No último encontro que teve com o papa Francisco, em fevereiro deste ano, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, o pontífice pediu à esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um momento a sós.
O papa quis falar com ela distante da comitiva do governo brasileiro que a acompanhava no Vaticano. Reservadamente, ele perguntou sobre o estado de saúde de Lula.
“Antes de receber a comitiva brasileira, ele pediu um momento a sós comigo, quando perguntou sobre a saúde do meu marido, disse que havia acompanhado sua internação e rezado para sua plena recuperação”, contou Janja à CNN.
Francisco ouviu da primeira-dama um relato tranquilizador. Em outubro de 2024, Lula sofreu uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, a residência oficial, e teve que passar por uma cirurgia na cabeça. Em dezembro, foi submetido a um novo procedimento para drenar o hematoma.
Janja fez um relato exclusivo à CNN contando detalhes de suas lembranças dos três encontros pessoalmente que teve com o papa Francisco.
Ela fala em “tempos sombrios” e destaca que o pontífice “trabalhou incansavelmente por uma Igreja Católica mais aberta, inclusiva e misericordiosa”.
Veja os principais trechos do depoimento de Janja à CNN.
2023 e o Círio de Nazaré
“Viver ao mesmo tempo que o Papa Francisco pode ser considerada uma bênção. E ter o privilégio de encontrar com ele por três vezes é algo que levo comigo para sempre. Na primeira vez, em 2023, no Vaticano, acompanhei o meu marido, o presidente Lula, na audiência que ele teve com o Papa Francisco e tive a honra de entregar ao Santo Padre a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Emocionada, falei sobre a padroeira da Amazônia e contei sobre os milhões de fiéis que acompanham o Círio de Nazaré anualmente, sendo uma das celebrações da fé mais bonitas que existem no mundo.”
2024 e um casaco palestino
“Em 2024 tivemos um breve encontro na Itália, durante a cúpula do G7. Ele sempre muito bem humorado e disposto. Neste dia, eu vestia um casaco bordado por mulheres palestinas, algo de grande significado para mim, e não posso deixar de destacar o quão simbólico também foi, em sua última aparição pública, Papa Francisco ter dirigido suas palavras ao povo de Gaza, ressaltando a situação humanitária dramática vivida pelos palestinos e sempre pregando a paz e a união entre os povos.”
2025 e a luta contra a fome
“Em fevereiro deste ano, dias antes de sua internação, tive a honra de ser recebida por Papa Francisco novamente no Vaticano, durante minha ida para a Itália para falar sobre a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Antes de receber a comitiva brasileira, pediu um momento a sós comigo, onde perguntou sobre a saúde do meu marido, disse que havia acompanhado sua internação e rezado para sua plena recuperação. Ele, que sempre lutou pelos mais pobres e marginalizados, parabenizou o Brasil pela iniciativa de lançar a Aliança, e reforçou a necessidade de nos unirmos, sermos fraternos e solidários como nos ensinou a Bíblia, para que todos possamos viver em harmonia.”
Tempos sombrios
A partida do Papa Francisco nos deixa um vazio enorme. Digo sempre o quanto ele era – e sempre será – uma farol para a humanidade. Francisco nos trouxe luz em tempos sombrios. Nos lembrou sempre o verdadeiro significado do Evangelho, trabalhou incansavelmente por uma Igreja Católica mais aberta, inclusiva e misericordiosa. Foi a voz dos pobres e oprimidos, construiu mudanças corajosas e essenciais para a Igreja Católica nos tempos em que vivemos.”