Líderes do Senado enxergam o PL da Dosimetria, que tramita na Câmara, com desconfiança. Eles avaliam que as chances de o projeto avançar são mínimas. Apontam como uma das razões o distanciamento do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), da pauta.
A urgência do PL, que originalmente propunha a anistia para condenados do 8 de Janeiro, foi aprovada pelo plenário com 311 votos favoráveis. Depois, Motta indicou Paulinho da Força (Solidariedade-SP) para ser relator. O deputado paulista passou então a defender um texto para redução de penas, e não um perdão generalizado, como desejavam aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ouvidos pelo Metrópoles, líderes partidários relataram haver um clima pouco receptivo com propostas de alta repercussão vindas da Câmara, especialmente depois do que se deu com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem.
A proposta foi aprovada com folga pelos deputados, mas rejeitada com mais intensidade ainda no Senado, depois de manifestações volumosas por todo o país contra a PEC e contra a anistia.Play Video
Um líder disse à reportagem que ficará “bem atento” a propostas vindas da Câmara depois da PEC “constrangedora” que ampliava a proteção de parlamentares contra investigações.
A escolha de relator também é vista com certa desconfiança pelos senadores, já que Paulinho tem tentado construir um texto equilibrado e ao mesmo tempo em consenso com a oposição ligada a Bolsonaro.
Falta de receptividade
O relator tentou interlocução com Alcolumbre para diminuir a resistência do texto no Senado, mas encontrou pouca receptividade e assim transferiu essa tentativa de alinhamento sobre a pauta para Motta. Os sinais passados pelo presidente do Senado fazem líderes apostarem que a proposta deverá “morrer na praia” ao chegar à Casa Alta.
Antes da relatoria de Paulinho, Alcolumbre chegou a aventar a apresentação de um texto próprio com redução de penas, em interlocução com o Supremo Tribunal Federal (STF). A elaboração de um texto alternativo, no entanto, nunca vingou e acabou sendo incorporado pela Câmara, o que desagradou senadores.
Lideranças partidárias do Senado avaliam que o presidente da Câmara está fragilizado politicamente e que Alcolumbre acerta ao prosseguir com cautela sobre esse assunto.