Ranger ou apertar os dentes enquanto dorme pode parecer algo inofensivo, mas é um sinal de alerta para uma condição chamada bruxismo — um distúrbio que afeta muitas pessoas e que, muitas vezes, sem que elas sequer percebam.
O problema é mais comum do que se imagina e, por ser silencioso em grande parte dos casos, costuma ser diagnosticado apenas quando os sintomas se agravam e comprometem a saúde bucal e muscular do paciente.
O bruxismo se manifesta em dois tipos principais: o noturno, que acontece de forma inconsciente durante o sono, e o diurno, em que a pessoa aperta os dentes de forma excessiva, geralmente em momentos de estresse, tensão ou concentração. Em ambos, a repetição desse hábito pode causar desgaste dos dentes, dores faciais, cefaleia, problemas na articulação temporomandibular (ATM) e até dificuldade para mastigar ou abrir a boca.
“O bruxismo noturno geralmente está relacionado a distúrbios do sono, microdespertares e fatores neurológicos. Já o diurno costuma estar associado ao estresse, ansiedade e ao hábito consciente ou semiconsciente de apertar os dentes ao longo do dia”, explica a dentista Bruna Conde.
O diagnóstico precoce é importante para evitar danos permanentes, sendo o noturno mais difícil de identificar. Isso porque, os episódios ocorrem enquanto a pessoa dorme, fazendo com que os pacientes só desconfiem da condição quando são alertados por parceiros ou quando os sintomas são persistentes.
Dor na face, sensibilidade nos dentes, estalos na mandíbula, sensação de cansaço muscular na região do rosto ou do pescoço e até insônia podem estar relacionados ao bruxismo.
Como o bruxismo é diagnosticado?
“É fundamental compreender que o bruxismo não é uma doença, mas sim um hábito parafuncional, caracterizado pelo apertamento ou ranger dos dentes. Por não ser uma condição patológica em si, não possui uma ‘cura’ no sentido tradicional, mas sim estratégias de controle e manejo”, explica José Todescan Júnior, odontologista membro da ABOD (Associação Brasileira de Odontologia Digital).
O diagnóstico geralmente é feito por um dentista, com base no relato do paciente e no exame clínico. A identificação correta do tipo de bruxismo e de suas possíveis causas — que vão desde fatores emocionais até distúrbios do sono, uso de alguns medicamentos e má oclusão dentária — é essencial para definir o tratamento.
“Durante o exame, é verificado sinais como desgaste dos dentes, alterações gengivais, hipertrofia dos músculos mastigatórios, além de hábitos e estilo de vida que influenciam muito nesse tipo de problema. Em alguns casos, exames complementares podem ser necessários”, acrescenta Conde.
O tratamento pode incluir o uso de placas de mordida feitas sob medida para proteger os dentes, técnicas de relaxamento muscular, fisioterapia, psicoterapia, ajustes na arcada dentária e, em algumas situações, o uso de medicamentos.
Qualquer pessoa pode desenvolver bruxismo, em qualquer faixa etária, inclusive crianças, porém, ele é mais prevalente em adultos. “A faixa etária de 20 a 40 anos é a mais afetada pelo bruxismo. É nessa faixa etária, normalmente, que as pessoas estão mais expostas a maior nível de estresse e a maior nível de exaustão do corpo. Há também quadros em crianças, mas é quase sempre temporário”, acrescenta Giovanna Zanini Rodrigues, odontologista.