O Brasil exerce relevância mundial na produção de alimentos, graças a uma combinação de fatores que incluem vasta área agricultável, clima favorável e uso de tecnologia avançada. Mas até quando os atuais processos e modelos produtivos serão suficientes para manter a competitividade e a sustentabilidade do negócio no campo?
É nesse contexto que a agricultura regenerativa (AR) surge como uma alternativa viável capaz de aliar rentabilidade, conservação e escalabilidade de ganhos. A proposta vai além das práticas tradicionais: trata-se de um conjunto de técnicas agrícolas e de manejo que otimiza o uso de insumos, aumenta a produtividade e fortalece a resiliência dos sistemas. Ao estimular processos naturais, a AR devolve ao solo a capacidade de desempenhar funções essenciais, criando lavouras mais equilibradas e menos dependentes de insumos externos.
“A agricultura regenerativa pode ser adaptada a diferentes sistemas produtivos, desde que haja planejamento técnico e suporte adequado. Mesmo em áreas que já adotam essas práticas, elas podem avançar em outras melhorias e obter ganhos na produtividade, saúde do solo e resiliência climática”, explica Letícia Kawanami, diretora de sustentabilidade da Cargill para a América Latina.
Como todo projeto de melhoria, este também apresenta desafios. A transição exige investimentos de médio e longo prazo, como a recuperação de áreas degradadas, o que implica a busca por linhas de crédito específicas. Além disso, a volatilidade do mercado de commodities leva, muitas vezes, produtores a reavaliar seus investimentos, podendo adiar iniciativas importantes.
A Cargill tem trabalhado em soluções para reduzir possíveis entraves.
Entre as iniciativas apoiadas pela empresa está o projeto Regenera Cerrado, desenvolvido em parceria com 12 propriedades do sudoeste goiano. A proposta é analisar e validar, com base em dados científicos, o efeito das práticas da AR. Os resultados indicam impacto positivo, que vai da criação de um ambiente que promove a redução de doenças fúngicas em até 44% ao aumento na eficiência econômica e melhoria das margens de retorno do produtor, mesmo com custo de implementação um pouco mais elevado.
Um dos destaques do estudo é o papel dos remanescentes de vegetação nativa na presença de polinizadores e no rendimento de grãos. Embora esses insetos não sejam essenciais à produção de soja (devido à autopolinização da cultura), áreas mais próximas às manchas de vegetação nativa, com maior abundância de abelhas, apresentaram 7% de aumento no peso da amostra, em média.
O resultado é um bom indicativo dos benefícios associados à presença de espécies nativas próximas às áreas de produção. Polinizadores, aliados a outros insetos, microrganismos e processos naturais, podem impactar de forma integrada esse incremento de produtividade. Com o sucesso do projeto, uma nova fase do Regenera Cerrado está sendo iniciada para avançar em oportunidades encontradas e temas não explorados.
Incentivo e acesso a crédito
Além do investimento em pesquisa, a Cargill também oferece mecanismos que fomentam a aplicação da AR, como o programa ReSolu. Trata-se de uma plataforma comercial com um pacote de soluções voltadas à aceleração da transição em diferentes regiões, tornando os sistemas de produção mais resilientes e seguros.
Por meio dela, o produtor pode acessar linhas de crédito de longo prazo diferenciadas, com período de carência nos primeiros anos, além de suporte técnico para o planejamento agronômico e um portfólio de insumos adaptados ao contexto das lavouras, tudo isso com o objetivo de viabilizar a recuperação de áreas degradadas.
Esse suporte também identifica oportunidades dentro do processo produtivo, além de oferecer um sistema de cashback no qual os produtores recebem parte do investimento de volta como forma de incentivo à continuidade das práticas.
Entre os benefícios do programa está a melhoria na execução do sistema de plantio direto, com cobertura permanente do solo e aplicação da rotação de culturas. Também inclui o uso de plantas de cobertura para promover a saúde do solo, a adoção de sistemas integrados, como a integração lavoura-pecuária, o manejo nutricional com fertilizantes de eficiência melhorada e o uso de bioinsumos.
Quando comparado a outros players internacionais, o Brasil sai na frente em protocolos ambientais. O Código Florestal garante que cada tonelada de produto agropecuário leve consigo pelo menos 20% de preservação da vegetação nativa (podendo chegar a 80%). Além disso, práticas como o não revolvimento do solo e o uso de inoculantes, adotadas em mais de 80% da área produtiva nacional, reforçam esse status.
A produção sustentável ainda é uma jornada em adesão. A meta da Cargill é seguir apoiando produtores com incentivos à inovação, pesquisa e desenvolvimento de técnicas que contribuam para a sustentabilidade do setor, bem como auxiliem no cumprimento de seus compromissos corporativos e metas ambientais.