Resistência a pragas, tolerância a herbicidas e alta produtividade. São as promessas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação Meridional para as novas cultivares de soja lançadas neste mês, frutos de parceria entre as duas instituições. A BRS 2361 I2X e a BRS 2058 foram anunciadas durante o Show Rural Coopavel, no início deste mês, e já estão à disposição dos produtores rurais nas revendas agropecuárias, como opção para a safra 2025/26.
O analista da Embrapa Soja, Rogério Borges, explica que a BRS 2361 I2X chegou a produzir acima de 5 toneladas por hectare em testes de avaliação realizados no Paraná. Acima da média estimada para o Estado na safra 2024/25, que é de 3,69 toneladas por hectare, conforme projeção do Departamento de Economia Rural (Deral). Já a BRS 2058 I2X apresenta ampla adaptabilidade à Região Sul e ao Estado de São Paulo.
“No programa de melhoramento genético, buscamos aliar produtividade, sanidade e estabilidade produtiva. A estabilidade produtiva é a característica que normalmente faz com que as cultivares tenham a preferência dos produtores”, observa.
Borges argumenta que há no mercado variedades com potencial muito grande de produção para condições climáticas consideradas ótimas. Porém, apresentam pouca estabilidade em caso de variações do clima, como estresse hídrico, quando podem ter a capacidade produtiva comprometida.
Sanidade
Segundo os parceiros, as cultivares demonstraram resistência às principais doenças da soja – cancro da haste, pústula bacteriana e podridão radicular de Phytophthora – e moderada resistência à mancha-olho-de rã. “A soja é suscetível a essas doenças, que podem trazer transtorno ao produtor, causando perdas significativas”, avalia o pesquisador.
De maneira mais detalhada, segundo os pesquisadores da Embrapa Soja, a BRS 2361 I2X pertence ao grupo de maturidade 6.1, com ciclo médio de 120 dias, nos ambientes testados, e apresenta maior potencial produtivo em altitudes acima de 600 metros do Paraná e São Paulo.
Já a BRS 2058 I2X também apontou elevados tetos de produtividade em testes de campo, especialmente em altitudes acima de 650 metros. É uma cultivar do grupo de maturidade 5.8, com ciclo médio de 125 dias, sendo indicada para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Borges conta que há sementeiros multiplicando, nesta safra, as sementes que serão comercializadas para a próxima, com início em setembro em algumas regiões.
O analista explica que as mudanças climáticas desafio das variações climáticas entre as principais regiões produtoras da oleaginosa no país desafiam a pesquisa. Os novos materiais só são lançados após apresentar resultados consistentes, amparados por análises estatísticas, podendo levar até dez anos para o lançamento.
“A lógica do programa de melhoramento é testar as novas cultivares em regiões, condições ambientais e ciclos diferentes e comparar com as principais variedades de mercado”, salienta.
A base para o desenvolvimento de novas cultivares está no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa. Criado em 1976, passou por diversas ampliações e hoje é o segundo maior banco de sementes de soja do mundo. A coleção tem aproximadamente 65 mil acessos (tipos de soja) introduzidos da coleção dos Estados Unidos e de outros países da África, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania.
“O BAG, mantido pela Embrapa, é responsável por guardar a variabilidade genética da soja. Quanto mais acessos diferentes e caracterizados, melhor é a utilização nos programas de melhoramento para desenvolvimento de novas variedades”, esclarece o pesquisador Marcelo Fernandes.
Divania de Lima, também pesquisadora da Embrapa Soja, explica que os genes são mapeados e podem ou não ser utilizados em cruzamentos para a criação de novas cultivares: “a necessidade de guardar esse pool genético é justamente para que a gente tire dele o que tem de melhor”.