O telefone do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, tocou na tarde da última segunda-feira (2). Do outro lado da linha, uma dupla improvável e de campos políticos opostos: os líderes do PL, Altineu Côrtes (RJ), e do PT, Odair Cunha (MG), na Câmara.
Altineu e Odair pediam um encontro em conjunto com Pereira. Uma espécie de reunião de emergência na semana em que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretendia anunciar o candidato à sua sucessão.
No escritório de Pereira, Altineu e Odair defendiam unidade em torno de um nome consensual. O dirigente do Republicanos, ele próprio candidato, fez uma reflexão.
“Existem dois candidatos: um que vocês adoram e outro que vocês odeiam”, disse Pereira, conhecido pelas afirmações francas e diretas.
- O adorado: Antônio Brito (PSD-BA), com ótimo trânsito no governo e na oposição, mas sem respaldo de Lira.
- O desafeto: Elmar Nascimento (União-BA), o preferido de Lira, mas visto com ressalvas por setores da esquerda e da direita.
“E existe o meio do caminho, que sou eu. A saída viável”, completou o presidente do Republicanos.
Para viabilizar Pereira como candidato único, os líderes do PL e do PT tinham um desafio: convencer tanto Lira como Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e fiador político de Brito, a desistir de suas apostas.
O convencimento de Lira não foi complexo. No dia seguinte, o presidente da Casa Legislativa já sinalizava disposição em mudar seu candidato.
Kassab, no entanto, resistiu. Na tentativa de dobrá-lo, até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi escalado.
Na terça-feira (3), Lula chamou Kassab para uma conversa. O presidente sugeriu que o PSD abrisse mão de candidatura própria e apoiasse Pereira.
Kassab, no entanto, resistiu. E disse a Lula que amadureceria a proposta. A resistência ocorre no contexto de uma disputa entre PSD e Republicanos pelo espólio político do PSDB em São Paulo.
Naquele mesmo dia, Pereira foi avisado da resistência de Kassab. E, em uma conversa com o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, decidiu alterar completamente os rumos da eleição legislativa.
Pereira telefonou para Lula e anunciou que abriria mão de sua candidatura. Ele apoiaria, a partir de agora, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB).
“Mas ele não é muito jovem?”, questionou Lula, referindo-se a Motta, um parlamentar que completa 35 anos de idade no próximo dia 11 de setembro e sequer havia iniciado sua carreira política quando o petista cumpria seus dois primeiros mandatos presidenciais.
Pereira, um ex-ministro do governo de Michel Temer (MDB) e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, tentou tranquilizar Lula. Garantiu, entre outras coisas, que Motta não prejudicará a governabilidade e nem abraçará pautas de costumes como prioridade. Seria seu avalista.
Lula só se sentiu mais seguro quando, encerrada a conversa com Pereira, ligou para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. “O que você acha?”, quis saber. Ele deu sinal verde e disse que Motta teria apoio do partido.
Fora do Palácio do Planalto, na oposição, as articulações também avançavam. Paralelamente, Altineu Côrtes e Ciro Nogueira entraram em contato com Jair Bolsonaro (PL).
E também convenceram o ex-presidente a apoiar Motta.
No início da noite de terça-feira, com acenos favoráveis do PT e do PL, Pereira conversou com Lira. O presidente da Câmara dos Deputados reagiu com surpresa à decisão, mas concordou. Motta é aliado de longa data de Lira.
No dia seguinte, na quarta-feira (4), Brito e Elmar foram informados da reviravolta. E, segundo aliados de ambos, sentiram-se traídos. Os dois se reuniram e decidiram manter suas candidaturas, mesmo diante de um cenário adverso.
Em menos de 24 horas, Motta recebeu acenos de apoio de partidos como PT, PL, MDB e PP. As quatro siglas, junto com o Republicanos, somam 310 deputados federais.
Ele precisa de 257 votos para se eleger.
No quarto mandato como deputado federal, Motta é visto por colegas da direita e da esquerda, do governo e da oposição, de quase todo o Centrão, como um parlamentar conciliador e capaz de dialogar com todos os campos.
Com a mudança de cenário, Lira adiou o anúncio de seu apoio para a próxima semana. Elmar e Britto se reuniram com Kassab. O acordo foi que ambos devem se unir em uma frente única contra Motta.
Lula, no entanto, não quer uma divisão de forças. E espera que Lira convença Elmar a desistir.
A aposta do Palácio do Planalto é que, com a retirada de Elmar do páreo, Britto também desista.
Lira deve se reunir com Elmar no início da próxima semana. E Lula pretende conversar novamente com Kassab. É um esforço concentrado, como se costuma dizer na Câmara, para eleger Motta