Alta do dólar está sendo pressionada pela descrença do mercado sobre a efetividade que o pacote de corte de gastos teria sobre as contas públicas, fazendo com que intervenções no câmbio, feitas pelo Banco Central (BC), sejam inefetivas de acordo com economistas consultados pela CNN.
Dólar bateu o patamar de R$ 6,20 nesta terça-feira (17) após Copom indicar deterioração das expectativas de inflação e aumento da atividade econômica na contramão da atual política monetária contracionista. Mas, mesmo antes da ata da última reunião do Banco Central, o pessimismo do mercado já vinha se manifestando nas últimas semanas e na véspera.
A divisa norte-americana atingiu a marca de R$ 6 em 29 de novembro e renovando recordes nas sessões seguintes.
Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, explica que a aparente volatilidade do mercado é resultado da falta de confiança em medidas do Governo Federal em assumir um comprometimento fiscal.
“É uma questão de segurança de capital. O mercado acaba não vendo uma factível no pacote fiscal apresentado pelo governo e uma dinâmica de aumentar arrecadamento sem planos para diminuir despesas. Quando você gera desconfiança, investidores correm para algo mais seguro, como dólar e ouro”, afirma.Play Video
Atualmente, entre os projetos que devem ser analisados pelo Congresso ainda este ano, estão a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA) e pacote de medidas que estima uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos.
“Ainda não está claro sobre o que será feito para colocar as contas em ordem. O aumento de juros não ajuda neste cenário fiscal, uma vez que a dívida pública está indexada à taxa Selic, tornando insustentável a situação”, complementa Gusmão.
O novo Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (16) traz as primeiras projeções para 2025 no patamar de 14% ao ano em 2025, após a decisão do Copom em elevar a taxa Selic a 12,25% ao ano na última semana.
Para Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, as decisões do executivo na condução de políticas fiscais acabaram “incendiando” movimentos de alta naturais do mercado.
“Falta uma sinalização do executivo e legislativo de entendimento sobre como conduzir essa política [fiscal]. Nesse cenário o BC deveria ser reativo e não assumir o papel de condutor”, explica.
Segundo o economista, o cenário dos próximos dois anos deve ser de dólar forte, devido à eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
“Seria uma reação natural de qualquer forma, outros países emergentes têm uma desvalorização frente a moeda americana, mas não no nível do real”, pontua.
No acumulado do ano, o real tem queda de 27,53% frente ao dólar. Moedas de outros emergente encara quedas similares, como peso mexicano com desvalorização de 15,9%.
Gusmão destaca que nesse contexto os leilões de linhas feito pelo BC não ajudam muito a melhorar a situação do câmbio por introduzir uma liquidez em dólar ao mercado já esperada neste período.
Nesta terça-feira, o BC realizou dois novos leilões para conter a escalada da moeda, em um deles, o valor foi de US$ 2,015 bilhões. Na segunda-feira (16) um total de US$ 3 bilhões foram leiloados com compromisso de recompra pelo BC.
“Já é esperado esses leilões no final de ano para atender a demanda alta e esperada para este final de ano para envio ao exterior. Nesse sentido, a liquidez desses pregões são absorvidos rapidamente pelo mercado e só afetam o câmbio em curtíssimo prazo”, explica.