No universo vibrante do cinema, onde histórias ganham vida em telas de todos os cantos do mundo, um detalhe ainda separa sonhos da realidade: o inglês.
Para muitos cineastas brasileiros, levar um filme para Cannes, Sundance ou Berlinale é o auge de uma carreira, mas, para chegar lá, não basta ter talento. É preciso falar a língua da indústria. Isso porque os grandes festivais de cinema são mais do que vitrines de obras audiovisuais. Eles são centros de negociação, networking, pitching e entrevistas. E, nesses bastidores, o inglês é a moeda de troca. Quem não domina o idioma pode acabar perdendo oportunidades antes mesmo de perceber que elas existiam.
Imagine o seguinte: você finaliza seu curta, inscreve-o em um festival internacional por meio de plataformas como FilmFreeway ou Festhome (sim, ambas em inglês), ele é selecionado, mas… e agora? Como apresentar sua obra? Como vender sua ideia? Como responder às perguntas de jornalistas, distribuidores e curadores que falam apenas inglês?
É aí que muitos talentos esbarram.
O diretor Walter Salles, por exemplo, não conquistou o circuito internacional apenas com filmes como “Central do Brasil” e “Ainda Estou Aqui”. Seu domínio da língua inglesa foi peça-chave para apresentar seus projetos ao mundo, firmar parcerias e fazer sua voz ecoar além das legendas. Ele soube contar suas histórias dentro e fora das telas, algo que muitos ainda não conseguem fazer.
Inglês conecta, mas também exclui
A pesquisadora Ella Shohat já dizia que o idioma pode ser tanto uma ponte quanto uma barreira. E no cinema não é diferente. O inglês conecta, mas também exclui quem não teve acesso ao aprendizado. Um bom filme pode se perder numa explicação confusa. Uma ideia brilhante pode soar menos brilhante se for mal comunicada.
E não estamos falando só de premiações. O idioma está presente desde a inscrição nos festivais até a hora do café com um agente de vendas. A lógica é simples: quem fala inglês participa mais, circula mais, é visto mais.
A desigualdade linguística também é uma questão social. Muitos cineastas brasileiros, não têm acesso a cursos de idiomas, tradutores profissionais ou mentorias voltadas para internacionalização. A falta do inglês não é falta de capacidade, mas sim de oportunidade.
Por isso, é urgente que instituições públicas e privadas invistam em formação linguística voltada para o audiovisual. Cursos técnicos de inglês para cinema, oficinas de pitching, bolsas de tradução e programas de mentoria podem fazer a diferença entre um projeto engavetado e um filme premiado.
O futuro dos festivais de cinema é plural, diverso e multicultural. Mas essa diversidade só se concretiza se todos puderem falar e serem entendidos.
Porque, no final das contas, o cinema fala muitas línguas. Mas, para ser ouvido no mundo todo, ainda é preciso falar inglês.
Glossário
Confira o significado de termos ligados ao cinema:
- Pitch: apresentação rápida de uma ideia para investidores ou curadores
- Short film: curta-metragem
- Feature film: longa-metragem
- Distributor: profissional ou empresa que comercializa filmes
- Sales agent: agente de vendas que representa o filme em festivais e mercados
- Logline: frase-resumo do seu filme (curta, direta e cativante)
- Press kit: material de divulgação com sinopse, fotos e biografia do diretor
- Screening: sessão de exibição do filme
- Subtitles: legendas