Morango, uma camada de brigadeiro branco e outra de caramelo com corante vermelho. Essa combinação, chamada “morango do amor“, é uma releitura do clássico doce junino “maçã do amor” e virou uma verdadeira febre nas redes sociais nas últimas semanas. Diante do fenômeno, confeitarias do Brasil viram seu faturamento e vendas mais do que duplicarem neste mês.
Porém, apesar da aparência atrativa e do sabor que, para muitos, é irresistível, especialistas estão preocupados com os efeitos do doce viral para a saúde bucal. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) emitiu um alerta sobre os riscos do consumo do morango do amor para a saúde de dentes e de danificar próteses e aparelhos ortodônticos.
“A casquinha externa do ‘morango do amor’ é dura e pode quebrar dentes e restaurações em geral. Esse quadro fica ainda mais sensível em caso de haver restaurações extensas, especialmente nos dentes da frente, sendo necessário cuidado redobrado”, afirma o comunicado.
Para quem deseja comer o doce, o CFO orienta escolher as partes mais finas do caramelo no momento da mordida com os dentes incisivos [da parte da frente]. “Durante a mastigação, use os molares [da região do meio], que são mais fortes e possuem a função de triturar os alimentos. O ideal, no entanto, é usar uma faca para partir a casquinha caramelada e colocar pedaços pequenos dentro da boca, de forma que sejam minimizados os riscos”, orienta.
Além disso, o CFO reitera que pacientes com facetas, próteses e aparelhos ortodônticos não devem ingerir alimentos duros e pegajosos como o morango do amor.
“Dependendo do acidente, é possível haver danos irreversíveis aos dispositivos, que podem ser arrancados da boca por ficarem grudados ao doce. Além disso, ao serem danificados, eles podem provocar lesões na cavidade oral. Dessa forma, a indicação dos cirurgiões-dentistas é que esses pacientes não consumam o “morango do amor”, assim como outros alimentos com características semelhantes”, afirma o comunicado.
A conselheira do CFO, Bianca Zambiasi, esclarece que, mesmo com todos os cuidados, se o paciente ainda sofrer algum tipo de acidente ao comer um “morango do amor”, é importante buscar um consultório odontológico de forma imediata.
“É fundamental reforçar que pacientes com aparelhos ortodônticos, lentes, facetas e próteses em geral não devem ingerir alimentos duros e pegajosos. Os demais pacientes também não estão isentos do risco de acidentes e devem tomar cuidados na mordida e mastigação. E, havendo acidentes, devem procurar pelo cirurgião-dentista quanto antes, para ser realizado o atendimento de urgência”, pontua.
Consumo em excesso do doce também traz riscos metabólicos e para a pele
Além dos riscos à saúde bucal, o consumo em excesso do morango do amor pode trazer prejuízos ao metabolismo, de acordo com o médico Rodrigo Schröder, pós-graduado em Nutrologia Esportiva e Medicina do Esporte.
“A receita inclui brigadeiro branco feito com leite condensado, creme de leite, leite em pó e manteiga, que depois é envolto por uma calda dura de açúcar refinado com corante alimentício. Ou seja, temos aqui três camadas de estímulo dopaminérgico, glicação e inflamação — tudo isso disfarçado com uma fruta no centro”, avalia o especialista.
De acordo com Schröder, uma única unidade do doce pode conter mais de 300 kcal e ultrapassar a quantidade de açúcar de uma lata de refrigerante. “A grande armadilha é o apelo afetivo e visual. Como há um morango no meio, muitas pessoas o associam à ideia de ser ‘menos pior’ ou ‘natural’. Mas, na prática, esse tipo de sobremesa reforça um padrão nocivo: usar açúcar para anestesiar emoção, ansiedade e carência afetiva”, explica o especialista.
O consumo excessivo de açúcar também favorece o aumento de gordura corporal total e gordura visceral, localizada entre os órgãos, aumentando o risco de diabetes, infarto e acidente vascular cerebral (AVC), de acordo com Deborah Beranger, endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio De Janeiro (SCMRJ).
“O problema está no consumo frequente, na falsa ideia de que se trata apenas de uma frutinha e na invisibilidade de seus impactos metabólicos. Embora carregue uma fruta no centro, o morango do amor se comporta mais como uma guloseima calórica do que como um alimento funcional”, destaca Marcella Garcez, nutróloga e docente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
A pele também pode sofrer os efeitos do consumo excessivo de açúcar. “Alguns alimentos podem potencializar um quadro inflamatório ou até mesmo aumentar a oleosidade da pele. A alimentação rica em alimentos ultraprocessados, com açúcar, ácidos graxos (gorduras) saturados, com alto índice glicêmico, pode desencadear ou agravar o quadro de acne nos indivíduos predispostos ao desenvolvimento da doença”, afirma Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
“Mas, claro, que sempre devemos levar em consideração a quantidade e a frequência dos alimentos ingeridos. Os ‘maus alimentos’ devem ser a exceção e não a regra”, acrescenta a dermatologista.