Nos próximos meses, a atenção global vai se voltar cada vez mais para Belém, onde acontecerá a COP30. Um dos mecanismos mais inovadores em discussão é o Tropical Forest Forever Facility (TFFF) – ou Fundo de Florestas Tropicais Para Sempre, em português.
Esse mecanismo tem potencial de mudar a lógica do financiamento climático ao garantir recursos estáveis, de longo prazo e em escala para os países tropicais que mantêm suas florestas em pé.
Para o Brasil, o TFFF representa não apenas uma fonte significativa de recursos para políticas de conservação e bioeconomia, mas também uma oportunidade de liderar um processo global que nasceu no Sul Global e traz soberania e inclusão como pilares centrais.
No mundo, ele abre caminho para consolidar compromissos reais com povos indígenas, comunidades tradicionais e investidores, mostrando que desenvolvimento econômico e preservação ambiental podem andar juntos.
TFFF em números:
- US$ 25 bilhões aportados por países soberanos;
- US$ 100 bilhões atraídos de investidores institucionais e privados;
- Total de US$ 125 bilhões investidos em mercados financeiros;
- Retorno estimado: US$ 4 bilhões anuais para países tropicais;
- Pelo menos 20% destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais;
- Mais de 70 países tropicais elegíveis;
- No Brasil, com desmatamento zero até 2030: até R$ 7 bilhões anuais.
Conversei com André Aquino, Chefe da Assessoria Especial de Economia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e um dos líderes desse processo, para entender melhor o que é o TFFF, por que ele atrai tanto interesse de investidores, como beneficia diretamente as comunidades da floresta e qual será a sua relevância para a COP30.
Veja abaixo a entrevista na íntegra:
O que é o TFFF e por que ele é considerado um mecanismo inovador?
O TFFF é a sigla em inglês para o Fundo de Florestas Tropicais Para Sempre. Ele remunera países que conservam suas florestas tropicais, criando um fluxo estável e permanente de pagamentos. Funciona assim:
- Governos soberanos aportam cerca de US$ 25 bilhões;
- Esse capital reduz o risco e atrai até US$ 100 bilhões de investidores institucionais e fundos privados;
- O total de US$ 125 bilhões é investido em mercados financeiros;
- O rendimento anual, estimado em cerca de US$ 4 bilhões, é distribuído aos países que preservam suas florestas.
O diferencial é que esses recursos não dependem de créditos de carbono. Trata-se de um mecanismo global, simples e escalável, capaz de garantir pagamentos previsíveis para a conservação em mais de 70 países tropicais.
Qual é a atratividade dessa ferramenta para investidores?
O TFFF oferece uma proposta clara: para cada dólar público, levantamos quatro privados. Ele opera por meio de títulos de baixo risco, com retorno fixo de longo prazo. Além da segurança financeira, esses investimentos estão associados a benefícios ambientais – combate às mudanças climáticas, preservação da biodiversidade e proteção dos ciclos hidrológicos.
Essa combinação de impacto climático com estabilidade de renda tem atraído interesse de fundos de pensão, fundos soberanos e investidores institucionais em diversos fóruns internacionais, como a London Climate Week.
Como esses recursos chegam a quem protege a floresta no dia a dia?
Os pagamentos são definidos soberanamente por cada país, mas há regras comuns. Pelo menos 20% dos recursos são destinados diretamente a povos indígenas e comunidades tradicionais. Além disso, o financiamento deve ser adicional aos orçamentos nacionais e apoiar políticas públicas, não apenas projetos isolados.
Isso significa que os recursos podem ser aplicados em proteção territorial, manejo sustentável, alternativas de renda e serviços essenciais nas regiões florestais. No caso do Brasil, com desmatamento zero até 2030, poderíamos acessar até R$ 7 bilhões por ano, com parte sendo destinada a pagamentos por serviços ambientais e ao fortalecimento da bioeconomia amazônica.
Esse mecanismo envolveu muitos atores. Quem está participando da sua criação?
É um verdadeiro mutirão global. A ideia foi lançada pelo presidente Lula na COP28. Em 2024, formamos um comitê interino com países tropicais e potenciais investidores. Também participam a sociedade civil, especialistas, ONGs e, de forma muito central, os povos indígenas e comunidades tradicionais, por meio da Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC).
O setor privado tem papel decisivo como futuro comprador dos títulos, e essa combinação de governos, sociedade civil, investidores e comunidades é o que dá legitimidade ao TFFF.
Olhando para frente: o que podemos esperar até a COP30? E qual é o papel da New York Climate Week nesse processo?
A expectativa é que o lançamento oficial do TFFF aconteça na COP30 em Belém. Isso significa chegar com governança consolidada, compromissos firmes de países e investidores, e bases sólidas para mobilizar recursos.
Na New York Climate Week, o TFFF já estará em evidência, com eventos durante a Assembleia Geral da ONU e encontros com parceiros. Esse engajamento é fundamental para gerar confiança e mobilizar compromissos antes de Belém.
O setor privado pode contribuir se envolvendo desde já, sinalizando interesse e fortalecendo esse ciclo de cooperação entre governos, comunidades e investidores.