A safra 2024/25 de café no Brasil que está na fase de arranque da colheita nas principais regiões produtoras será determinante para definir com maior precisão a balança entre oferta do grão e demanda mundial. É o que avalia a diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), Vanúsia Nogueira, em conversa com a reportagem nesta quarta-feira (22/5), em Santos (SP), durante seminário internacional que debate estratégias da cadeia cafeicultora.
De acordo com a dirigente, os estoques globais, que passam por um momento de escassez, também dependerão do desempenho da colheita do Brasil, ao passo que a indefinição está diretamente relacionada com o clima.
“Dentro do processo de produção de café no mundo hoje, o Brasil vai ser o fiel da balança”, falou em referência ao potencial do país em determinar o mercado do grão, tanto arábica, quanto robusta.
Ela ressalta que o monitoramento de eventos extremos climáticos será essencial para antever eventuais prejuízos no processo de colheita, ou na reta final de desenvolvimento vegetativo do grão.
“O que estamos vendo é uma estagnação ou declínio de produção em alguns casos de produtores globais, como países da América Central e África Ocidental por causa do clima. Enquanto, assistimos a um aumento de consumo, em especial em mercados emergentes. Isso gera um achatamento entre o consumo, a oferta e a demanda, pressionando os preços. O quão pressionado continuaremos, vai depender muito de como será a safra no Brasil”, explicou.
A crise de oferta global, segundo dados da OIC, se acentua desde o ano passado devido a forte estiagem no Vietnã, principal produtor e exportador de café robusta do mundo. Com isso, os preços dessa variedade do grão despontaram na Bolsa de Londres e atingiram o nível mais alto em 45 anos. Isso respingou no arábica e acelerou a comercialização do Brasil.
Vanúsia, que esteve recentemente na Indonésia para visitar plantações de café, chá e cacau, aposta no diferencial da cafeicultura brasileira, a profissionalização, já que no território asiático, a produção ainda é rudimentar. Ao mesmo tempo que, ao longo dos últimos 20 anos, foi a produção indonésia que ajudou a repor estoques de robusta quando caía a produção na Colômbia, agora a seca na Ásia põe em cheque esse potencial, abrindo oportunidades para o café brasileiro.
“Apesar de o grande diferencial de produção da Indonésia ser o conceito de agrofloresta que já está ‘intrínseco’ na forma como se cultiva café, se comparada à cafeicultura brasileira, falta mecanização”, conta. Para ela, é nesta lacuna que o Brasil pode atuar, abocanhando mais fatias de mercado para comercializar nosso café.
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