Com o início de uma nova temporada de balanços se aproximando, o mercado segue atento com as expectativas das empresas brasileiras no terceiro trimestre de 2024.
Os primeiros resultados das companhias negociadas na bolsa serão publicados na terça-feira (22), com cronograma até 15 de novembro.
A CNN conversou com especialistas, que avaliaram o que os investidores devem olhar diante de um cenário econômico desafiador, com cenário fiscal no Brasil e decisão de juros nos Estados Unidos no foco dos mercados.
Para Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, os balanços devem apresentar uma recuperação moderada em alguns segmentos, com destaque para a resiliência de empresas ligadas a commodities, como petróleo e mineração, além dos setores de consumo básico e financeiro.
Já para os setores mais dependentes do crescimento interno, como varejo e construção civil, a previsão é de maior dificuldade.
“O impacto das políticas monetárias globais, especialmente as decisões sobre juros nos Estados Unidos e Europa, além do cenário fiscal no Brasil, será crucial. Exportadoras podem se beneficiar da desvalorização do real, enquanto empresas voltadas ao consumo interno devem sentir mais os efeitos da desaceleração”, pontua Bento.
No que os investidores devem ficar atentos?
Para os analistas, os investidores precisam prestar atenção em margens de lucro, endividamento e geração de caixa. Com isso, empresas que conseguirem manter ou ampliar suas margens em meio à inflação e juros elevados tendem a se destacar.
“Em tempos de juros altos, também é importante avaliar o nível de endividamento e a estrutura de capital, pois empresas muito alavancadas correm mais riscos”, diz Bento.
Dessa forma, ele acrescenta que as companhias que geram caixa de forma consistente tendem a demonstrar maior solidez. No sentido do cenário atual, setores como agronegócio e exportadoras podem se beneficiar.
Para o especialista da FMB Investimentos, as empresas que apresentarem uma visão clara de futuro — também chamado de guidance — também devem estar no radar dos investidores.
Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, pontua que outra questão importante são as previsões de futuro.
“Mais do que os resultados passados, preste atenção nas projeções das empresas. O que elas estão planejando para o próximo trimestre? Isso pode dizer muito sobre o que esperar para o futuro”.
Dicas para quem quer investir na bolsa
A principal dica para quem quer investir é diversificar os investimentos. Essa prática é essencial para reduzir os riscos e garantir uma carteira mais equilibrada. Analisar os fundamentos, estudar o mercado e focar no longo prazo também são pontos essenciais.
“A bolsa de valores não é um lugar para ganhar dinheiro rápido. Tenha paciência e pense no longo prazo, pois é aí que os bons resultados aparecem”, comenta Silva.
Na avaliação de Bento, os investidores que querem começar a investir na B3 devem evitar ações especulativas e focar em investimentos de longo prazo.
“Uma carteira bem diversificada continua sendo essencial para mitigar riscos, e é importante acompanhar as tendências globais e seus impactos no mercado local”, comenta, acrescentando que, para os investidores que já estão no mercado, o conselho é reavaliar os fundamentos das empresas em carteira.
Além disso, o profissional afirma que contar com a ajuda de um especialista pode fazer toda a diferença, tanto para quem já investe quanto para quem está começando, uma vez que contará com uma orientação mais segura e estratégica para as decisões de investimento.
Setores que merecem atenção
Tendo em vista as quedas dos preços das commodities, Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, avalia que as empresas do setor devem apresentar resultados ruins, em comparação com o balanço do trimestre anterior.
“Eu acho que dois setores para ficarmos de olho neste trimestre são os setores de utilidades públicas, tanto energia elétrica quanto telecom, e o setor financeiro”, diz.
Já Silva diz que as empresas que devem chamar sua atenção são Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4). Isso porque seus lucros são muito impactados pela oscilação nos preços de commodities, como o minério de ferro e o petróleo, que dependem da demanda da China.
O gigante asiático, porém, está sob pressão do mercado em meio tentativas para reaquecer a economia, sobretudo setores que alavancaram o crescimento nos últimos anos, como a construção civil.
A economia chinesa registrou alta de 4,6% no terceiro trimestre, segundo dados publicados nesta quinta-feira (17), o crescimento mais lento desde o início do ano passado.
No setor bancário, o especialista destaca Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), com foco na qualidade da carteira de crédito e na inadimplência.
“O desempenho das receitas com serviços e produtos financeiros também será um ponto de atenção”, pontua.
Embora o Bradesco tenha “patinado” um pouco mais, para Nobre, o banco apresentou uma virada de chave importante no último trimestre. Já o Santander, ao que o cenário indica, deve permanecer em uma recuperação com ritmo mais acelerado.
“Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) seguem bem à frente, mantendo rentabilidade acima de 20% em relação ao retorno sobre investimentos (ROI)”, observa.
Já para o setor de consumo e varejo, o mercado ficará de olho em Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e Assaí (ASAI3), afirma o sócio da GT Capital.
“Os investidores vão avaliar como o aumento dos juros e a inflação afetaram o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, as vendas e lucros dessas empresas”.