Sinônimo de refrescância, a água de coco é quase uma unanimidade nos dias de calor intenso. Nos meses de inverno, porém, a queda na comercialização do produto pode chegar a 80%, conforme o Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil (Sindicoco). A maior redução ocorre nas regiões Sul e Sudeste, principal mercado da água de coco. Ainda assim, a produção no campo não para.
Em Petrolândia (PE), município que assumiu a liderança nacional na produção de coco – conforme os dados da Produção Agrícola Municipal (PAM) divulgados neste mês pelo IBGE -, o produtor Bruno Alves da Silva tem uma fórmula para minimizar os efeitos da sazonalidade: eficiência na operação e destinação dos frutos dividida entre a indústria e o comércio.
“É vital manter esse modelo híbrido, porque se comercializar somente o coco in natura, para consumo de água de coco no fruto, o produtor perderá muito durante o período mais frio”, comenta. Parceiro da PepsiCo, ele direciona 60% da produção de coco verde para a fábrica da Kero Coco, marca da companhia em Petrolina, e tem a compra garantida durante o ano todo.
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Na propriedade de Bruno, onde a produção de cebola é a atividade principal há 40 anos, a cocoicultura foi introduzida em 2016. Ele destina pouco mais de 200 hectares para o coqueiral e tem atualmente em torno de 50 hectares da plantação em fase produtiva. Com produtividade média de 400 frutos por planta, ele calcula que na safra 2024 foram produzidos na área 3,5 milhões de frutos.
“A região é bem consolidada na produção de coco e decidimos incorporá-la em nosso portfólio produtivo para a diversificação de cultura”, conta o produtor. Segundo ele, a estratégia foi adotada visando também a diversificação do risco, relacionado principalmente às condições climáticas: “as duas culturas não têm os mesmos pontos fracos, enquanto uma precisa de chuva a outra não, então, em algum lado a gente vai ganhar”.
Sobre a sazonalidade para a produção do coco, Bruno ilustra com a divisão do negócio em três quadrimestres no ano: “de novembro a fevereiro, o produtor ganha dinheiro. Verão e praia aumentam muito o consumo da água de coco”.
Entre março e abril e setembro e outubro, o produtor “empata” custos e ganhos, e no quadrimestre dos meses mais frios, de maio a agosto, o produtor fica no prejuízo. “Por isso, o contrato com a indústria é extremamente importante, pois ela continua comprando a produção, mesmo que com preço mais baixo”, avalia.
Reflexo
Francisco Nunes, produtor e vice-presidente do Sindicoco, aponta que o período de frio compromete toda a cadeia produtiva ligada ao coco verde, repercutindo até mesmo no consumo na região Nordeste. O sindicato ainda não tem dados referentes ao inverno de 2025, que terminou no dia 22 de setembro e registrou temperaturas menores em comparação com anos anteriores.
“Como a produção do fruto não para, muitos produtores acabam migrando para a produção do coco seco”, explica. E acrescenta: “o coco é a única cultura que possui 1.010 produtos derivados no supermercado, como leite de coco, coco ralado, sabão e óleo de coco, cocada, bolachas etc.”
De acordo com dados do Sindicoco, somente o setor de agroindústria do coco emprega atualmente em torno de 250 pessoas no Vale do São Francisco. Na área produtiva, há em média 1,5 trabalhador por hectare, num total de 6 mil hectares de plantações de coco na região.
Petrolândia ocupa a liderança na produção de coco com 162 mil toneladas e movimentação de R$ 113,4 milhões em 2024, conforme a PAM. O município superou a Paraipaba (CE), que manteve a liderança por quatro anos consecutivos e agora ocupa a segunda colocação entre os maiores produtores do fruto, com 155,9 mil toneladas. O ranking dos estados com maior produção de coco tem o Ceará na liderança, com 588,5 mil toneladas, seguido da Bahia (360 mil toneladas).
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Perfil
Francisco Nunes, do Sindicoco, enfatiza que a cultura do coco é uma das que melhor representa o pequeno produtor no Brasil. “Cada plantação tem em média 2,5 hectares, com faturamento a cada 40 dias. Nenhum outro segmento proporciona esse tipo de rentabilidade”, observa. Nunes adverte que esse processo ganha estabilidade a partir do quarto ano de cultivo e que o coqueiral pode durar entre 30 anos a 40 anos.
Na propriedade dele, que fica em Petrolina, são 8 hectares para produção de coco, que gira em torno de 600 mil frutos por ano. Ele também mantém uma agroindústria para envasar a água de coco, com produção de 25 mil a 30 mil litros do produto por mês. Para isso, ele utiliza o coco produzido na área própria e também compra de pequenos produtores, totalizando em torno de 200 mil cocos por mês para a fábrica.
Na fábrica da Kero Coco, líder do setor na região, a administração informou, por meio da assessoria de imprensa, que “a produção e consumo de Kero Coco estão em crescimento expressivo nas áreas-foco do produto”. A companhia não informa dados de produção e faturamento por estar em “período de silêncio”.