Com um crescimento médio de 280 mil toneladas por ano, o setor de moagem de trigo no Brasil mantém uma trajetória de expansão estável, com avanço anual de cerca de 2%, disse Marcelo Vosnika, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), durante o Congresso Internacional da Indústria do Trigo, no Rio de Janeiro.
Em 2024, os associados da Abitrigo, que respondem por cerca de 80% da moagem nacional, segundo dados da associação, processaram 13,2 milhões de toneladas do grão.
Segundo Vosnika, o Brasil conta com aproximadamente 150 moinhos, com predominância de estruturas menores no Sul e maiores nas regiões litorâneas. A distribuição da moagem, no entanto, não acompanha diretamente o número de unidades por Estado. O Rio Grande do Sul, por exemplo, abriga 38 moinhos, que respondem por 15% da moagem nacional, enquanto São Paulo, com 15 moinhos, representa 14%. Já o Norte e Nordeste concentram 20 moinhos e 25% da produção.
O setor estima gerar 30 mil empregos diretos e um faturamento anual de R$ 26 bilhões. Ainda segundo Vosnika, trata-se de um mercado “sólido e estável”, com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) praticamente constante, representando 12,04% da receita líquida na média. A margem bruta também tem registrado crescimento, fechando em 2024 com média de 27,35%.
Apesar da estabilidade na média, Vosnika destacou que o setor enfrenta instabilidades nos extremos do mercado, o que impacta sua previsibilidade.
Segundo o CEO do moinho J. Macêdo, Irineu Pedrollo, a boa compra do trigo é “fundamental” e, parcialmente, explica as diferenças entre companhias dentro do setor, uma vez que corresponde a uma faixa entre 60 e 70% dos custos de uma indústria moageira.
“Há uma crença de que o bom preço do trigo resolve tudo. A compra pode ajudar e pode atrapalhar, mas só uma boa compra não garante bom resultado, e não é necessariamente uma empresa mais enxuta que entrega os melhores resultados”, disse.
Para Pedrollo, a gestão de custos e, sobretudo, a precificação dos produtos são os principais responsáveis pelo sucesso de uma empresa. “Escolha vender pelo preço correto e volume possível”. Segundo o executivo, a cada 1% de desconto em preço, é necessário aumentar o volume em 5% para obter o mesmo resultado, “e raramente essa conta fecha”.
Ainda assim, Vosnika vê oportunidades importantes no horizonte, com destaque para a reforma tributária, que começa gradualmente a partir de janeiro de 2026, o avanço sobre novas fronteiras agrícolas, como o Cerrado, e o uso de novas tecnologias em produtos e processos.
“Acredito que o setor ficou um pouco acomodado com a situação tributária e parou de investir em processos”, disse Vosnika. “Nosso mercado é muito antigo e ainda carrega resquícios de controle estatal e de benefícios fiscais. Com a reforma tributária, eliminando esse aspecto, vai prevalecer a competência de cada um, a capacidade de gerar valor e bons serviços para seus clientes.”
Entre as transformações em curso, Vosnika também ressaltou o impacto da exportação de trigo gaúcho. “Veio para ficar e mexeu com o mercado, que passou a acompanhar mais de perto as cotações internacionais, o que antes não acontecia.” O conselheiro da Abitrigo concluiu que o setor deverá buscar, a partir de agora, novas formas de agregar valor aos produtos, o que será “fundamental na nova fase da indústria”.