O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), discursou brevemente na quarta-feira (6) em uma sessão tumultuada no plenário.
As falas marcaram a “reabertura” da Casa Legislativa, mais de 24 horas depois dela ser ocupada por congressistas contrários à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e favoráveis à anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Após sentar na sua cadeira, que estava ocupada pelo deputado federal Marcel Van Hattem (Novo), Hugo pediu para que os parlamentares de oposição deixassem a Mesa Diretora, o que não aconteceu.
O presidente, então, mencionou em seu discurso um “clima conflituoso”, negou omissão e disse que a oposição tem direito a se manifestar, desde que o faça com base no regimento interno da Casa e na Constituição brasileira.
Veja abaixo os principais pontos do discurso de Hugo Motta:
“Respeito a essa mesa, que é inegociável”
Um dia depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, na tarde de segunda-feira (4), deputados e senadores de oposição se mobilizaram para ocupar os plenários de ambas as Casas do Congresso Nacional.
Na Câmara, a ocupação durou mais de 24 horas. Para resolver o impasse, Hugo conversou com os líderes ao longo da tarde de quarta-feira e decidiu convocar uma sessão para às 20h30. No entanto, o presidente da Casa só conseguiu chegar a sua cadeira (ocupada por Marcel van Hattem) e dar início aos trabalhos depois das 22h.
Aberta a sessão, Hugo reiterou em sua fala a “capacidade de buscar dialogar com todos os líderes dessa Casa”.
Quero começar dizendo que a nossa presença nessa noite de hoje é para garantir duas coisas: primeiro, respeito a essa mesa, que é inegociável. Segundo, para que essa Casa possa se fortalecer
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados
“Uma das cadeiras mais desafiadoras”
Ao retomar seu posto na Mesa Diretora da Câmara, Hugo rotulou a cadeira como “uma das mais desafiadoras do país” diante do momento vivido pelo país.
“Nesse momento talvez estejamos ocupando uma das cadeiras mais desafiadores do país pelo momento que estamos vivendo. Por aquilo que nos divide, pelas posições de cada um, e essa sempre foi e sempre será a Casa do debate”
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados
“Não podemos negociar nossa democracia”
Sem citar nominalmente as sanções aplicadas pelos Estados Unidos a Moraes, nem a prisão domiciliar de Bolsonaro, Hugo enfatizou que a democracia não pode ser negociada.
Tivemos um somatório de acontecimentos recentes que nos trouxeram esse sentimento de ebulição dentro da Casa. É comum? Não. Estamos vivendo tempos anormais? Também não. Mas é justamente nessa hora que não podemos negociar nossa democraciaHugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados
“Não esperem nunca omissão”
Outro ponto mencionado pelo presidente da Câmara foi uma suposta “omissão”. Hugo vem sendo acusado pela oposição de não colocar em discussão projetos de grande apelo para o grupo, em especial o que beneficia condenados pelos atos do 8 de Janeiro.
Nem me distanciarei da firmeza necessária para presidir essa Casa em tempos tão desafiadores. Senhores e senhoras, não esperem nunca omissão para decidir sobre qualquer tema
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados
A fala também foi marcada pela defesa de manifestações, desde que obedeçam o regimento interno da Casa e à Constituição.
“A oposição tem todo o direito de se manifestar, a oposição tem todo o direito de expressar sua vontade, mas tudo isso tem que ser feito obedecendo nosso regimento”, complementou Hugo.
A oposição fez uma obstrução física, algo raro no Congresso. Geralmente, as obstruções são feitas de forma indireta, como requerimentos para adiar uma votação ou a discussão de um texto.
“Agradar nenhum dos polos”
Hugo também classificou “o que aconteceu” na Câmara como algo negativo e que não condiz com a história da Casa Legislativa, além de afirmar que não está ali para agradar um dos lados do espectro político.
A obstrução promovida pela oposição impediu o retorno dos trabalhos pós-recesso parlamentar, agendados para terça-feira (5).
Não vamos permitir que atos como esse que aconteceram entre o dia de ontem e o dia de hoje possam ser maiores que o plenário e a vontade dessa Casa. Não estou aqui para momentaneamente agradar nenhum dos polos
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados
“Soluções para o Brasil à frente de projetos individuais”
A pouco mais de um ano da eleição presidencial de 2026, Hugo ressaltou, mais uma vez, a busca por diálogo e soluções para os problemas institucionais do Brasil, sinalizando que projetos pessoais e eleitorais não podem se sobrepor aos esforços para superar as dificuldades enfrentadas pelo país.
A crise institucional, os debates que agora nos colocam em um possível conflito internacional, penso que nesta Casa mora a construção dessa soluções para o nosso país, que têm que estar sempre em primeiro lugar para não deixarmos que projetos individuais, pessoais e até eleitorais possam estar à frente
Hugo Motta (Republianos-PB), presidente da Câmara dos Deputados