O alerta para a ocorrência de queimadas está ativo na maioria das regiões do país. Temperaturas elevadas, baixa umidade relativa do ar, ventos fortes e vegetação seca formam as condições ideais para alastrar o fogo em áreas rurais. Soma-se a isso, nas propriedades, o acúmulo de material combustível como galhadas e restos de culturas.
Em 2024, dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontaram prejuízos de aproximadamente R$ 14,7 bilhões à agropecuária, com incêndios entre junho e agosto que atingiram 2,8 milhões de hectares em propriedades rurais.
A estimativa da entidade considerou aspectos como perda de matéria orgânica, produtividade, cercas em áreas de pastagem e potássio e fósforo nas camadas superficiais do solo.
No Paraná, segundo dados do Corpo de Bombeiros, a quantidade de incêndios em áreas de cultivo agrícola vem crescendo a cada ano. Em 2022, foram 161 casos, de um total de 3.996 incêndios florestais. Em 2023, o número de registros passou para 248, num total de 5.600 incêndios e, em 2024, a quantidade de incêndios em área de cultivo agrícola chegou a 492, perante o total de 11.933 incêndios florestais.
Recomendações
A capitã Luisiana Guimarães Cavalca, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná e especialista na área de incêndios florestais, elenca ações imprescindíveis para minimizar os riscos de queimadas e incêndios em áreas de cultivo nas propriedades rurais.
“A construção de aceiros ou faixas de contenção é uma das principais ações recomendadas, pois contribui para que o material combustível não tenha seguimento no caso de um incêndio”, explica.
Os aceiros devem ser construídos e mantidos limpos nos limites da propriedade, no entorno da vegetação de reserva legal e área de preservação permanente. Além disso, ela orienta a manutenção dessas faixas de contenção próximo às edificações, o que pode garantir que o fogo não atinja essas estruturas.
Outra recomendação da especialista é manter um reservatório de água na propriedade. “Pode ser um tanque ou um caminhão tanque próprio ou coletivo”, sugere. Luisiana destaca que o acesso a um reservatório para o controle das chamas até a chegada dos bombeiros pode ser crucial. “Desde que o combate não coloque ninguém em risco, o acesso à água é fundamental”, completa.
Garantir um meio de comunicação para avisar outros produtores da região também é uma medida eficaz. A capitã destaca que, além de um grupo em um aplicativo de mensagens, como o WhatsApp, é indicado viabilizar o contato por rádio ou telefone, a fim de que a informação seja repassada o mais rápido possível.
Outro ponto importante é manter nas propriedades rurais os equipamentos de proteção para o combate, como capacete, óculos de proteção, luvas e botas de segurança, assim como máscaras ou respiradores para proteção contra fumaça. A capitã reforça que os EPIs devem estar em boas condições e a equipe da fazenda deve ser treinada para o uso correto dos equipamentos.
Colheita
Quando se fala de incêndios em áreas de plantio, também há orientações para uma colheita segura no campo. Segundo Luisiana, deve-se dar início à colheita pelas bordaduras, nas áreas que ficam mais ao redor da plantação. Outra recomendação é observar a direção do vento, fazendo a colheita no sentido contrário. Ainda, manter o caminhão pipa próximo da máquina colhedora ou verificando a distância dos reservatórios de água para uma possível necessidade.
“O produtor também deve prever rotas de fuga, tanto para o maquinário quanto para ele próprio e os funcionários, que devem se dirigir o mais rápido possível para uma área segura”, alerta. Realizar monitoramento aéreo da colheita, por meio de drones, e fazer uma avaliação de riscos do terreno também são fundamentais.
Luisiana adverte sobre o perigo de ações que são desaconselháveis, mas seguem sendo praticadas nas áreas rurais, como a queima de palhadas e de galhos de árvores após a poda. “No ano passado, foram vários os casos de incêndios que tiveram início com essas situações”, adverte. Outras ações que precisam ser evitadas são a queima de lixo e jogar bitucas de cigarro às margens de estradas.
Combate
Na hora do combate ao fogo, os trabalhadores devem estar atentos a fatores de risco como a velocidade do vento e o clima muito quente e seco. “Essas condições contribuem para a rápida propagação de um incêndio”, comenta a especialista. E completa: “no caso de labaredas muito altas, a indicação é não se colocar em risco, pois a pessoa pode ficar presa no meio da plantação”.
A indicação é molhar ao redor da plantação com o caminhão pipa, formando uma linha fria, até a chegada do Corpo de Bombeiros, que deve ser acionado pelo número 193.
“As queimadas não comprometem apenas a produção agrícola, mas também degradam o solo, reduzem a biodiversidade e prejudicam a qualidade do ar. A prevenção é a forma mais segura e eficiente para proteger a propriedade e o meio ambiente”, afirma Diego Braga, consultor de Desenvolvimento de Mercado da Conceito Agrícola.
Entre as principais medidas preventivas, Braga também destaca a manutenção de faixas de contenção sempre limpas e bem definidas, e inclui proibição de queimadas controladas sem autorização e acompanhamento técnico, manejo adequado da palhada, armazenamento correto de resíduos vegetais e o monitoramento constante das condições climáticas, evitando atividades de risco em dias críticos.
No manejo da palhada, é recomendado garantir uma distribuição uniforme, evitando acúmulo excessivo em pontos específicos e favorecendo a decomposição natural, com a prática da rotação de culturas sempre que possível.
O uso de tecnologias também é um importante aliado nesse trabalho de prevenção. O consultor destaca ferramentas como sistemas de monitoramento via satélite, aplicativos de alerta de risco, drones e sensores de umidade do solo e do ar que permitem identificar áreas vulneráveis e tomar decisões mais assertivas.
Clima
De acordo com a Climatempo, temperaturas acima dos 30°C combinadas com níveis de umidade do ar abaixo dos 30% são indicativos do aumento do risco de expansão de focos de fogo.
“Esta é uma época do ano onde a vegetação já está ressecada devido à falta de chuva volumosa por muitas semanas consecutivas. O tempo seco e a baixa umidade no ar são comuns nesta época do ano, mas o aumento do calor é um agravante”, afirma Dayane Figueiredo, meteorologista da Climatempo.
Ela cita como áreas com maior risco de incêndios e queimadas, nas próximas duas semanas, o cerrado goiano, Triângulo Mineiro e norte de Minas Gerais, oeste da Bahia, Tocantins e as regiões sul do Piauí e do Maranhão.
A meteorologista observa que a partir da segunda quinzena de setembro haverá ocorrências de chuva mais pontuais e localizadas, em toda a região do Brasil Central. “Isso já diminuirá um pouco os riscos para queimadas”. Diferentemente do ano passado, em que essa época do ano foi marcada por uma estiagem prolongada, ela aponta uma expectativa mais positiva para este ano, com as chuvas retornando antes e com maior regularidade.