Combinar produção de alimentos, geração de renda e restauração ambiental é a principal vantagem dos sistemas agroflorestais (SAFs). Considerada uma tecnologia ideal para propriedades rurais voltadas à agricultura familiar, esse tipo de arranjo produtivo vem sendo disseminado. “É uma forma de reunir árvores com lavoura e que representa uma boa opção para a diversificação de renda na propriedade”, afirma Alberto Feiden, pesquisador da Embrapa Pantanal.
Alberto explica que os SAFs possibilitam a composição de arranjos produtivos conforme o bioma de cada região. Assim, os sistemas reúnem espécies de árvores nativas ou exóticas madeiráveis, frutíferas, oleaginosas, medicinais, entre outras, que podem ser cultivadas simultaneamente com variadas culturas agrícolas como milho, feijão, mandioca e até mesmo soja.
“Há um leque de opções de acordo com as espécies de cada região. E é uma boa alternativa para o agricultor, que terá produtos diversificados ao longo do tempo”, comenta o pesquisador. A definição dos arranjos envolve aspectos como objetivos, necessidades e aptidões da propriedade.
Ele aponta ainda que o SAF pode ser adotado até mesmo em uma área urbana, configurando um quintal agroflorestal. “Nesse caso, eu indicaria as árvores frutíferas para compor o arranjo, juntamente com hortaliças, uma vez que a área teria um objetivo mais voltado à diversificação e segurança alimentar”, avalia.
A contribuição para a preservação ambiental é outro aspecto que o pesquisador salienta, inclusive voltada à recuperação de mata ciliar. Ele lembra que a integração do cultivo de árvores a outras culturas e à criação de animais promove a melhoria da saúde do solo, a conservação da biodiversidade, assim como resiliência climática e sequestro de carbono.
“É possível pensar em um sistema agroflorestal altamente biodiverso que possa gerar renda para o produtor, ainda, com base nos serviços ecossistêmicos como a água”, enfatiza.
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Todo sistema agroflorestal também visa a redução do uso de insumos químicos, priorizando a diversidade de plantas e a presença de predadores naturais, com foco na produção sustentável. Alberto reforça que o SAF é uma opção ideal para pequenos produtores, mas também pode ser adotado por médios e grandes produtores.
“O pequeno produtor tem capacidade de fazer sistemas mais complexos, com mais diversidade, mais espécies. Normalmente, grandes produtores usam sistemas com menos diversidade, como é o caso da ILPF [integração lavoura-pecuária-floresta]. As opções podem ser adaptadas por diferentes tipos de agricultores e conforme o interesse deles”, explica.
Ele lembra que a diversificação e a integração de atividades, onde se procura implantar combinações de culturas e criações que produzem diversidade funcional, pode combinar espécies animais e vegetais com funções ecológicas diferentes, possibilitando serviços de ciclagem de nutrientes, de controle de pragas e doenças, de atração de polinizadores e de proteção do solo.
Vitrine
Opções de SAFs ficam expostas na Vitrine Tecnológica de Agroecologia “Vilson Nilson Redel” (Vital), unidade demonstrativa de tecnologias localizada em Cascavel (PR). A área, de aproximadamente 4.400 m², é voltada à agricultura orgânica e à agroecologia durante a feira Show Rural Coopavel, mas o cultivo no local e atividades educativas acontecem durante o ano todo. Além da Embrapa, a organização do espaço conta com 15 parceiros.
No local, os arranjos produtivos de SAFs são baseados nas espécies com potencial de produtividade na região Oeste do Paraná. Assim, árvores frutíferas nativas como pitanga, uvaia, jabuticaba estavam integradas no sistema. Também já foram cultivadas na área árvores frutíferas exóticas, como pêssego e nectarina. Outras espécies que compõem os arranjos produtivos na Vital são a erva-mate e a araucária clonada, voltada à produção de pinhão.
O pesquisador da Embrapa acrescenta que também há no local uma série de espécies adubadeiras para os SAFs. Nesse caso, foram plantadas na área bananeira e ingá, que não visam a produção de frutos. Elas são podadas e os materiais colocados no solo como forma de adubo. “A ideia é você implantar o SAF e colocar lavoura. Aqui, a gente já teve hortaliças, milho, feijão, inclusive pode plantar soja. Depende da disponibilidade do agricultor”.
Acompanhamento técnico
O pesquisador da Embrapa Lineu Domit, que também está à frente das atividades da Vital, comenta que a proposta da Vitrine Agroecológica é levar conhecimento aos agricultores, técnicos e estudantes da área: “aqui o produtor tem oportunidade de conhecer alternativas que talvez ele ainda não conheça. E, se ele tiver um pedacinho de terra, pode experimentar”.
Ele chama a atenção para a importância de que a implantação de qualquer sistema seja acompanhada por um profissional técnico, seja de órgãos como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), cooperativas ou associações do setor.
“É fundamental que o técnico esteja acompanhando o processo, para definir a cultura, o plantio, as condições do solo e da região, aspectos como fertilidade, exigências, pragas e doenças. Esse profissional também terá conhecimento a respeito das regras do cultivo orgânico, que é mais complicado do que o convencional”, completa.