Se a produção de milho safrinha surpreendeu positivamente em algumas regiões do Brasil, como em Mato Grosso, o mesmo não aconteceu em outras regiões relevantes para a cultura. Em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, a finalização da colheita mostra um rendimento abaixo do esperado na safrinha do ciclo 2023/24, que sofreu com longos períodos de estiagem.
Com isso, a safrinha, que apesar do diminutivo representa a maior parte da colheita nacional de milho, deve fechar o ciclo 2023/24 com queda de 11,8%, saindo de 102 milhões de toneladas de milho na temporada 2022/23 , para 90,28 milhões de toneladas, segundo a última projeção da da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O número reflete uma queda de 7,2% na produtividade no país.
Em Mato Grosso do Sul, a Conab estima uma queda de 36% na colheita. Para São Paulo, a projeção da estatal é de perda de 23% em relação ao ciclo anterior e no Paraná, de 12%.
A produtora Larissa Petcov Lucio de Oliveira, que semeou 315 alqueires de milho na segunda safra em Buri, no interior de São Paulo, foi uma das que tiveram as lavouras afetadas. Segundo ela, o volume baixo de chuvas no período crucial para o desenvolvimento das lavouras deve fazer a produtividade cair 40%.
“Faltou chuva no momento de maior necessidade para o milho, durante a fase de enchimento de grãos. Em um período de fevereiro a maio, enquanto a necessidade era de 500 milímetros, choveu apenas 300”, afirma ela.
A falta de precipitações adequadas afetou praticamente todo o planejamento da segunda safra da produtora paulista, que além de milho também planta trigo em sua propriedade.
“Devido a esse longo período de seca, não consegui plantar adequadamente o trigo. Aconteceu uma chuva tardia, mas o ciclo do trigo está com um superatraso. Ainda não sei se vou colher ou deixar no campo para fazer adubação no solo”, diz.
Ela acrescenta que se a planta ficar por muito mais tempo no campo há o risco de a soja da safra 2024/25 ser prejudicada.
Em Mato Grosso do Sul, o mesmo cenário climático foi determinante para as perdas na safrinha de milho. “Começamos o plantio com seca, e ela se estendeu durante todo o ciclo. Foi uma safra com muito pouca umidade”, afirma Angelo Ximenes, presidente do sindicato rural de Dourados.
Como resultado do clima adverso para o Estado, a colheita na região de Dourados rendeu cerca de 50 sacas por hectare, abaixo da expectativa da entidade, que era de 100 sacas.
O clima hostil levou a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul) a reduzir sua estimativa para a produção de milho safrinha no Estado. Inicialmente, a projeção era de 11,48 milhões de toneladas e caiu para 9,3 milhões de toneladas na previsão mais recente. O número é 34,7% inferior ao colhido na safra 2022/23.
No Paraná, Edmar Gervasio, analista do Departamento de Economia Rural do Estado (Deral), estima perda em torno de 15% na produção do milho safrinha. “Houve um ciclo de estiagem e calor intenso, principalmente no noroeste e no oeste do Estado no início da safra, que culminou com redução da produção”, diz Gervasio.
Segundo Ana Paula Kowalski, técnica do departamento técnico e econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), em algumas regiões a perda na produção chega a 29%. “O norte pioneiro, norte central, noroeste e extremo oeste foram bastante afetados pela falta de chuvas”, afirma.
Ela estima que na safra de verão haverá redução da área plantada de milho, com substituição pela soja, por causa do aumento nos custos de produção, mas não cita um número específico.
Preços
A menor colheita de milho safrinha nessas regiões limitou a queda dos preços, que têm sido pressionados negativamente pela oferta robusta em Mato Grosso e em Goiás. “A quebra segurou a pressão que a colheita provocou sobre os preços. E nessas regiões, onde se produziu menos, tivemos um recuo bem mais discreto nas cotações”, afirma Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado.
Ronaldo Fernandes, da Royal Rural, diz que, apesar da produção menor nesses três Estados, há pressão no mercado interno pelo aumento da colheita em outras regiões. “Além de Mato Grosso, tivemos uma produção relativamente maior no Norte e Nordeste do Brasil, que vai colher 12,3 milhões de toneladas neste ano, acima das 11 milhões do último ano”, diz.