O Ibovepa encerrou a sessão desta segunda-feira (19) no maior patamar da história e o dólar teve queda firme contra o real, ampliando o cenário positivo da semana passada enquanto investidores esperam por novos dados da economia dos Estados Unidos.
Investidores também mantêm no radar o encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, nos EUA, onde o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, deve discursar na sexta-feira (23).
No cenário doméstico, investidores repercutiram falas do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, que afirmou ver o cenário “ainda mais desconfortável” com piora das expectativas dos analistas para este ano.
O Ibovespa encerrou a sessão com avanço de 1,36%, aos 135.777 pontos. Durante o pregão, o índice chegou ultrapassar a marca dos 136 mil pontos, a maior variação intradia da história.
O resultado desta segunda ultrapassa a máxima de 134.193 pontos alcançada em 27 de dezembro do ano passado.
O destaque do dia ficou novamente com Petz, que subiu quse 24% com mercados ainda repercutindo a fusão com a Cobasi, anunciada na semana passada, enquanto Vale (VALE3) subiu cerca de 1,6%.
Na ponta oposta, petroleiras caíram em bloco acompanhando a desvalorização da commodity, com Petrobras (PETR4) perdendo 0,16%.
O clima positivo nos mercados globais deu espaço para novo alívio no câmbio, com dólar encerrando o dia com perda de 0,99%, negociado a R$ 5,413 na venda.
O movimento vai em linha com a perda da divisa norte-americana ante a cesta de moedas mais forte do globo, com recuo próximo de 0,5%.
O principal índice do mercado brasileiro flertava com o novo pico desde as últimas semanas, após fechar oito pregões seguidos em alta, acumulando valorização de 7,1% no período.
A escalada do Ibovespa foi impulsionada por sentimento de alívio nos mercados globais após dados dos EUA afastarem a expectativa de recessão na maior economia do mundo, ao mesmo temo que reforçaram que os juros devem começar a cair a partir de setembro.
Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital, pontua que a ampliação do bom humor para esta semana está pautada na expectativa de PMIs norte-americanos, além de falas de Powell no simpósio de Jackson Hole.
Na agenda ainda há publicação da ata da última reunião do Fed, que manteve os juros entre 5,25% e 5,5%, maior patamar em mais de duas décadas.
“Goldman Sachs reduziu a probabilidade em 20% de recessão nos EUA, depois de dados da semana passada que vieram positivos, motivos pelos quais tivemos a forte valorização das ações globais, lideradas pelas empresas de tecnologia e inteligência artificial. Isso também impulsiona positivamente a nossa bolsa”, pontua.
O clima também repercutiu positivamente em Wall Street e nas principais praças da Europa.
Novas altas no radar
A equipe do BB Investimentos pontua que os indicadores “apontam que a bolsa deve seguir sua tendência de alta”, apesar de sinalizar que pontos de correção podem ocorrer nas negociações.
“A análise gráfica nos mostra que o Ibovespa opera muito próximo ao limite superior de um canal de alta. Nesse patamar, é comum a ocorrência de curtos períodos de realização, mesmo dentro da tendência”, informou a entidade em nota.
O BB Investimentos também destacou que os volumes transacionados na última semana foram superiores à média das últimas semanas, também amparados pela safra de divulgação de balanços do segundo trimestre “positiva”, com o fluxo estrangeiro como principal direcionador do desempenho das ações.
Nesta sessão, apesar dos saltos de Petz, Magazine Luiza e Cogna, as principais contribuições positivas eram Vale, com a alta do minério de ferro, e Bradesco, com “upgrade” do Goldman Sachs.
Na mesma linha, o Itaú BBA indicou que novos patamares de resistência podem estar se formando, com possibilidade de o Ibovespa alcançar até os 150 mil pontos.
“Se o índice continuar marcando novas máximas ou fechar três pregões pelo menos acima dos 134.400 pontos, mostrará resiliência no movimento e os próximos objetivos estão em 137.000, 141.000 e 150.000 pontos”, informou a equipe econômica.
Cenário doméstico
Na cena doméstica, o mercado voltou a ver piora nas expectativas da inflação e subiu a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 4,22% ao fim deste ano, segundo dados do Boletim Focus publicados nesta manhã. Foi a quinta semana seguida de revisão para cima da previsão, que na edição passada apontava para 4,2%.
Para 2025, a expectativa sofreu uma redução, passando de 3,97% para 3,91%.
O centro da meta oficial para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou ainda que os economistas agora veem a Selic fechando 2025 em 10% ao ano, ante 9,75% na semana anterior.
Pela nona semana consecutiva, por outro lado, eles mantiveram a expectativa para a taxa de juros ao fim deste ano no patamar atual de 10,5%, projetando, portanto, que o BC não fará movimentações nas reuniões de política monetária que restam em 2024.
Mendonça, da AVG Capital, pontua que a visão do mercado é de que ainda não o momento de corte da Selic, e que os dados do Focus podem trazer à tona ideias de novo aumento da taxa básica na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro.
“Além disso, a projeção de queda de inflação para 2025 também vai em linha com a projeção de Selic maior em 2025”, explica.
Mais cedo, Gabriel Galípolo, diretor de Política Econômica do BC e um dos nomes cotados para assumir a presidência da autoridade monetária em 2025, disse que o cenário é ainda mais desconfortável para a condução da política monetária com o mercado projetando uma inflação mais alta e juros mais elevados à frente.
Em palestra no evento Conexão Empresarial, em Belo Horizonte, Galípolo reafirmou que toda a diretoria do BC está disposta a elevar a taxa básica de juros se necessário.