Durante a temporada de praia diversos animais são avistados com mais frequência nas águas de rios e lagos do Tocantins. Os mais conhecidos, e muitas vezes temidos, são as arraias e piranhas. Por causa dos alimentos jogados nas águas, pelos banhistas, esses animais tendem a aparecer nas áreas delimitadas com mais frequência.
Em conversa com o g1 o biólogo Fernando Mayer Pelicice, que é especialista em peixes de água doce, explicou mais sobre esses animais encontrados nos lagos e rios do Tocantins, e os cuidados necessários para evitar acidentes.
Arraias, as tímidas carnívoras
As arraias são peixe cartilaginosos, ou seja, parentes dos tubarões que podem chegar a 70 centímetros de diâmetro, com aproximadamente 30 kg e que vivem por mais de 10 anos. Segundo o biólogo, na bacia do Tocantins há registro de sete espécies dos gêneros Paratrygon e Potamotrygon. Apesar se serem temidas pelos ferrões, elas são consideradas carnívoras tímidas.
“As raias são peixes carnívoros que comem principalmente invertebrados e pequenos peixes capturados no fundo dos rios. Pode acontecer de serem atraídas por restos de alimentos jogados na água, mas não acredito que comam qualquer coisa. São carnívoros e tímidos (fogem na presença de pessoas). Como são animais perigosos para humanos, é comum que as pessoas tenham uma postura negativa”, disse Fernando.
No último sábado (13), três arraias foram encontradas mortas na praia do Croá, em Aliança do Tocantins. Uma delas estava sem o ferrão. Segundo o biólogo, o peixe parece ser do gênero Potamotrygon.
Segundo Fernando, tirar o ferrão das arraias é uma prática comum entre pescadores e ribeirinhos, mas contraindicada, já que causam dor ao peixe.
“Pela Amazônia, é comum encontrar ribeirinhos e pescadores que matam ou cortam a cauda dos animais. Elas podem ferroar sem ter qualquer dano no ferrão. Caso ele quebre num acidente, elas sobrevivem. Inclusive, já vi muitas raias sem cauda, provavelmente cortada por ribeirinhos ou pescadores. Não é algo que se deve fazer pois machuca os animais, além de deixá-los sem sua proteção natural”, contou.
O biólogo explica que desde a construção do reservatório da Usina Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães de Lajeado, as arraias proliferaram na região, principalmente por causa das praias, onde há áreas mais rasas. O local se torna propício para alimentação e reprodução.
Você sabia? As arraias são animais viviparos, com fecundação interna, onde os filhotes são incubados dentro da fêmea e já nascem formados. Baleias, cachorro e elefantes também são animais viviparos.
Piranhas, as carnívoras oportunistas
As piranhas são peixes comuns em rios. Conforme o biólogo, elas costumam aparecer principalmente nos meses mais secos.
“No rio Araguaia acontece porque a água abaixa e elas ficam concentradas nas lagoas ou no canal do rio. É questão de adensamento. São peixes carnívoros e oportunistas, reproduzem fácil. No Tocantins, o reservatório favoreceu a proliferação”.
Piranha — Foto: Divulgação
Quando as piranhas são encontradas nas áreas delimitadas, pode indicar que há comida na água. Por isso, para evitar ataques o ideal é não jogar ou comer próximo da água.
“As piranhas são atraídas por comida. Jogar restos, lixo ou ceva de pesca atrai os peixes, principalmente em áreas rasas. Penso que isso deve ser evitado perto de área de banho. Também deve-se evitar banho em áreas com vegetação aquática, pois elas usam como local de alimentação e reprodução”, explicou.
Pirarara gulosa
Uma Pirarara chamou atenção de um grupo de pescadores no Rio Araguaia após ser visto ‘entalado’ com uma iguana. O caso aconteceu próximo de Barreira do Campo (PA), cidade que faz divisa com o Tocantins.
O biólogo explica que essa espécie é considerada um predadora voraz e se alimenta de peixe e outros invertebrados.
“É um peixe predador, voraz. O principal recurso alimentar é peixe. Tipo piranhas, corrós, branquinhas. Mas pode incluir uma variedade de itens na dieta. É um predador generalista, então não excluo a ideia de outros vertebrados como aves e cobras, mas é raro. Eu interpreto como consumo ocasional, mas certamente ela tentou comer a iguana”, explicou Fernando.
No vídeo gravado pelos pescadores, é possível ver que o peixe se debate na água e aparece com a ‘barriga’ inchada, após tentar engolir a iguana.
“É um caso bem inusitado, não é comum. Já vi outros episódios como esse, de pirarara (ou outros peixes) entalados com presas grandes, mas são raros. Se alimentar na superfície é um evento esporádico, ainda mais predando uma iguana”, contou o biólogo.
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