Produtores de uva da região do Vale do São Francisco afirmam estar no ‘pior momento do ano’, enquanto avaliam as consequências da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre as importações do Brasil. Pelo menos 80% dos embarques da fruta para o mercado americano são no segundo semestre e as negociações com os clientes estão em pleno andamento.
“O impacto da tarifa é muito severo. A gente ainda não pode determinar em termos percentuais o quanto do volume irá para o mercado norte-americano”, diz Joney Rodrigues, gerente de vendas e exportação da Special Fruit, de Juazeiro (BA).
A empresa cultiva dez variedades de frutas em 1,1 mil hectares. Rodrigues explica que a uva exportada para os Estados Unidos é patenteada e sujeita à cobrança de royalties. Algumas têm “sabor especial”, e podem render bons retornos, apoiadas em promoção e marketing.
“E justamente essas variedades especiais serão as mais afetadas porque, ao redirecionar para outros mercados, não teremos os mesmos níveis de retorno”, conta Joney.
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Ele explica que está conversando com os clientes sobre a situação. Afirma, no entanto, que, mesmo se houver um aumento de preço que torne os negócios viáveis, haverá dois grandes perdedores: o produtor e o consumidor.
“Acreditamos que seja possível passar esse custo na cadeia, mas o consumidor final que vai pagar um produto inflacionado, e o produtor vai pagar pela quantidade de descontos e não vai ver resultado”, diz ele, que avalia redirecionar parte da fruta para a Europa.
Janela de exportação
Entre as uvas preferidas do consumidor americano, estão as pretas e vermelhas sem sementes. A tarifa de 50% sobre as importações entra em vigor em 1º de agosto, e atinge a principal janela de vendas do produto do Brasil, entre as safras da Califórnia e do Peru.
Cristhian Alfredo Diaz Jopia, agrônomo e gerente técnico comercial da Coopexvale explica que, neste ano, os californianos colherão entre 98 e 100 milhões de caixas de uvas, 10% a mais que no ano passado. Depois da Califórnia, entra a uva brasileira, seguida pela peruana.
A cooperativa produz uvas finas em 600 hectares. Jopia afirma que o setor está muito preocupado, e, neste momento, tentando realocar parte da produção para outros mercados. “É possível enviar um pouco mais de uva para a Inglaterra, talvez para o Canadá, para a Argentina e também destinar uma parte para o mercado interno. Ainda estamos estudando os volumes”, diz.
Exportadores de manga também se preocupam
O tarifaço dos Estados Unidos é motivo de preocupação também para a Agrodan, maior exportadora de manga do Brasil. “É possível deslocar parte da produção para a Europa, mas isso certamente vai derrubar o preço naquele mercado”, Paulo Dantas, diretor da empresa.
A Agrodan produz a fruta em 1.300 hectares. O que ajudará a reduzir os danos é a distribuição das vendas. “Produzimos o ano inteiro e não concentramos em uma época do ano, embarcamos para o mercado externo semanalmente”, conta.
“Catástrofe regional”
Outro produtor de mangas e uvas da região do Vale do São Francisco, que prefere não se identificar, afirma que os inspetores norte-americanos estão certificando as beneficiadoras. Mas “ninguém vai exportar”. Ele fala até em não colher a safra se a situação não for revertida.
“Tomamos adiantamento de câmbio (ACC) e estamos sem saber como honrar os compromissos”, conta, acrescentando que o mercado interno é incapaz de absorver parte da produção que iria para os americanos, especialmente as uvas, por serem de alto valor agregado.
O produtor prevê o que chama de “catástofre regional”, uma vez que a principal atividade econômica da região é a fruticultura.