de diferentes regiões. Espera-se que a América do Norte e a Europa sofram uma redução de renda menor nos próximos 26 anos, de 11%, em comparação com o sul da Ásia e a África, de 22%.
Os Estados Unidos, historicamente um grande poluidor, vão sofrer um impacto econômico menor do que alguns países vizinhos, conforme o estudo.
No entanto, o país norte-americano não será poupado dos transtornos causados pelo aquecimento do planeta — especialmente as gerações mais jovens de americanos.
Um outro estudo, publicado na terça-feira na Consumer Reports pela empresa de consultoria global ICF, estima que o custo pessoal vitalício da mudança climática para um bebê nascido nos EUA em 2024 pode chegar a US$ 500.000.
O documento da ICF afirma que os aumentos de preços de elementos essenciais do custo de vida nos EUA se somarão devido às mudanças climáticas.
Prevê-se que os custos de moradia aumentem em US$ 125.000 ao longo da vida de uma pessoa nascida em 2024, devido ao aumento dos custos de manutenção e seguro em decorrência dos riscos de enchentes e outros danos relacionados ao clima, segundo o documento.
Os preços dos alimentos também devem aumentar em cerca de US$ 33.000 ao longo da vida de um bebê de 2024, devido a interrupções na agricultura e nas cadeias de suprimentos, segundo o documento. Espera-se que outras despesas, como energia, transporte e assistência médica, também aumentem nas próximas décadas.
“Para muitos americanos, essa perda financeira exigirá decisões difíceis sobre como pagar por alimentos, moradia e outras despesas diárias, que a mudança climática aumentará em aproximadamente 9% ao longo de sua vida”, disse o documento.
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