A tirzepatida, molécula presente em medicamentos como Mounjaro e Zepbound, da Eli Lilly and Company, demonstrou ser eficaz para reduzir o risco de doenças cardiovasculares e melhorar os sintomas de insuficiência cardíaca em estudo clínico de fase 3. Os resultados foram anunciados nesta quinta-feira (1ª) pela farmacêutica.
O estudo, chamado SUMMIT, avaliou a segurança e eficácia da tirzepatida em adultos com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) e obesidade. A ICFEp é uma síndrome na qual a câmara de bombeamento do coração fica rígida, o que faz com que o órgão não tenha capacidade de bombear o sangue adequadamente para todo o corpo.
A condição está associada a uma série de sintomas e limitações físicas que afetam a qualidade de vida dos pacientes, incluindo fadiga, falta de ar, redução da capacidade de se exercitar e inchaço das extremidades.
O trabalho incluiu 731 participantes dos Estados Unidos, Argentina, Brasil, China, Índia, Israel, México, Porto Rico, Rússia e Taiwan. Eles foram designados aleatoriamente a receber a dose máxima de tolerada de tirzepatida (5 mg, 10 mg ou 15 mg) ou placebo.
O objetivo do estudo era avaliar a eficácia do medicamento em reduzir o risco de hospitalização por insuficiência cardíaca, necessidade de uso de diurético oral ou risco de morte cardiovascular até o término da pesquisa, que durou 104 semanas, além de notar melhoras nos sintomas e limitações causados pela doença cardíaca.
Principais resultados do estudo
Segundo o estudo, a tirzepatida reduziu em 38% o risco relativo para doenças cardiovasculares. Além disso, a dose máxima tolerada do medicamento alcançou 24,8 pontos de estimativa de eficácia na melhoria dos sintomas de insuficiência cardíaca e limitações físicas desde o início do tratamento, em comparação com 15 pontos obtidos pelo placebo. Esses dados foram mensurados pelo questionário Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire (KCCQ) Clinical Summary Score (CSS).
O KCCQ-CSS é respondido com base no relato do paciente, que usa uma escala de 1 a 100 pontos para avaliar os sintomas de insuficiência cardíaca e as limitações físicas. Valores mais altos nesse questionário indicam melhor gerenciamento dos sintomas e limitações físicas em pessoas com insuficiência cardíaca.
O estudo também mostrou que a tirzepatida pode melhorar a capacidade de exercício físico, medida pela distância percorrida em um teste de caminhada de seis minutos, além de reduzir o peso médio corporal desde o início do tratamento. Na análise de eficácia estimada, o medicamento levou a uma redução de peso de 15,7% em comparação com 2,2% para o placebo.
“Mundialmente 64 milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca e, até 2030, a previsão é de um aumento de mais de 50%. Essa condição impacta muito a qualidade de vida dos pacientes e, no Brasil, é a causa número 1 de hospitalização de pessoas acima de 60 anos, sem contar o impacto de mortalidade. Em 5 anos após o diagnóstico, a taxa de mortalidade é de aproximadamente 50%”, afirma Luiz Magno, Diretor Sênior da Área Médica da Lilly Brasil, em comunicado à imprensa.
“Por isso, resultados como os alcançados com tirzepatida são tão importantes para tratar essa doença”, acrescenta Magno.
O que é tirzepatida e qual a sua diferença em relação a medicamentos como Ozempic e Wegovy?
A tirzepatida é uma molécula presente em medicamentos como Mounjaro, indicado para o tratamento de diabetes tipo 2 e já aprovado no Brasil, e Zepbound, indicado para o tratamento da obesidade. Ela atua no organismo ativando os receptores de dois hormônios: o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon).
Esses dois hormônios são encontrados em áreas do cérebro humano e são importantes para a regulação do apetite, além de aumentar a produção de insulina pelo pâncreas para manter o controle do açúcar no sangue.
Por isso, a tirzepatida é comumente comparada com a semaglutida, molécula presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, que também é uma droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1. Porém, apesar de atuarem de forma semelhante, a tirzepatida já se mostrou mais “poderosa” do que a semaglutida para a perda de peso, por estimular a ação do GIP, além do GLP-1.
A tirzepatida está atualmente sendo estudada como um tratamento potencial para pessoas com obesidade e/ou sobrepeso com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp), apneia obstrutiva do sono (AOS) e esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH). Estudos de tirzepatida na doença renal crônica (DRC) e na morbidade/mortalidade na obesidade (MMO) também estão em andamento.
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