A quimioterapia pode trazer diversos efeitos colaterais para o paciente em tratamento oncológico, como perda de apetite, náusea, vômitos, enfraquecimento do sistema imunológico e, em alguns casos, comprometimento da memória e dificuldade de concentração.
Um estudo recente, publicado no dia 6 deste mês, mostrou que um tratamento não invasivo pode ser uma promessa para reduzir os efeitos cognitivos causados pela quimioterapia. A descoberta foi publicada no Science Translational Medicine.
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que a exposição diária à luz e ao som em uma frequência de 40 hertz (ciclos por segundo) protege as células cerebrais dos danos induzidos pela quimioterapia, incluindo perda de memória e o comprometimento de outras funções cognitivas.
Esse tratamento com luzes piscantes foi desenvolvido, anteriormente, como uma forma de tratar a doença de Alzheimer. Porém, segundo os pesquisadores, esse método parece ter efeitos que podem ajudar no tratamento de uma série de distúrbios neurológicos.
“O tratamento pode reduzir os danos ao DNA, reduzir a inflamação e aumentar o número de oligodendrócitos, que são as células que produzem mielina ao redor dos axônios”, diz Li-Huei Tsai, diretor do Instituto Picower de Aprendizagem e Memória do MIT e professor do Picower em o Departamento de Cérebro e Ciências Cognitivas do MIT, em comunicado à imprensa. “Também descobrimos que este tratamento melhorou o aprendizado e a memória e melhorou a função executiva dos animais.”
Efeito da luz e som nas ondas cerebrais
Pesquisas anteriores sugeriram que pessoas com Alzheimer apresentam frequências gamas — ondas cerebrais que variam de 25 a 80 hertz e que podem contribuir para funções cerebrais como atenção, percepção e memória — prejudicadas. Diante disso, Tsai e seus colegas começaram a investigar o uso da luz piscando a 40 hertz como uma forma de melhorar os sintomas cognitivos da demência.
Na ocasião, os pesquisadores descobriram, através de estudos em ratos, que a exposição à luz piscante a 40 hertz ou a sons com frequência de 40 hertz pode estimular as ondas gamas no cérebro, levando a efeitos protetores, incluindo a prevenção de placas beta amiloides — principal biomarcador do Alzheimer.
Ensaios clínicos de fase 1, feitos em pessoas com Alzheimer em estágio inicial, também mostraram que o tratamento pode oferecer benefícios neurológicos e comportamentais.
Novas descobertas
No novo estudo, os pesquisadores decidiram verificar se esse tratamento também poderia neutralizar os efeitos cognitivos do tratamento quimioterápico. Pesquisas anteriores mostraram que o tratamento para câncer pode induzir inflamações no cérebro, além de reduzir a substância branca (rede de fibras nervosas que ajudam diferentes partes do cérebro a se comunicarem).
Além disso, os medicamentos quimioterápicos promovem a perda de mielina, uma camada que permite que os neurônios propaguem sinais elétricos.
Diante disso, os pesquisadores analisaram ratos que receberam cisplatina, um medicamento quimioterápico frequentemente usado no tratamento do câncer de testículo e ovário, durante cinco dias, com pausa de mais cinco dias, voltando com o tratamento depois pelo mesmo período. Um grupo de camundongos recebeu apenas o medicamento quimioterápico, enquanto outro grupo também recebeu terapia com luz e som de 40 hertz diariamente.
Após três semanas, os ratos que receberam cisplatina, mas não receberam terapia gama, apresentaram efeitos esperados da quimioterapia, como redução do volume cerebral, danos do DNA e inflamação. O outro grupo, que recebeu terapia gama junto com o medicamento, apresentaram redução significativa de todos esses sintomas.
Além disso, de acordo com o estudo, o tratamento com luz e som a 40 hertz também trouxe benefícios no comportamento. Os ratos que receberam a terapia gama tiveram um desempenho melhor em testes que avaliaram a memória e a função executiva.
Para somar, os pesquisadores descobriram que o tratamento gama junto com cisplatina trouxe benefícios que puderam ser observados até quatro meses depois. No entanto, a terapia com luz e som foi menos eficaz quando iniciado três meses após o término da quimioterapia.
Os pesquisadores, agora, querem testar o tratamento gama em outras doenças neurológicas, incluindo Parkinson e esclerose múltipla. “O foco principal do meu laboratório agora, em termos de aplicação clínica, é o Alzheimer; mas esperamos que possamos testar esta abordagem também para algumas outras indicações”, diz Tsai.
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