O setor produtivo de arroz do Rio Grande do Sul criticou duramente os dados do levantamento da safra 2024/25 do cereal divulgados nessa terça-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e a Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz) dizem que os dados divulgados pela estatal estão “equivocados” e acusam o governo de superestimar a produção nacional “com o intuito claro de intervir nos preços do cereal, o que pode causar mais problemas para produtores, indústrias, varejistas e, principalmente, consumidores”.
Os produtores gaúchos chamaram de “desinformação” os números publicados pela companhia sobre área cultivada, produtividade e estimativa de colheita no país.
“Externamos à sociedade brasileira nossa profunda preocupação com a nova rodada de desinformação quanto aos dados de área, produtividade e produção de arroz que estão sendo divulgados pela Conab”, disseram as entidades em nota divulgada nesta quarta-feira (15/1).
Consultada sobre o teor da nota, a Conab ainda não se posicionou.
Ontem, a estatal divulgou estimativa de produção de 11,98 milhões de toneladas, com área total plantada de 1,7 milhão de hectares, sendo 988 mil hectares apenas no Rio Grande do Sul.
Farsul e Federarroz contestam esses números e se apegam às informações consolidadas pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), na semana passada, que apontaram para o plantio de 927,8 mil hectares no Estado.
Além da diferença de 60 mil hectares, o que poderia gerar uma diferença expressiva de 500 mil toneladas de arroz na colheita, produtores gaúchos criticam, principalmente em grupos nas redes sociais, a alteração feita pela Conab na previsão de consumo do cereal no país, de 11 milhões de toneladas para 10,5 milhões de toneladas.
Com a mudança, também divulgada ontem, haveria um “adicional” de quase um milhão de toneladas na oferta de arroz no Brasil. A preocupação dos gaúchos é com possível impacto nos preços. “A área plantada efetivamente cresceu em relação à 2024, mas 2,69% e não 9,7%, como erroneamente está sendo informado pela Conab”, justificam as entidades em nota, com base nos dados do Irga.
“Embora pareça pouco, esse erro pode custar bilhões de reais ao país”, completam. Farsul e Federarroz dizem que o Brasil produzirá mais do que é demandado para o consumo e que o excedente precisará ser exportado, e que não haverá desabastecimento.
“Nos preocupam os retrocessos que temos presenciado com o sistema de informação oficial do governo federal. Mais diretores estão saindo do IBGE por não compactuarem com a nova política daquele instituto para a forma de produção e divulgação dos dados, enquanto a Conab continua distribundo informações que se alinham aos interesses ideológicos, mas que divergem da realidade observada”, conclui a nota das entidades gaúchas.
Importações e leilões
As críticas não são novas. O setor gaúcho tem confrontado as ações do governo federal desde o ano passado, quando houve a liberação de R$ 7,2 bilhões de crédito extraordinário para subsidiar a compra e venda de arroz importado.
”Dissemos, de maneira clara, que não faltaria arroz e não faltou, em nenhum supermercado do Brasil, nenhum dia e nem por um minuto, apesar do pânico causado na população pelo próprio governo”, diz a nota.
Mais recentemente, os produtores gaúchos reclamaram do lançamento de leilões de contratos de opção de venda pública de arroz. A medida, realizada em dezembro de 2024, teve baixo alcance.