Ao completar seus primeiros 100 dias no cargo no final de abril, o presidente Donald Trump fez uma declaração surpreendente sobre seu progresso nas negociações tarifárias: ele havia concluído acordos comerciais com 200 países. Mais de dois meses depois, Trump anunciou apenas três desses negócios – com China, Reino Unido e Vietnã.
Esta quarta-feira (9) marca o dia que o republicano havia estabelecido há três meses como prazo final para todos os países chegarem a um acordo ou enfrentarem tarifas “recíprocas” mais altas.
O presidente dos EUA desde então reconheceu publicamente que pausar essas “tarifas de libertação” até 9 de julho deixou tempo insuficiente para negociar com praticamente todos os países do mundo.
Trump inicialmente esperava concluir mais acordos comerciais até o prazo de quarta-feira (9), mas nas últimas semanas foi convencido de que fechar esses acordos não podem acontecer mais rapidamente, dizem fontes familiarizadas com o assunto à CNN.
É por isso que sua retórica pública mudou nas últimas semanas para dizer que enviaria cartas estabelecendo tarifas mais altas aos parceiros comerciais dos EUA, obtendo efetivamente resultados enquanto as negociações continuam.
Então, o republicano concordou em adiar o prazo para 1º de agosto para dar aos países que estão próximos de um acordo um pouco mais de tempo para negociações – particularmente a União Europeia, que está prestes a anunciar um acordo comercial com os Estados Unidos.
Negociadores comerciais da UE e dos EUA estão próximos de um negócio que estabeleceria tarifas de 10% e definiria os parâmetros para discussões comerciais futuras, segundo três autoridades familiarizadas com o assunto.
O progresso nas negociações com os europeus, em particular, foi uma consideração fundamental para estender o prazo além de 9 de julho.
O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, apontou as negociações com a UE e a visão de que várias outras negociações importantes estavam em suas etapas finais para defender mais tempo, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Trump ainda precisa aprovar qualquer acordo final e as negociações entre os dois lados continuam, mas as autoridades disseram que o acordo seria anunciado antes do final da semana.
Olof Gill, porta-voz de comércio da Comissão Europeia, confirmou em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (9) que os negociadores comerciais da UE estão em discussões ativas com o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o Representante de Comércio dos EUA, Jaimeson Greer, e que um acordo deve ser anunciado nos próximos dias.
O progresso marca uma mudança dramática no antigo e público desdém de Trump pela UE, uma visão que serviu como pano de fundo para meses de discussões comerciais frustrantes e intratáveis este ano.
Mas o tom do presidente americano – e nos bastidores, o teor e o ritmo das negociações – mudou dramaticamente nas semanas desde que ele ameaçou tarifas de 50% sobre a UE em uma postagem nas redes sociais em maio.
Essa ameaça inesperada e dramática provocou uma resposta imediata da UE e preparou o terreno para um esforço urgente de alcançar alguma forma de acordo antes que as tarifas “recíprocas” de Trump entrassem em vigor.
Autoridades da UE têm informado os países membros sobre a estrutura e o processo de negociação proposto, disse um dos funcionários do bloco, acrescentando que, apesar dos interesses frequentemente divergentes das nações do bloco, o acordo foi apresentado como a melhor e provavelmente única maneira de evitar uma escalada dramática nas tarifas em 1º de agosto.
Os negociadores de Trump mantiveram uma linha dura sobre o impulso da UE por isenções a tarifas setoriais já em vigor ou futuras, disseram as autoridades. Por exemplo, um esforço para reduzir a tarifa de 25% de Trump sobre automóveis é um foco central das discussões em estágio final, assim como um esforço para reduzir as tarifas de 50% sobre o aço.
Os negociadores americanos indicaram alguma disposição para considerar indústrias-chave da UE para possíveis reduções de taxas, mas isso exigiria a aprovação final de Trump, disseram as autoridades.
Autoridades europeias também se comprometeram a aumentar significativamente as compras de bens dos setores de energia e defesa dos EUA.
Trump tem ficado frustrado com a falta de progresso no comércio. Durante uma reunião de gabinete na terça-feira (8), ele disse que suas ameaças tarifárias trouxeram com sucesso os parceiros comerciais à mesa – mas os acordos que outros países ofereceram aos Estados Unidos são inaceitáveis.
“Eles dizem… “Nós daremos a você acesso total, e você não precisa pagar nenhuma tarifa, mas por favor não nos cobre tarifas”, e nós não gostamos desse acordo”, disse Trump. “Não somos linha-dura, mas já está na hora de os Estados Unidos da América começarem a cobrar dinheiro de países que estavam nos roubando – nos roubando – e rindo pelas nossas costas de como éramos estúpidos.”
Trump enviou várias cartas esta semana estabelecendo novas tarifas, incluindo tarifas de 25% sobre Japão e Coreia do Sul. Outras cartas foram divulgadas nesta quarta-feira (9).
A Índia tem sido há muito tempo vista como o principal parceiro mais provável a assinar um acordo-quadro com os EUA. Mas os negociadores comerciais indianos endureceram suas posições nos últimos dias, segundo autoridades americanas.
A Índia também é membro do grupo BRICS, portanto não está claro o que significa a ameaça de Trump de domingo de impor tarifa de 10% sobre os países do BRICS para as negociações comerciais.
A Coreia do Sul também era vista há semanas como provável de alcançar um acordo, embora as tarifas automobilísticas de Trump permaneçam como ponto crucial nessas negociações, e a carta de Trump na segunda-feira (7) pode ter prejudicado esse processo.
O Japão se distanciou progressivamente de um desfecho nas últimas semanas, e Trump lançou dúvidas significativas sobre as negociações que antes pareciam caminhar para um acordo certo.
Os negociadores comerciais japoneses, que há apenas algumas semanas corriam para estabelecer as bases de um anúncio até a cúpula do G7 do mês passado, têm transmitido mensagens muito mais pessimistas em suas declarações públicas nos últimos dias.
O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, disse na terça-feira (8) que, apesar das “discussões sérias e sinceras”, o Japão não conseguiu chegar a um acordo, segundo declarações traduzidas pela CNN. “Lamentamos profundamente que o governo dos EUA tenha imposto tarifas adicionais e anunciado planos para aumentar as alíquotas tarifárias”, disse Ishiba.
Indonésia, Camboja e Tailândia apresentaram ofertas substanciais às suas contrapartes americanas nas últimas duas semanas em um esforço para se posicionarem à frente na fila por um acordo e são prováveis candidatos para qualquer acordo de curto prazo nos próximos dias, disseram autoridades americanas.
O Brasil intensificou seus esforços para garantir um acordo, incluindo conversas bilaterais no final da semana passada destinadas a expandir uma oferta anterior de reduzir drasticamente as tarifas sobre certos produtos americanos, disseram autoridades da administração americana.
O ponto de discórdia mais prevalente entre as equipes comerciais estrangeiras tem sido a falta de clareza sobre o que suas contrapartes americanas vislumbram para qualquer acordo final.
Mas o maior obstáculo nas negociações mais abrangentes tem sido a existência – ou promessa de imposição – das tarifas setoriais de Trump sobre automóveis, aço e produtos farmacêuticos, disseram autoridades americanas.