Texto publicado neste blog, em 28/02, mencionava que “Não é de se estranhar que um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia venha a envolver, ainda que não diretamente, o controle da extração e processamento de bens minerais estratégicos.”
Mesmo enfrentando períodos turbulentos, as relações entre os Estados Unidos e a Ucrânia sempre tiveram em seus bastidores o controle da exploração de bens minerais considerados estratégicos.
Segundo dados da própria Ucrânia, o país abriga depósitos de 22 dos 34 minerais considerados críticos pela União Europeia. Esses recursos incluem minerais usados na indústria e na construção civil, além de ferroligas, metais preciosos, metais não ferrosos e elementos do grupo das terras raras.
Embora todos esses recursos sejam de interesse dos Estados Unidos, o foco maior está nas terras raras que compõem um grupo de 17 elementos químicos importantes para diversas tecnologias modernas, como microchips, motores de veículos elétricos e turbinas eólicas. Também são componentes essenciais de baterias recarregáveis, dispositivos eletrônicos, telas de smartphones, televisores e sistemas de iluminação LED, reforçando sua importância na transição energética e no consumo digital.
A China exerce um grande domínio sobre a cadeia produtiva das terras raras, liderando tanto a extração quanto seu beneficiamento. Essa superioridade torna os minerais ainda mais estratégicos em termos geopolíticos. Nesse contexto, o interesse dos Estados Unidos em acessar as reservas da Ucrânia ganha relevância e poderia ser uma peça de negociação em um eventual acordo de paz, conforme alertava o texto publicado em 28/02.
As implicações geopolíticas ficam evidentes em um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia. Com acesso aos recursos minerais celebrado nesse acordo, os Estados Unidos buscarão garantias de que ao menos parte do território ucraniano não seja ocupado por tropas russas — agora ou no futuro. Tendo isso em perspectiva, é importante considerar que parte dos recursos minerais da Ucrânia estão em áreas ocupadas pela Rússia. Isso pode retardar a celebração de um acordo de paz.
Atualmente, a Rússia tem o controle de ao menos dois depósitos de lítio localizados em território ucraniano — um na região de Donetsk e outro em Zaporizhzhia, no sudeste do país. Apesar disso, a Ucrânia ainda mantém sob seu domínio reservas de lítio situadas na região central de Kyrovohrad. A Rússia também ocupou reservas de carvão, mineral estratégico para as siderúrgicas ucranianas.
Em um cenário marcado pela disputa global por recursos estratégicos, o acordo entre Estados Unidos e Ucrânia sobre minerais críticos reforça não somente interesses econômicos, mas também considerações geopolíticas de longo prazo. A presença de depósitos valiosos em território ucraniano — alguns sob controle russo — torna esses recursos peças-chave em qualquer negociação de paz futura.
Mais do que uma simples aliança bilateral, esse entendimento revela como o subsolo da Ucrânia pode influenciar o equilíbrio de forças entre grandes potências, moldando o futuro tecnológico e afetando diretamente os rumos do conflito com a Rússia.