O ex-policial Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, vai retomar o seu depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (28).
Este será o segundo dia de depoimento de Lessa, que prestou esclarecimentos na terça-feira (27). Durante sua oitiva, Lessa voltou a acusar o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e seu irmão Domingos Brazão, de serem os mandantes do assassinato de Marielle.
O ex-policial afirmou que o seu “pacto de silêncio” foi quebrado e que os mandantes do crime são pessoas perigosas. “O fato de ter praticado um crime não me coloca como sendo mais perigoso que eles”, complementou Lessa.
A sessão de depoimento ainda foi marcada pelo choro de Chiquinho Brazão ao ver seus familiares. Ele está preso desde março, acusado de ser um dos mandantes do crime.
Depoimento Lessa
Durante seu depoimento, Lessa admitiu que foi movido pela “ganância” ao aceitar a proposta de assassinar a política em troca de loteamentos em terras griladas no Rio de Janeiro.
“Aquilo me deixou realmente impactado”, disse Lessa, fazendo referência ao possível lucro de R$ 100 milhões com a venda dos lotes.
“Eu me deixei levar. Foi ganância. Eu, na verdade, nem precisava. Estava numa fase muito tranquila da minha vida, e eu caí nessa asneira. Foi ganância. Realmente, foi uma ilusão danada que eu caí”, declarou.
As declarações de Lessa foram realizadas durante audiência por videoconferência no STF em que são ouvidas as testemunhas de acusação na ação penal contra os réus por ordenarem e planejarem a morte de Marielle.
Foi a primeira vez que o ex-policial falou sobre o caso após apontar os supostos mandantes do crime em delação premiada.
Choro de Brazão
O deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, se emocionou ao ver seus familiares por videoconferência durante o 12º dia de audiência sobre o caso.
Durante a sessão, alguns familiares de Brazão que estavam acompanhando a audiência ligaram suas câmeras. Ao ver seus rostos na tela, Brazão não conseguiu conter a emoção.
Brazão está preso desde março na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Com lágrimas nos olhos, ele começou a acenar e mandar beijos para seus familiares, que responderam com acenos. Alguns também apareciam emocionados. Uma das pessoas na sala virtual exibiu uma folha com os dizeres: “Deus está conosco”.
Réus
Em junho, por unanimidade, a Primeira Turma do STF tornou réus cinco suspeitos de serem os mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson e de participarem do planejamento dos crimes:
- Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (homicídio e organização criminosa);
- Chiquinho Brazão (sem partido), deputado federal (homicídio e organização criminosa);
- Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro (homicídio);
- Ronald Paulo de Alves Pereira, policial militar apontado como ex-chefe da milícia de Muzema, na zona Oeste do Rio de Janeiro (homicídio);
- Robson Calixto Fonseca, assessor de Domingos Brazão (organização criminosa).
A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em maio.
Segundo o órgão, Marielle se tornou a principal opositora e “o mais ativo símbolo da resistência” aos interesses econômicos dos irmãos Brazão.
Mirando o mercado imobiliário irregular, Domingos e Chiquinho teriam investido em práticas de “grilagem” nas mesmas áreas de milícia em que constituíram os seus redutos eleitorais. Segundo a denúncia, as iniciativas políticas da vereadora, em assuntos ligados ao tema, “tornaram-se um sério problema” para os Brazão, e motivaram o planejamento da sua execução.
Então diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil no Rio de Janeiro na véspera do assassinato de Marielle e Anderson. Rivaldo teria garantido aos Brazão que a investigação do crime seria “dificultada” caso fosse necessário.
As defesas negam as acusações, criticam a denúncia e a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa. Também contestam o papel da Polícia Federal (PF) na investigação.