O recrudescimento da política de tarifas do presidente americano, Donald Trump, adicionou um elemento de volatilidade nas negociações das commodities agrícolas nas bolsas americanas em julho, principalmente aquelas que têm o Brasil como grande fornecedor aos Estados Unidos.
Foi o caso do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês). Em julho, o preço médio dos contratos de segunda posição da commodity na bolsa de Nova York ficou em um valor 9,11% superior ao do mesmo mês do ano passado, em US$ 2,7974 a libra-peso, segundo cálculos do Valor Data.
Desde o dia 9, quando Trump anunciou que taxaria em 50% os produtos brasileiros, o mercado da commodity foi colocado em xeque. Os EUA são o maior comprador do suco do Brasil, respondendo por 70% do país exporta.
Segundo Andres Padilla, analista sênior do Rabobank, a declaração causou uma reviravolta no mercado. Até então, a cotação vinha em tendência de baixa, reagindo às chuvas acima da média nas regiões produtoras do Brasil.
Caso implementadas, as tarifas levariam o Brasil a buscar outros compradores, como Europa e China. No entanto, lembrou Padilha, esses destinos não teriam como absorver toda a demanda que seria deixada pelos EUA.
Mas, na quarta-feira (30/7), Trump incluiu o suco de laranja na lista de produtos isentos da sobretaxa. Como consequência, somente ontem, os contratos de segunda posição (para novembro) caíram 9%, a US$ 2,467 a libra-peso.
Nesse cenário, Padilla acredita que o mercado voltará a olhar para os fundamentos de oferta e demanda. “Com o início da safra [no Brasil], o mercado deve voltar a focar no clima e na qualidade da fruta que está sendo colhida, além dos dados de demanda nos principais mercados consumidores”.
Já o café, apesar de ter entrado no alvo das tarifas de Trump, desvalorizou-se em julho na comparação anual, em reflexo a questões climáticas. Com o andamento da safra no Brasil e as boas condições de clima nos cafezais do país, o valor médio dos contratos de segunda posição do arábica caíram 12,04%, a US$ 2,9251 a libra-peso.
O tarifaço de Trump teve impacto reduzido no mercado de café, disse Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria. Segundo ele, apostava-se que o grão seria isento das taxas, especialmente após Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA, admitir publicamente essa possibilidade. Agora, sem alívio tarifário para o café, o que restou ao mercado foi agarrar-se no aumento da oferta.
“Estamos com a safra de arábica no Brasil a pleno vapor, com 85% da colheita concluída, e ainda com a finalização dos trabalhos do conilon. Também é importante lembrar que o café passou praticamente ileso às ondas de frio em julho”, destacou.
A indicação de queda na demanda por cacau derrubou o preço em Nova York. O recuo em julho chegou a 13,51%, com média de US$ 7.789 a tonelada.
Na Europa, maior consumidora de cacau do mundo, a moagem caiu 7,2% no segundo trimestre, a 331,7 mil toneladas, segundo a Associação Europeia do Cacau. Analistas previam queda de 5%.
Também em Nova York, o açúcar subiu 1,90%, a 17,03 centavos de dólar a libra-peso, e o algodão, teve alta de 1,20%, a 67,83 centavos de dólar a libra-peso.
Bolsa de Chicago
Na bolsa de Chicago, os grãos tiveram queda generalizada, com destaque para a soja. Em julho, o recuo foi de 3,79%, para a média de US$ 10,09 o bushel.
O embate comercial entre EUA e China determinou a queda no mês passado, avaliou Ariel Nunes, analista da Gran Center Commodities. Depois de uma escalada de tarifas retaliatórias sem precedentes, os dois países concordaram em “congelar” as taxas até 12 de agosto, mas ainda buscam um novo entendimento.
“Os últimos boletins do USDA [Departamento de Agricultura dos EUA] confirmam que a China ainda está distante de comprar soja americana”, observou.
O bom clima nos EUA, que tende a elevar a produtividade do milho, ditou o desempenho do grão. Os preços médios dos contratos caíram 1,98%, a 4,1278 o bushel. Já o trigo recuou 0,21%, para a média de US$ 5,5476 o bushel.