Apostar em plantas de cobertura para devolver ao solo aquilo que as lavouras retiraram ao longo de anos de plantio. Com esse objetivo, os agricultores familiares mineiros Rogério Morais Barroso e Daniel Capella instalaram em suas terras no final de 2024 uma unidade demonstrativa do Projeto Construindo Solos Saudáveis da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).
Barroso plantou crotalárias, trigo mourisco, nabo forrageiro, milheto e guandu em um hectare de café em sua propriedade em Careaçu, no sul de Minas Gerais. Após serem roçadas, as plantas permaneceram no solo, formando uma palhada protetora que favorece o sistema de plantio direto, permitindo que a semeadura do cultivo principal ocorra sobre a palha, sem necessidade de aração ou gradagem, evitando o revolvimento do terreno e preservando a estrutura e fertilidade do solo.
“A massa orgânica gerada por essas plantas de cobertura é impressionante. Além de melhorar o solo, essas plantas de cobertura também acabaram com o problema que eu tinha com ervas daninhas. E ainda vou controlar a erosão, melhorar a fertilização e diminuir o calor do solo”, disse Barroso, que pretende expandir o sistema para toda a área de café e para os 55 hectares onde planta milho para silagem.
Na roça de Capella, produtor de 25 variedades de hortaliças no sistema orgânico em Itatiaiuçu, quatro canteiros de dez metros quadrados cada um. Três receberam um mix de plantas de cobertura e outro ficou sem cobertura para comparação. Ele nunca tinha usado cobertura no solo, mas se animou bastante com os resultados e planeja expandir a técnica para seus 2,5 hectares de plantio.
“Quando fui plantar as hortaliças nos canteiros com cobertura, observei que a terra ficou bem porosa, fácil de usar a enxada e de fazer o plantio. Já no canteiro testemunha tive que usar tratorzinho para conseguir plantar.”
Além da porosidade do solo, o agricultor disse que viu uma grande diferença na temperatura: 41 graus na área descoberta e 26 graus na área coberta. Também foi surpresa o acúmulo de matéria orgânica, de até 8 kg por metro quadrado, e a redução da incidência de ervas daninhas.
“Só vi vantagens. Com a expansão do sistema para toda propriedade, vou reduzir o uso do trator e da capina em até 80% e também usar menos água para irrigar as plantas”, diz Capella, que realizou o sonho de se tornar produtor rural na pandemia, quando teve que fechar sua loja de informática na cidade. No dia 11 de março, ele vai abrir seu sítio para a realização pela Emater de um Dia de Campo.
Sustentabilidade
Desde 2021, início do projeto, foram implantadas 1.800 unidades demonstrativas em todas as regiões de Minas Gerais, sendo 1.000 de novembro de 2024 a fevereiro deste ano.
Kleso Franco Júnior, coordenador técnico da Emater-MG, explica que a qualidade do solo é essencial para uma produção agrícola eficiente e sustentável. Um terreno bem nutrido, poroso e com boa disponibilidade de água contribui para altas produtividades e ajuda a enfrentar os momentos mais difíceis provocados pelas mudanças climáticas
Segundo o coordenador, as plantas de cobertura deixam a terra mais fértil, reduzem a erosão, aumentam a porosidade e favorecem a infiltração de água. Elas são cultivadas em consórcio com culturas comerciais como café, frutas, hortaliças e grãos.
A seleção de áreas para as instalações das UDs pela Emater considera fatores como acessibilidade, potencial produtivo e oportunidades para realização de eventos técnicos como Dias de Campo para demonstração da tecnologia.
As sementes são doadas pela empresa Ag Croppers, parceira do projeto. Cabe à Emater selecionar as propriedades e fazer o acompanhamento técnico para instalação gratuita das unidades de 1.000 a 1.500 metros. Se o agricultor quiser expandir o plantio de cobertura, deve comprar as sementes no mercado.
Em 2025, além do Dia de Campo na propriedade de Capella, está prevista a realização de mais 99 eventos semelhantes para mostrar aos produtores, na prática, os benefícios das plantas de cobertura, além de outras tecnologias sustentáveis.