Savick Brenna/Governo do Tocantins
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) em parceria com o Ministério da Saúde (MS) realiza nos dias 17 e 18 de setembro, em Palmas, o Treinamento sobre testagem da enzima G6PD e aplicação do novo algoritmo de tratamento da malária. A capacitação acontece no auditório do Anexo I da Pasta e é voltada para profissionais de saúde dos municípios prioritários e do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins (DSEI-TO).
A capacitação é coordenada pela Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) e integra as ações do Plano de Ação Anual Tocantins sem Malária, que tem como meta a prevenção da reintrodução de casos e do restabelecimento da transmissão da malária no estado.
“O treinamento para a implementação do tratamento com a tafenoquina e do teste de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD) para a malária é muito importante no processo de consolidação da eliminação da malária no Tocantins. É um privilégio estarmos recebendo a equipe do Ministério da Saúde para a realização do treinamento de nossa equipe, e fortalecendo a nossa rede de atenção à saúde”, destacou a Diretora de Vigilância das Doenças Vetoriais e Zoonoses, Mary Ruth Batista Glória Maia.
Programação
Ao todo, foram inscritos 99 profissionais de 55 municípios. A programação conta com atividades teóricas no período da manhã e práticas no período da tarde, com ênfase na realização do teste de G6PD, manuseio dos kits diagnósticos e aplicação do novo algoritmo terapêutico. A expectativa é que os profissionais capacitados multipliquem o conhecimento em seus municípios, assegurando maior segurança no tratamento da malária e ampliando a vigilância em saúde.
O treinamento é conduzido pela Coordenação de Eliminação da Malária (CEMA/DEDT/SVSA/MS), com apoio da SES-TO e dividido em duas turmas. Na quarta-feira, 17, das 9h às 18h, participam os municípios das regiões de saúde Amor Perfeito e Bico do Papagaio. Na quinta-feira, 18, das 9h às 18h, o treinamento será ofertado aos municípios das regiões de saúde Cantão, Capim Dourado, Cerrado Tocantins Araguaia, Ilha do Bananal, Médio Norte Araguaia, e Sudeste.
“Vamos fazer um treinamento da implementação da tafenoquina, que é uma medicação inovadora que, desde março do ano passado, o Brasil começou a implementar de forma gradual no território. É uma droga utilizada no tratamento da malária. A grande vantagem dessa medicação é que você faz em dose única, então se a pessoa testar positivo para malária vivax, ela vai fazer um dia de tafenoquina e três dias de cloroquina. Antigamente, o tratamento era feito em sete dias, então esse é o grande pulo do gato, porém, para utilizar essa medicação, a gente tem que fazer um teste que chama G6PD. É um aparelho que a gente vai treinar os profissionais a utilizarem pra saber se a pessoa pode ou não tomar tafenoquina, porque uma porcentagem pequena das pessoas, mais ou menos 5%, podem ter uma deficiência nessa enzima, que chama de G6PD” explicou o coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, Alexander Vargas.
Sustentabilidade da eliminação
O Tocantins vem trabalhando de forma contínua pela sustentabilidade da eliminação da malária. Desde 2020, o estado desenvolve e atualiza anualmente o Plano de Ação Anual Tocantins sem Malária, consolidando estratégias de vigilância, diagnóstico, tratamento oportuno e resposta rápida a casos suspeitos.
“A nossa intenção aqui é que, além de implementar o teste de G6PD e a utilização da tafenoquina, a gente também discuta muito sobre tipos de malária, tratamento e diagnóstico. A gente tem aumentado bastante nos últimos dois anos a testagem da malária pelo teste rápido. Então, aqui é um momento para discutir sobre malária, tirar dúvidas com os profissionais, ajudar na rede do estado, e fortalecer a parte de vigilância e assistência. Com o objetivo de eliminar a malária até 2035, a gente tem um plano de eliminação da doença, no qual o estado do Tocantins está indo muito bem e já entrou na fase de eliminação”, destacou Alexander.
Importância da testagem de G6PD
O diagnóstico da deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é fundamental para o tratamento seguro da malária causada pelo Plasmodium vivax. Isso porque pacientes com deficiência de G6PD podem apresentar complicações graves quando tratados com medicamentos como a primaquina ou a tafenoquina.
Desde a Portaria SECTICS/MS nº 27/2023, tanto a tafenoquina (terapia de dose única para cura radical do P. vivax) quanto o teste quantitativo de G6PD passaram a integrar o Sistema Único de Saúde (SUS), tornando a testagem obrigatória antes do uso da nova medicação.
A tafenoquina representa um avanço importante no tratamento, pois reduz o tempo necessário de administração em comparação com a primaquina (de sete dias ou até oito semanas, dependendo do esquema, para uma única dose). Além disso, contribui na prevenção de recaídas, ao eliminar as formas latentes do parasito no fígado (hipnozoítos), responsáveis pela reativação da doença.
O enfermeiro e representante do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins (DSEI-TO), Leiderlan Dias Gama, participa da capacitação e destacou a importância do treinamento para a comunidade indígena. “Está sendo muito importante para a gente enquanto saúde indígena. Temos um território com mais de 14 municípios que atendem a população indígena, além de sete polos-bases, e essa população está dentro do território, e o único meio de chegada até eles é por meio da equipe municipal de saúde indígena. Então, é muito importante estarmos aqui para executar como multiplicador desses territórios, para que essas equipes possam realizar testagem quando houver necessidade. Lembrando que a gente está sempre em vigilância para os casos de malária dentro do território, por entender que é algo que necessário por estarmos na região da Amazônia Legal”.
Situação epidemiológica
Nos últimos dez anos (2015–2024), o Tocantins avançou na eliminação da doença em seu território. Nesse período registrou 291 casos de malária, sendo 51 autóctones e 240 importados, o que corresponde a apenas 0,02% do total de casos da Região Amazônica. Entre 2020 e 2022, o estado conseguiu manter-se por três anos consecutivos sem nenhum caso autóctone.
Em 2023, foram notificados 31 casos de malária no Estado, dos quais 25 eram importados e seis autóctones, concentrados nos municípios de Almas, Conceição do Tocantins e Porto Nacional. A reintrodução de casos autóctones aconteceu de forma pontual, sem o restabelecimento da transmissão, resultado direto de medidas eficazes de vigilância epidemiológica e de resposta rápida frente a situações de risco. Já em 2024, todos os 24 casos registrados foram importados, provenientes tanto de outros estados da Região Amazônica quanto de países vizinhos.
Até agosto de 2025, o Tocantins contabilizou apenas três casos importados, representando uma redução de 80% em relação ao mesmo período de 2024, quando haviam sido registrados 15 casos importados. O perfil epidemiológico dos casos de 2025 indica que 100% foram importados, em sua maioria acometendo homens adultos (67%), de 18 a 39 anos (89%), com educação escolar básica (78%), que desenvolvem atividades que expõe ao risco de adoecer por malária (78%), o que evidencia a necessidade de manter atenção redobrada sobre populações móveis e migrantes, grupos que representam maior vulnerabilidade para a reintrodução da doença no estado. Esses indicadores evidenciam os avanços alcançados e a importância da manutenção das ações de vigilância e do fortalecimento da rede de atenção à saúde.